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Meu Piloto Dominante
5.0
Comentário(s)
381
Leituras
5
Capítulo

Sendo contra a todos os planos que seus pais fizeram desde criança, Robbie decide seguir seu sonho e tentar um lugar na empresa de Victor Krum. Apaixonada pela aviação, consegue entrar na empresa e acaba numa desilusão amorosa. Entretanto, tudo muda após um acidente aéreo, onde acabam em uma ilha deserta, junto com poucos tripulantes.

Capítulo 1 Você sabe o que tem que fazer

Quando era criança, descobri que tinha medo de altura. Era um medo, uma sensação, que começava nos pés e subia pelas pernas, se instaurando no abdomên antes de terminar de se espalhar pelo corpo.

A primeira vez que precisei e que descobri que a altura poderia ser futuramente um problema, foi num dia de verão, numa prancha acima de uma piscina com outras crianças.

Meu corpo todo estava gelado e minhas mãos suavam de um jeito estanho. Na beira da piscina, estava minhas mães, em baixo de um guarda-sol, me motivando a pular.

- Só é pular - disse minha primeira mãe.

- Não tenha medo - disse a outra mãe.

Havia uma pequena fila de crianças atrás de mim, murmurando, ordenando praticamente que pulasse. E eu pulei.

Um salto improvisado, porém perfeito aos olhos de uma das minhas mães.

- Mãe, eu pulei! - digo sorrindo, ao voltar para a superfície.

- Eu vi! E seu salto foi...maravilhoso!

Minha outra mãe se aproxima com um sorriso contido.

- Também não foi assim.

- Fala assim por quê não entende - Ela se agacha na minha frente - Você foi ótima e pode ser melhor ainda se você se esforçar - Sustento seu olhar sem entender bem suas palavras - Tá bom? - Assinto, sem saber que estava assinando minha sentença.

Erguendo os braços acima da cabeça, respiro fundo e me atiro no vazio a frente, conseguindo que meu corpo desse giros no ar, antes de atingir a agua e ser envolvida pela água.

- Chama isso de salto? - A treinadora Robert pergunta, quando saio da piscina - Pode fazer melhor, Robbie, sabe que pode - Me coloco na frente dela, com meu corpo pingando - Engordou? - Franzo o cenho olhando para meu corpo no em um maiô preto.

- Hã. Não.

- Não adianta mentir, Robbie. Dá pra ver as gorduras localizadas. Os famosos pneuzinhos - Ela olha ao nosso redor, voltando a me olhar após concluir que ninguém estava prestando atenção na conversa - Sabe muito bem que esse não é o físico adequado para pessoas como... você.

Dos meus 7 anos até minha idade atual, praticamente cresci ouvindo aquele aviso nos bastidores. Tecnicamente meu corpo não podia se desenvolver, havia uma porcentagem na qual minha massa corporal deveria ficar abaixo.

- Você já sabe o que tem que fazer - diz antes de ir até um grupo que se aproximava.

Infelismente sabia o que precisava fazer, apesar de me sentir no piloto automático, era o que precisava ser feito se quisesse continuar competindo.

Os saltos seguintes foram recheados de de orientações, seguidas por gestos e longos sons de apitos. Assim como minha mãe Leah, a treinadora Robert, queria que chegasse o mais próximo da perfeição.

Todos os minutos, segundos, importavam, já que a competição poderia mudar completamente minha vida, meu futuro.

Então era mais do que minha obrigação, me sobressair, continuar sendo destaque e a estrela de Marin County.

O treino continuou por mais duas horas e meia, até a treinadora encerrar o dia com uma série de recomendações que, deviam ser acatadas à risca durante aqueles três dias.

- Oi! - diz Leah, quando me aproximo do carro, abrindo a porta do carona - Como foi hoje?

- A mesma coisa de sempre. A treinadora pegando no meu pé - Respondo o que sempre costumava responder.

Ela suspira, dando partida no carro.

- Ela faz isso para o seu bem - E sempre recebia a mesma resposta - Assim como eu, só quer que você consiga o que tanto quer.

Saltar de uma prancha, metros acima de uma piscina, nunca esteve em meus planos, pelo menos era até onde me lembrava.

Estar na água, numa esteve entre minhas opções pelo o que queria ser quando crescesse.

Leah assim como a treinadora Robert, era treinadora. Treinadora do time de voleibol feminino.

Foi na escola que conheceu minha mãe, que na época era diretora, havia acabado de ser transferida para lá. Inicialmente, a via como uma professora asiática que levava sua cultura e religião a sério. Pelo menos para mim, nunca imaginei que um dia a teria fazendo parte da minha família.

Algo começou a florescer entre Leah e Maggie e, fui a última a perceber isso, já que como uma criança, vivia em meu próprio mundo, acreditando que meu pai, que nunca havia conhecido, chegaria a qualquer momento do exército.

Ele nunca chegou. Mas ganhei outra mãe.

Por uma parte, para mim, foi fácil de entender que teria mais uma mãe e estranho de explicar para outras crianças o por quê que tinha duas mães.

No início, houve um certo bullyng, em cima disso. Piadas que uma criança não entendia a gravidade.

Até que chegou um determinado momento, que ser a filha da diretora e da treinadora já não era o suficiente e que qualquer coisa que conseguisse me fazer me sobressair, seria válido.

Então mesmo com sonhos bobos de criança, deixei tudo de lado para fazer o que me deixaria em evidência. O quê quer que fosse.

Gostava de pensar que morávamos na praia, por parte morávamos, mesmo não tendo o mar como quintal, mas por ter crescido em uma praia não muito longe de casa.

Foi lá onde Maggie me ensinou a fazer castelo de areia e colar de conchas. Sempre dizendo que éramos feitas de areia e sal. Diferente de Leah, Maggie era o exemplo quase fiel de um hippie. Seus ensinamentos sempre foram baseados no amor e na natureza ao nosso redor.

Voltar para casa devia transmitir a sensação de estar em um campo neutro. Só que não era bem essa a sensação que tinha ao voltar para casa. Sentia que todas as expectativas do mundo, estavam sobre mim e qualquer deslize, poderia por tudo a perder. Pelo menos, tudo que havia construído.

Após deixar as chaves no aparador, Leah vai até a cozinha, parando por lá por alguns segundos, olhando com atenção o cômodo vazio.

- Que tal pizza hoje? - pergunta, se virando para mim no momento em que vou subir os degraus da escada.

- Hoje é quarta e é dia de tacos - Lembro.

- E já deviam estar quase prontos - murmura, voltando os olhos para o balcão.

O fato do jantar não estar pronto e Maggie não estar por ali, não era um fato anormal para mim. Depois que praticamente minha mãe pediu demissão poucas semanas atrás, alegando que era contra algumas regras estudantil, começou a se concentrar no que acreditava ser importante no momento: entrar para o Greenpeace.

Aos olhos de qualquer pessoa que não conhecia Maggie, acreditaria que era uma loucura, e que as dez organizações não governamentais já fosse o suficiente. Mas eu, que cresci a ouvindo falar de como a natureza era importante e em como deveríamos ser gratos à ela, sabia que estava apenas correndo atrás de seus sonhos.

E não a julgava por isto. Pelo menos não estava desperdiçando seu tempo com algo que sentia que não iria muito longe.

- Com certeza ela já deve estar vindo com a comida - digo voltando a subir os degraus da escada, deixando Leah parada no mesmo lugar.

Abrindo a porta do meu quarto, solto o ar dos pulmões ao inalar meu próprio perfume e perder alguns segundos olhando para os posters grudados na parede.

A decoração era a mais aleatória possível, com cores por todo lado, mas principalmente com luzes que lembravam pisca-pisca em árvore de natal.

Gostava do brilho deles, sentia como se todos os dias fosse o dia que mais gostava ano.

Me aproximo da gaiola vermelha perto da janela, sorrindo para o furão preto com tons de branco espalhado pelo corpo.

- Oi, amiguinho - murmuro, enfiando o dedo indicador entre as grades pequenas. Abu havia sido resgatado por Maggie e posteriormente adotado, sendo entregue a mim a responsabilidade de cuidar dele.

Deixando minha mochila de lado, paro em frente do espelho quase que automáticamente, analisando a imagem refletida.

Se me perguntassem o quê via, responderia sem hesitar que uma mulher negra de 22 anos de corpo mediano. Por outro lado, uma mulher negra, que ainda precisava procurava seu espaço na sociedade e que deveria estar correndo atrás de seus sonhos.

Passo as mãos pelo corpo, principalmente pelo abdomên, notando só então que a treinadora Robert deveria ter razão. Então para tirar de uma vez a prova dos nove, vou até a balança digital no banheiro e acabo constatando que havia engordado quatros quilos.

Meus olhos vagam pelo vazio, enquanto me lembro exatamente que nas últimas semanas, havia simplesmente deixado de me policiar. Comia tudo que via pela frente, sem ao menos me importar com a quantidade que estava sendo ingerida.

Atribuía isso facilmente a ansiedade. Ela me obrigava a comer descontroladamente, como se não houvesse o amanhã e depois despertar vários sentimentos em meu corpo.

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