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Capítulo

Ismael entrou no bar, pediu uma cachaça e um cigarro barato. Naquela tarde, tudo o que ele queria era afogar a dor de corno. O jovem nem pensou que o rumo da sua vida poderia mudar depois de pedir um isqueiro emprestado. Conversa vai e conversa vem; um jogo de porrinha e uma aposta indecente. Os caras jamais pensaram que um caso de uma noite pudesse ficar tão sério. Porém para dar certo Ismael tem que esquecer a ex-namorada e Rodolfo precisa superar seus preconceitos. Será que é possível? Eu te conto, mas ó… silêncio. Tem que ser tudo no sigilo.

Capítulo 1 Pós-festa

Não consegui dormir. Passei o restante da noite virando de um lado para o outro da cama. Pensei em muitas formas de dar um gran finale para a história com a Bia, mas acho que nenhum desses servem. A ideia de dar o troco na mesma proporção não me é uma opção agora, pois tudo que eu menos quero é que ela diga que eu também fui cretino. Pelo contrário. Quero colocar a dúvida na cabeça dela, quero que ela se arrependa e entenda que passei pela vida dela não como "mais um cara", mas "o cara". Quero que ela lembre, para sempre, de mim como o homem que ela traiu sem nenhum motivo aparente.

Dei a ela tudo que pude e que as circunstâncias pediram. Carinho, farras, companherismo, muito sexo e uma dose de putaria, para no final ela me recompensar daquela forma. Que ela sinta a dor na consciência. Se é que piriguete tem consciência. Sei que a minha está e permanecerá tranquila.

Acordo pela manhã com um pouco de dor de cabeça. Não escutei o celular alarmar. Também podera. Cochilei quando deveria estar acordando. Pensar na vida também cansa.

Às dez da manhã envio uma mensagem para minha supervisora informando que estou com enxaqueca e que ainda não tive tempo de ir a uma emergência para conseguir um atestado médico.

Sinto que estou na corda bamba lá no trabalho, mas não consigo agir diferente. Este é o meu normal.

Respiro fundo.

— Você está com uma cara péssima, querido.

— Eu sei, mãe. Desculpa por estar te obrigando a me ver assim.

— O que aconteceu? Não foi trabalhar por quê? - ela me abraçou.

— Estou com muita dor de cabeça. – e choro.

Meu corpo já não tem mais espaço para tantos pensamentos. Sinto como se minha cabeça fosse explodir a qualquer momento. Tudo que eu mais quero é apagar e acordar quando todas as dores cessarem. Nunca pensei que ser traído fosse tão sufocante.

— O que aconteceu Ismael?

— Nada.

— Não conheço alguém que chore por nada. Quem fez o quê?

— Você sabe que tenho problemas hormonais. Sabe do meu histerismo. Emoções inconstantes são normais para mim.

— Você nunca foi a um médico especialista. Como posso dizer que é isso que falou? Não gosto de te ver chorando. Me parte o coração.

Juro como eu gostaria de pedir a ela pra calar a boca. Tudo passa. Estas lágrimas também secarão. Assim espero.

O último soluço me conforta. Passo agora a ver tudo por um outro ângulo.

Sem muita "volta", saio dos braços de minha mãe. Não é tão difícil, ela ainda tem o que fazer.

Consigo o atestado às 15 horas sem problema algum.

Acho que preciso tomar uma dose de cana. Quero amortecer essa dor que parece não sarar.

Saio do hospital e entro em um desses botecos sujos.

— Tem tequila? – pergunto.

— Aqui só tem bebida pra homem.

— Preparou o bar pro seu?

— Se for arrumar confusão, pode ir dando meia volta.

— Me vê uma dose da cachaça mais pau no cu que tu tem ai.

— Ta com desgosto camarada? – o homem do balcão pergunta enquanto despeja a dose no copo.

— Tem descartável?

— Macho tu entrou no lugar errado. Isso aqui não é ambiente pra tu não.

— Me traz um copo descartável. – peço após ver um bêbado ao meu lado com a boca cheia de ferida.

— Aqui.

Tomo tudo sem fazer careta.

— Mais uma.

— Cuidado com essa aqui que ela é "porreta".

O cheiro de cigarro me atrai. Engasgar com a fumaça quando estou irritado é uma otima forma de acalmar.

— Me vê uma carteira do seu pior cigarro. Quero o mais "vagabundo" de todos — Tem isqueiro? – pergunto após estar com o maço de cigarro em mãos.

— Acabou o gás do único que eu tinha.

Vou até a mesa onde estão conversando dois homens desse tipo que tem cara de pobre. Um branco de pele avermelhada, creio que pelo excesso de sol, e o outro mais alto e moreno. O "brancoso" tem a pobreza mais acentuada na face.

— Vocês têm isqueiro?

— Não fumo camarada. – o moreno responde.

— Pega ai. – o outro retira o isqueiro do bolso. — Aproveita e senta com a gente. Percebi que ta sozinho na sofrência ali no balcão.

— Valeu. – agradeço.

— Diga lá. Qual seu nome?

— Ismael.

— O meu é Chico e esse "poste" aqui é o Rodolfo.

Conversar com estranhos simpáticos é uma ótima maneira de desviar a atenção do ocorrido.

— E você costuma beber daquele jeito mesmo? – Chico parece mais comunicativo.

— Sim. Quer dizer: "não". Melhor eu falar, caso contrário não vou melhorar. Estou assim por conta de uma garota. Ela me decepcionou muito. Ainda não sei o que vou fazer com ela. Até o momento, tudo que sei é que não a quero mais.

— Sei bem o que é decepção. – Rodolfo parece que se identificou — Comecei a trabalhar para uma mulher há alguns meses. Uma bela mulher, que me veio com belas propostas. Ganhos fabulosos em curto tempo e quase nada de esforço. Por ela eu deixei passar grandes oportunidades e ontem descobri que fui um objeto nas mãos dela. Não sei se amor ou paixão ou putaria, mas ela foi o primeiro sentimento forte que senti por uma mulher. A primeira mulher que me completou.

— Completou? – não compreendi.

— O camarada aí descobriu o que era preenchimento com uma "dona" meio vadia. — Chico solta uma risada fraca.

— Digamos que ela soube o que fazer na hora certa.

— Tu era virgem?

— Não. – Rodolfo ri — Na verdade, eu ja havia trepado com homens e mulheres e nunca soube o que era gozar.

— O que ela fez de diferente? – pergunto curioso.

— O camarada ai gosta de uma dedada. – Chico sabe que o outro não vai ter coragem de se abrir tanto.

— Vai tomar no seu cu, Chico. Tá tirando sarro, mas aguentou meu pau todo no seu cu e gozou e eu não. – toma a cerveja do copo — Dentro de um banheiro químico.

— Por que fizeram isso? – perguntei. — São gays?

— Apostas meu "caro". - Chico respondeu - E voce havia dito que nunca contaria essa "porra" pra alguem. – olha pro amigo.

— Para quem o Ismael iria contar? – Rodolfo está certo que eu não tenho nenhum contato com o grupo social deles.

— Podem ficar tranquilos. Sou bom com segredos.

— E você já deu o cu?

— Não, Chico. – dou uma risada sem jeito — Só comi. Não é minha praia não.

— Depois que você dá uma vez, vira vício. O custo é gostar. Vira e mexe eu to me trocando com esse viado meu amigo. – e bate de leve nas costas do outro. — Agora que sabe, espero nao precisar te calar.

— Exagero dele. – Rodolfo sorri.

— Vocês querem cigarro? – pergunto acendendo outro cigarro.

— Nem eu fumo uma "porra" dessa. – o comentario de Chico me da um choque.

— Pedi o mais vagabundo.

— Esse ai passa disso.

— Onde a sua garota está agora? – Rodolfo pergunta.

— Provavelmente procurando um novo "idiota".

— Melhor mudarmos de assunto. Passado é passado. Vamos brincar de "porrinha".

— Não sei o que é. – digo.

— Escondemos os palitinhos de dente nas mãos e mostramos eles após darmos nosso palpite entre impar ou par. Jogo de adivinhação.

— Tá legal.

— O que vamos apostar?

— Tô liso aqui. Primeira rodada. Se ganharmos, eu ou meu camarada, te pagamos dez reais, se ganharmos você vai ter que deixar o vencedor gozar na sua boca.

— Aposta sem cabimento essa sua. – digo me sentindo tímido..

— Uma alternativa para você. E ainda pode sair 20 reais mais rico.

— Tá bom. – aceito o desafio.

Elimino Rodolfo na primeira jogada. Pura sorte. E ganho do amigo "camarão" após uma breve tentativa de adivinhação.

Estou confiante e por isso pago mais duas terças de cachaça. Só espero que minha capacidade de raciocínio não diminua.

Abrimos mais uma rodada. Ganho a partida e contabilizo quarenta reais em caixa.

Perco a terceira na primeira jogada e ganho a quarta partida eliminando Chico e Rodolfo, nesta ordem.

A confiança me sobe a cabeça. Sorte aliada a uma capacidade de raciocínio fora do comum não fazem muito bem a um ser humano, ainda mais se ele estiver bebado.

Peço um burrinho de cachaça

— Vamos parar por aqui. – Chico avisa. — Caso contrario não terei grana para pagar nem minhas cervejas. – e ele ri.

— Vamos a última. – peço

— Não temos mais o que apostar.

— Ainda possuem cu. Não possuem? – já tô mais jogado depois de embriagado.

— Não camarada. Da última vez que perdi, fiquei uma semana sem conseguir "cagar" direito.

— Se vocês perderam, como os dois.

— Gulosinho né. – Chico ri.

— E se perder? – Rodolfo quer saber — Comemos você?

— Os dois não. Somente o vencedor. To “legalzinho”, mas ainda não cheguei ao estado de embriaguez extrema não.

— Topo! – Rodolfo parece determinado.

Olho para Chico.

— Fazer o que né? Vamo lá.

Mãos para trás da cadeira. Preparo três palitos. Primeira jogada, Chico está fora.

— Não me decepcione, Rodolfo. – ele pede já com a testa suada.

Olho no olho. Estamos em um momento decisivo. Penso em par, mas na dúvida troco para ímpar. "Uma, duas, meia e já!"

Eu deveria ter ficado com "par". O sorriso malicioso de Rodolfo assusta um pouco. Nunca me senti ameaçado da forma que estou. Hora de trapacear. Como fugir deles? Não. Dei minha palavra, preciso cumpri-la agora. Não preciso me preocupar tanto. O álcool me serve um pouco como anestésico.

— Posso ficar de plateia?

— Não mesmo, Chico. Agora é entre eu e Rodolfo. Onde fica o motel mais próximo? – tô tentando manter o pouco de dignidade que ainda me resta.

— Na rua de trás. – Rodolfo responde.

— Quem aqui tem transporte? – pergunto.

— To de carro. – meu “algoz” está em alerta.

— Vamos lá. – levanto da mesa.

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