O autor Assis Silva reuniu diversas histórias muito engraçadas e as transformou contos, dando um presente aos seus leitores que gostam de histórias humoradas.
Os dez contos selecionados apresentam um toque de humor, que levam não só o leitor a se deliciar em boas histórias, assim como o leva a dar boas gargalhadas.
Não é um humor sem conteúdo, que busca simplesmente o riso, mas um humor que leva a reflexão. A prova disso é o texto de abertura: "A traição". Uma cena que busca o trágico e ao mesmo tempo traz um fundo de humor, levando o leitor a refletir sobre a paixão. Ou ainda em "Entendedores de Deus", trazendo à tona o tema sobre a diversidade religiosa e o respeito que se deve ter frente a esse tema, às vezes, espinhoso.
O livro tem a pretensão, com suas narrativas, de levar um pouco de sorriso, mas sem deixar de tocar em temas importantes para a sociedade.
Assis Silva
A traição
Um silêncio pairava sobre o apartamento, as luzes estavam desligadas, parecia não haver ninguém. Um homem chega em frente do prédio, olha fixamente para as janelas de um apartamento, dá uma longa respirada e chega próximo ao portão. O portão se abre.
- Boa noite, seu Marcelo!
- Boa noite! Responde o homem com os olhos arregalados. Pensei que o senhor só voltaria na semana que vem.
- Pois é, voltei mais cedo, aconteceram uns contratempos.
O porteiro, não sei porquê, assim que avistou o homem pegou o interfone e ficou segurando durante a conversa. Continuou o homem, que parecia cansado da viagem:
- Vim sem avisar ninguém, queria fazer uma surpresa a Janice...
- Ela, sem dúvida, ficará surpresa - interrompeu o porteiro.
O homem se retirou. Entrou no elevador e apertou o número 9. Conforme subia, ia tirando o paletó e afrouxando a gravata. Saiu do elevador já em frente de seu apartamento. Abriu a porta, estava escuro, ouviu uma música vinda do segundo andar...o interfone tocou.
- Pois não!
- Desculpe seu João, disquei o número errado.
Franziu a testa, achou estranho, pois o porteiro nunca errava o número dos apartamentos, apenas respondeu, tudo bem. Sentou-se no sofá, não acendeu as luzes, ficou ali um minuto - a música no segundo andar não parava-, tirou seu revólver e seu distintivo de policial e pôs na mesinha de centro. Mudou de ideia. Levantou-se, recolheu apenas o revólver e subiu para o segundo andar. Estava cansado. A porta estava entreaberta,
apenas a luz do abajur iluminava o quarto.
No corredor, a música parou e do quarto vinham suspiros e gemidos. Foi caminhando devagar com o revólver em punho. Empurrou a porta. Na cama, estava sua jovem e linda esposa com um jovem e lindo rapaz. O jovem o viu primeiro, empurrou-a. Virando-se, ela também o percebeu; ele estava imóvel parado e trancando a saída pela porta.
A mulher não disse nada, fugiu pela janela; o homem, sentiu pela primeira vez o gosto de chumbo
descarregado de forma covarde e sem nenhuma palavra. E, ali, antes de fechar os olhos para sempre, entendeu que ela não o amava, só queria seu corpo, pois se não, teria ficado com ele, e partilhado o gosto
amargo e ardente das balas. Mas preferiu fugir pela janela, sem se importar com a
altura de nove andares.
Capítulo 1 Prefácio
10/03/2021
Capítulo 2 Entendedores de Deus
10/03/2021
Capítulo 3 O assalto
10/03/2021
Capítulo 4 O Sequestro
10/03/2021
Capítulo 5 Socorro
10/03/2021
Capítulo 6 O bêbado do cemitério
10/03/2021
Capítulo 7 A caçada do Laurinho e o Curupira
10/03/2021
Capítulo 8 O forasteiro
10/03/2021
Capítulo 9 Dois bicudos não se beijam
10/03/2021
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