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MAR DE AMOR
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9
Capítulo

Marcos Roberto Bianchi é um estudante de Odontologia que nasceu no Rio de Janeiro, mas agora mora em São Paulo após a separação dos pais. Ele mora agora na casa do tio, irmão de seu pai. A vida deles não é difícil, mas não é a mesma de antes, quando viviam numa casa grande e espaçosa cedida pelo avô dele. Mas era preciso continuar vivendo e ele continuava...

Capítulo 1 MAR DE AMOR - PARTE 1

MAR DE AMOR

São Paulo, 09 de março 2018 (07:15)

Marcos apanhou os cadernos em cima do sofá e ia já correr para a porta quando o telefone tocou.

- Droga! – ele exclama.

Voltou e atendeu:

- Alô!

Mas ninguém disse nada. Ou a ligação caiu ou era engano ou na pior das hipóteses... trote.

Ele olhou para o aparelho, deu de ombros e desligou. Esperou um pouco para ver se não ligavam de novo, mas nada. Thereza, a empregada, veio da cozinha enxugando as mãos no avental e perguntou:

- Quem era?

- Não sei. Ninguém falou nada. Deve ter caído a ligação.

- Vai ver é aquele chato que ligou ontem querendo saber do comercial.

- Será?

- Você não disse que tinha a impressão de que a ligação era de um orelhão? Vai ver, caiu a ligação mesmo.

- É, pode ser, mas não me pareceu ser de um orelhão agora. Bom, eu estou indo, já estou atrasado. Se ligarem de novo e perguntarem por mim, diz que não tem ninguém aqui com o meu nome, ok?

- E se for mulher?

Marcos sorriu.

- Pede pra deixar recado, pega o telefone... endereço...

- Safado!

Ele a beijou no rosto e parou pensativo.

- Sabe de uma coisa, não faz nada disso. Não ando com tempo nem pra olhar minha cara no espelho.

- O que é um desperdício... ela suspirou.

- Não enche, Thereza. Tchau. Diz pro Toni que a moto dele foi roubada... por mim!

Ele saiu correndo pela porta. Mal tinha ouvido o barulho dela batendo e o telefone tocou novamente. Thereza atendeu:

- Alô!

- Alô, é da casa do Marcos Roberto? – perguntou a voz de um rapaz.

- Não, ela mentiu. - Quem está falando?

O rapaz não respondeu e a ligação foi desfeita. Thereza sorriu e desligou. Mas o aparelho tocou novamente, depois de alguns segundos.

- Ah, meu Deus, eu vou procurar emprego em outra casa! Alô!

- É da casa do Marcos? – perguntava agora a voz de uma garota.

- Não, não tem ninguém com esse nome aqui.

- Não é do 210.53.94?

- É, mas já falei que essa pessoa não mora aqui.

- Ah, desculpe, foi engano.

- Tudo bem.

Desligaram novamente. Thereza fez o mesmo, mas estranhou. Engano ou não, a pessoa tinha acertado o número; por que desistiu tão fácil e disse que era engano, depois da confirmação do número? Seria mesmo algum trote? Ela deu de ombros, esperou mais um pouco para ver se o telefone tocava outra vez e voltou para a cozinha.

Marcos Roberto Bianchi, de 22 anos, fazia odontologia na USP. Morava com o pai, o tio e a mulher dele numa casa elegante de esquina na Rua Kennedy, no Brooklin Novo.

Seu tempo ultimamente estava dividido entre a faculdade e fotos para publicidade que ele havia conseguido por indicação do tio, que trabalha numa agência como fotógrafo.

Tinha vindo morar em São Paulo há cinco anos, depois que seus pais se separaram. Terminar o colégio e conseguir o vestibular na USP não tinha sido coisa fácil, mas ele tinha chegado ao terceiro ano e sabia que tinha sido pelo esforço próprio.

O pai, Breno Bianchi, tinha um consultório em Pinheiros e dava duro para sustentar a si próprio e aos dois filhos e mais a pensão que pagava à mulher, mesmo com a ajuda do irmão. Marcos não tinha como arrumar um emprego em período integral, já que a faculdade exigia quase todo o seu dia. Então ele apelou para as fotos de publicidade, pois seu visual ajudava bastante. A altura, os olhos azuis num rosto de um moreno jambo formavam um conjunto bonito que facilitava.

No campus da Universidade, Marcos mal desceu da moto e Alberto, um amigo de três anos de curso aproximou-se e lhe chacoalhou diante do nariz, a capa de uma revista.

- Você já viu isso?

Ele apanhou a revista e riu.

- Você anda lendo isso agora, é?

- Comprei por causa da capa, sem noção. Não reconhece?

Ele prestou mais atenção e reconheceu a moça.

- Dione!

- Gata, não? É que você ainda não viu o que tem aí dentro, meu caro. Vai folheando.

Enquanto andavam, Marcos foi folheando a revista e abriu em uma página em que havia fotos da moça dos dois lados da página. Sorriu.

- Fala a verdade, cara! É um tesão, não é?

Marcos não disse nada. Não conseguia tirar os olhos das fotos.

- Só que você ainda não viu o melhor, meu! Não é só a Dione que faz sucesso. Abre aí na página dezessete.

O rapaz obedeceu e viu uma foto sua.

- Quê?! Sou eu!

- Você mesmo, ao vivo e a cores!

Dentro havia uma ficha com vários dados do rapaz que diziam idade, cor de olhos e cabelos, gostos musicais e mais alguns detalhes. Só não tinha o telefone e endereço porque isso já seria abuso demais. Iria acabar com sua privacidade.

- Pô, deram a ficha toda, cara. Que saco!

- Saco por que, rapaz? Vai chover garota na sua horta.

- Chover garota... Vai chover é gente pegando no meu pé! O tipo de garota que lê esse tipo de revista não tem nada na cabeça, Beto. Só pensa em sexo, cantor de rock e Coca-Cola.

- Ué! E o que tem de errado nisso?

Marcos achou melhor não argumentar. Devolveu a revista ao amigo e continuou andando.

- Pensei que estivesse te dando uma boa notícia, parceiro.

- Queria saber quem publicou isso e com dica de quem.

Alberto não disse nada, desconfiado. Marcos parou e olhou para ele.

- Você... Você falou de mim pra algum repórter idiota.

- Foi só uns itenzinhos da sua vida... Data de aniversário, faculdade, signo, estado civil... As gatas gostam de saber essas coisas...

- Nome inteiro também! Daí vão na lista telefônica, fuçam tudo que é Bianchi e me encontram. E aí eu perco minha paz e minha privacidade. Eu tenho vontade de matar você, Alberto!

- Eu só queria te promover, caramba! Deve ter um monte de gata aí querendo saber que é o gato da Lunny’s! E outra: você pode até vir a ser ator de novela, fazer filmes... Não viu a Patrícia Lucchesi? Está fazendo até peça de teatro!

- Quando eu quiser fazer cinema, teatro ou televisão eu mesmo vou atrás. Não preciso de empresário! Esse tipo de trabalho tomaria um tempo que eu não tenho! Eu quero terminar minha faculdade, não ser ator!

- Vai ser um desperdício um dentista com a tua cara, Marcos! É mais vantajoso beijar uma gata do que cuidar dos dentes dela.

Marcos ergueu os olhos para o céu e respirou fundo.

- Cristo, deixa de falar besteira! Você só pensa nisso?

- E você não pensa? Pensa! Com a diferença que eu penso em todas, você só pensa na gatinha da Lunny’s que veio, ficou por um tempo e foi embora da sua vida, como no comercial.

- Eu não penso nela...

- Não, pensa em mim. Você não é o mesmo desde que fez aquele comercial, cara. Eu te conheço.

- Ela é uma criança, Alberto!

- É, levando em consideração os seus oitenta e dois anos...

Marcos conseguiu rir.

- O que são sete anos, cara? – Alberto insistiu. – Minha mãe é doze anos mais nova que meu pai...

- E estão separados há doze anos.

Alberto foi derrotado em seu argumento, mas não se deu por vencido.

- Roberto Carlos e Miriam Rios! Olha que diferença enorme de idade! Ele é um coroa e ela é uma gata.

- Eu não tenho nada com a Dione, Alberto. Para com isso!

- Mas queria ter, não queria?

Marcos ficou pensativo e desconversou:

- A gente vai se atrasar pra aula, isso sim.

E se afastou do amigo. Alberto ergueu as mãos para o céu e o acompanhou.

*************************************************

No meio da aula, enquanto Marcos estava distraído conversando com outro colega, Alberto pegou a revista, abriu na página que tinha uma foto da garota e colocou no meio do caderno dele, sem que ele visse.

Depois da aula, Marcos resolveu estudar na biblioteca e disse:

- Se manda, Alberto. Não consigo estudar com você por perto.

-Tudo bem! Eu sei que sou um amigo desprezado. Vou ver se como alguma coisa. Você não vai almoçar?

- Depois.

- Tudo bem então... Bye, bye!

- Tchau... Ah... Alberto!

- Quê?

- Dava... pra emprestar aquele revista?

Alberto sorriu maroto e balançou a cabeça, negando.

- Por que não?

- Compre... Essa... é minha! Já tenho como me divertir hoje à noite.

- Imoral! Você é doente!

Alberto deu uma risadinha cínica e afastou-se. Marcos balançou a cabeça, sorrindo e foi para a biblioteca.

Sentou-se num lugar bem tranquilo no canto do enorme salão e abriu os livros e cadernos diante de si. Procurando a matéria de estudo, folheou o caderno e encontrou a revista com as fotos de Dione. Encostou-se na cadeira e ergueu as fotos diante dos olhos.

- Como vieram parar... - Sorriu, pensando na mentira dita pelo amigo. – Cachorro! E grande amigo...

Colocou as fotos novamente sobre o caderno e apoiou o rosto na mão, deslizando o indicador pelo rosto da moça na foto. Era óbvio que não ia mais conseguir estudar nada.

À tarde, quando ia saindo para o estacionamento, ouviu a voz de Alberto correndo atrás dele.

- Ei, cara, espera!

Ele olhou para trás, mas não parou. Alberto o alcançou.

- Gostou da surpresa?

- Calhorda! – Marcos disse, sorrindo. – Quando eu precisar de um cupido, eu te contrato. Você dá pra coisa, sabia? Só falta o arco, a flecha e andar por aí de fraldas.

- Você não precisa de cupido, Marcos. Precisa de coragem.

- Você acha que eu não procuro a Dione por falta de coragem?

- Claro que! Não é?

- Não.

- Então por que é? Está na tua cara que você está na dela.

- Ela tem namorado, rapaz, e não sei se eu já te disse... ela tem quinze, quinze anos. Não quero ser acusado de pedofilia, espertinho.

- Ela tem namorado? - Alberto perguntou, estacando, ignorando todo o resto.

- Tem. Ele foi buscá-la umas duas ou três vezes no set, durante as gravações do comercial, disse Marcos, continuando a andar.

- Ah, vai ver era irmão!

- Se era, eles cometeram incesto várias vezes. Os beijos não eram nada fraternos.

- E como é que era o cara? Tinha a tua pinta?

- E você acha que eu ia ficar me comparando com o cara, Alberto? Sei lá! Parecia ter uns... dezesseis, dezessete anos... Mais ou menos a idade dela.

- Xi, meu, então era um pentelho qualquer! Namorico de fim de semana. Muito moleque.

Marcos parou e colocou a mão aberta no peito de Alberto, fazendo-o parar também.

- Beto, ela tem quinze! Que parte você não entendeu que eu me envolver com Dione Garcia é... fria? Até rimou.

- Mas as garotas de hoje em dia sempre se interessam por caras mais velhos e muito mais velhos! Minha irmã está namorando um cara nove anos mais velho que ela.

- Eu adoro a sua família. Sempre tem um exemplo ótimo pra dar tudo certo comigo, só que você nunca aparece com uma garota definitiva. Toda semana está com uma. Seu pai também faz isso?

- Eh, meu, calma! Vê lá como fala do meu velho.

Chegaram perto da moto e Marcos subiu nela.

- Desista, meu amigo. Mesmo que eu quisesse ganhar a Dione do pentelho dela, como você diz, o que eu definitivamente não quero, não estou com tempo nem disposição pra isso agora.

- Tempo não existe, tempo se faz!

- Muito filosófico, mas se eu quiser terminar minha faculdade, vou ter que fazer meu tempo pros meus livros. Daqui uns... dez anos, quando estiver formado e puder arrancar todos os seus dentes do modo convencional, eu penso na sua proposta idiota.

- E quando terminar o curso daqui três anos, já não vai nem saber como se beija uma garota.

- Você tem duas irmãs, não tem? Elas me adoram. Posso pedir aulas práticas nos finais de semana mediante tratamento dentário grátis. Que tal?

- Já está abusando, hein? Não mete a família no meio! Amigos, amigos, famílias a parte. Respeito é bom e eu gosto.

Marcos riu, ligou a moto, colocou o capacete e perguntou:

- Quer carona?

- Não. Vou dar um tempo por aqui ainda.

- Então, tchau. Obrigado pelas fotos. Te devolvo amanhã.

- Não olha muito que descora.

- Aquele rosto não descora nunca. Ela já é branquinha como leite. Tchau, parceiro.

- Tchau.

****************************************************

Ao chegar em casa, Marcos encontrou o tio arrumando seus equipamento de trabalho.

- Oi, disse, colocando os livros sobre um móvel.

- Fala, garotão! Foi bom você chegar, preciso da minha máquina. Estou indo pro litoral agora.

- Agora? Que mordomia, hein?

- Mordomia nada. Trabalho mesmo. Ah, e por falar em trabalho, arranjei outra coisa pra você. ‘Tais a fim de outro comercial?

- Por que não? – ele respondeu, dando de ombros.

Toni tirou do bolso da camisa um cartão e entregou a ele.

- Procure por essa agência. Quando eu falei que era seu tio, ficaram malucos!

- Exagero, aposto, Marcos falou, sentando-se no braço do sofá e olhando para o cartão.

- É verdade!

- Comercial de quê? Roupas de novo?

- Não, refrigerante.

- Hum... Com mais vinte caras e garotas...

- Acho um barato! Eles têm um pique incrível e você está aí, vendendo saúde! Vinte e dois com cara de dezessete... É o cara certo pra vender refrigerante. Você vai curtir.

Marcos ficou olhando para o cartão, em silêncio. Toni estranhou.

- Ei, meu? Que foi? Está tão apagado...

- Impressão sua. Estou só cansado. Obrigado pela moto.

Marcos levantou-se e foi para o quarto. Toni o seguiu com os olhos e depois foi atrás dele. Encostou-se no batente da porta e ficou olhando para o sobrinho. Marcos tirou a camisa, depois se sentou na cama e começou a tirar o tênis.

- Marcos...

Ele olhou para o tio.

- Tem alguma coisa te grilando. O que foi?

- Não é nada, não, Toni.

- Sua mãe ligou? Brigou com a Mara? O que foi?

Marcos riu.

- Não, a mamãe não me liga há duas semanas e eu não vejo a Mara há dois dias. Ela ainda mora aqui?

- Mora, quem não mora é você. Está mais naquele país da cultura do que aqui. Vai acabar estafado, sabia?

- Aquele país da cultura ultimamente é o meu mundo, sabia?

- É, mas não se esqueça que é nesse mundo aqui fora que você aplicar tudo que aprender lá. Você tem vivido muito pouco, sabia? Desde que prestou aquele vestibular, não tem feito outra coisa senão estudar, estudar... Vai com calma, meu!

- Estou me sentindo inútil...

- Inútil? – Toni perguntou, rindo. – Quem disse que você é inútil, seu pai?

- Não, eu disse.

- Leu isso nos olhos do Breno?

- O papai não tem nada a ver com isso, Toni. Sou eu! Ele me cobra também, indiretamente, às vezes, mas... eu tenho vinte dois anos... e não fiz nada até agora.

Toni entrou no quarto e sentou-se na outra cama de solteiro diante dele.

- Não fez nada? E o que é que você queria ter feito com vinte e dois anos, cara?

- Sei lá... Você já tinha seu estúdio com a minha idade. O papai já era casado com a minha idade e eu já estava a caminho...

- E você está fazendo o terceiro ano de Odonto. Isso já é alguma coisa, não é não? Eu tenho visto o duro que você dá em cima desses livros e quase o dia inteiro lá no campus. Você já está construindo seu futuro, garoto!

- Um futuro que só vai chegar daqui três anos quando eu terminar o curso, aí, eu vou estar com quase trinta e...

- Pode parar! Que papo mais baixo astral, Marcos Roberto, meu sobrinho! Que é? Crise existencial de vinte e dois? Eu sei que houve uma semana de Arte Moderna em vinte e dois, mas isso?

Marcos riu e apoiou os braços na cama.

- Não, eu não acredito que seja esse o motivo da sua fossa. É saudade da sua mãe, do seu irmão... ou...

- Ou o quê?

- Alguma garota roendo alguma coisa aí dentro desse coração, hein?

Antônio tocou o peito dele com o indicador, na altura do coração. Marcos balançou a cabeça, negando.

- Eu sei até o nome dela, continuou Toni.

- Não é isso, tio...

- Dione!

- Ah, pelo amor de Deus! – Marcos falou, erguendo-se. – Você e o Alberto resolveram pegar no meu pé com isso!

- Bom, então, se não é ela, é de alguma coisa da mesma espécie que você está precisando, confesse.

- Como é que eu posso precisar disso, com tanta garota me parando na rua pra pedir autógrafo e me chamando de “Gato da Lunny's"? Nem nome mais eu tenho, tio!

- Espinhos da fama!

- E eu não digo que não goste disso, mas... está me faltando alguma coisa mais... mais...

- Consistente.

- É... Mais real.

- Você não se permite procurar.

- O quê?

- Você não se dá tempo pra procurar. Essas coisas não vêm na mão da gente, Marcos. A gente tem que ir atrás. Está certo que essas garotas que te param na rua não têm muito pra te oferecer. Estão só deslumbradas com um palmo de rosto bonito, mas se alguma delas parasse pra conversar com você, iam ver que você é muito mais que beleza física. Que você é inteligente, sensível, humano... e também com vários defeitos, como todo ser humano! Nem você está conseguindo ver isso em si mesmo. Você está se menosprezando demais! Quando a gente não se gosta, não se dá chance de gostar de ninguém e quando sente que gosta, não procura dizer que gosta. Você não sente vontade de dizer isso pra alguém? Não pra mim ou pro seu pai, a Thereza, a Mara ou mesmo sua mãe ou seu irmão lá no Rio, mas alguém! Alguém lá fora, fora das suas relações normais de amizade. Não te dá vontade de fazer isso?

Marcos balançou a cabeça, confirmando.

- E essa pessoa já tem nome?

- Tem...

- Qual?

O telefone tocou e Marcos atendeu.

- Alô!... Oi, Guilherme, como vai?... Não, ele não chegou ainda...

O barulho de chaves na porta denunciou a chegada de Breno.

- Espera aí, Gui, ele está chegando. Pai! Telefone pra você! – Marcos gritou.

Breno atendeu a extensão na sala. Ao ouvir sua voz atendendo ao telefone, Marcos desligou e olhou novamente para o tio que perguntou:

- O nome...?

- Xuxa, Marcos respondeu, brincando.

- Ah, palhaço! Você não me leva a sério!

- Levo sim. Eu entendi o que você quis dizer. Não vou esquecer.

- Não esquece mesmo. Você é muito jovem pra estar se consumindo de tristeza desse jeito.

- Consumindo de tristeza... Profundo, hein? – Marcos continua brincando.

- Ouvi isso da Mara, ontem. Ela adora um melodrama. Bom, deixa eu ir me mandando, falou Toni, indo para a sala e apanhando as duas sacolas de equipamento. Marcos o seguiu.

- Não vai se despedir dela?

- Ela vai comigo. Está me esperando no furgão da agência com o pessoal. Disse que não ia ficar aqui chocando enquanto eu tomava sol lá. Mulheres! Tchau.

Marcos riu.

- Dá-lhe, Mara! Certa ela! Se ela não cuida do que é dela, outras cuidam. Tchau, tio.

Toni bateu no ombro do irmão, ainda no telefone e saiu. Marcos sentou-se no braço do sofá e ficou pensando nas palavras dele. Breno desligou o telefone e sentou no sofá, esfregando o rosto cansado.

- Oi, pai...

- Oi... Aonde é que ele foi?

- Vai pro litoral a trabalho.

- A essa hora?

- Desce à noite pra pegar o por do sol amanhã. Ele faz fotos bárbaras de madrugada.

- Hum...

Thereza apareceu na sala, vinda da cozinha.

- Ah, todo mundo já chegou. Posso servir o jantar, seo Breno?

- Eu não vou jantar. Vou sair de novo e vou voltar tarde.

Ele foi para o banheiro e Marcos olhou para Thereza que fez um ar de quem não tinha entendido nada.

- O que foi que houve? A cara dele não está boa, ela disse baixinho.

- Sei lá, Thereza.

- Seu pai está precisando casar de novo...

Ela falou e se arrependeu.

- Desculpe, filho. Eu sei o quanto você gosta da sua mãe. Não falei por mal.

- Você está certa, Thê. Ele não vai voltar pra ela mesmo... Pra que ficar sozinho?

Marcos falou com a garganta doendo. Na verdade, não queria nada daquilo.

- Você vai jantar, não vai?

- Vou. Vou só tomar um banho, depois que o papai sair do banheiro.

- Vou arrumar a mesa.

- Thê, e aqueles telefonemas? Pararam?

- Ah, depois que você saiu, ligou um rapaz que não quis se identificar, mas perguntou por você.

- E você?

- Disse que não tinha ninguém com esse nome aqui.

- Joia! Te adoro!

- Logo em seguida, ligou uma garota...

- Garota? Que garota?

- Não sei, perguntou por você de novo e eu disse a mesma coisa...

- Nem perguntou o nome dela?

- Não. Você disse que servia pras garotas também!

- É que podia ser... Ah, esquece. Fez bem.

O telefone tocou novamente e ele correu para atender.

- Alô!

- É da casa do Toni Bianchi?

- É, ele respondeu, olhando desanimado para a empregada.

- Ele está?

- Não, acabou de sair.

- Que pena... Ele vai demorar?

- Ele foi pro litoral a trabalho. Quer deixar recado?

- Quando ele volta?

- Não sei, amanhã à noite, talvez...

- Quem está falando? É o Marcos?

- Ele mesmo. Quem está falando?

- Oi, cara! Você não me conhece. Eu trabalho com seu tio na agência, mas eu vi o seu comercial. Ficou bárbaro!

- Agradeço em nome da Lunny's.

- Não, cara, você e a garota abafaram mesmo! Sério! Eu nem reparei nas roupas que vocês estavam vestindo. Vocês se encaixaram direitinho. Você fotografa bem.

- Obrigado...

- Não pensa em seguir carreira como modelo? Ela eu sei que já é.

- Não... Não sei... Acho que não.

- Está perdendo tempo, cara. Vai à luta! Você tem visual pra isso. Olhos azuis, altura... A Dione vai longe também.

- Você a conhece?

- Trabalho na agência dela também. O Toni não te deu meu cartão?

- Deu... Pensei que fosse... pra um comercial de refrigerante.

- E é. A pessoa que você vai procurar vai te encaminhar pra isso, mas ela é modelo lá.

Marcos sorriu, achando graça da coincidência. Ia ver Dione de novo.

- Você vai, não vai?

- Vou, claro que vou.

- Mas não perde tempo só com um comercial não, cara. A gente tem que vender a gente também, de vez em quando, no bom sentindo, claro! Aproveita enquanto você é jovem. Depois de velho despenca tudo e babau!

Marcos riu.

- É, vai por mim. Diz pro seu tio que eu ligo amanhã à noite quando ele chegar ou então ele liga em casa.

- Digo sim. Ele costuma ligar pra casa quando viaja assim e eu aviso. Talvez ele te ligue antes.

- Obrigado, hein, cara. Foi um prazer falar com você. Tchau.

- Tchau.

Marcos colocou o telefone no lugar e suspirou, pensando na possibilidade de rever Dione.

- Quem era? – perguntou Thereza, encostada no batente da porta da cozinha.

- Putz! Esqueci de perguntar o nome... ele falou colocando as mãos na cabeça.

A empregada riu e voltou para a cozinha, balançando a cabeça.

Marcos viu o pai sair do banheiro enrolado numa toalha a caminho de seu quarto e perguntou a ele:

- Está tudo bem, pai?

- Tudo...

- Aonde você vai a essa hora da noite?

- Uns amigos me convidaram prum show de jazz no centro de São Paulo. Vou... espairecer.

- Show de jazz? Legal, divirta-se. Vai esticar com alguma garota depois?

- Isso não é da sua conta, é? Eu me meto na sua vida?

- Não, Marcos disse, sorrindo. – Divirta-se, pai.

Breno entrou no quarto e Marcos no banheiro.

Depois do banho, o rapaz jantou com Thereza, assistiu um pouco de televisão com ela, só para lhe fazer um pouco de companhia e pouco antes das onze, foi para o quarto. Ficou estudando até pouco antes da meia noite. Os olhos começaram a pesar.

As fotos de Dione ficaram olhando para ele o tempo todo, sobre a escrivaninha. Ajudavam a pensar. Thereza entrou no quarto e colocou sobre o criado mudo da cama dele um copo de leite. Depois, inclinou-se sobre o ombro dele e xeretou. Ele sorriu.

- Quer me ajudar?

- Deus me livre! Não entendo nada disso aí!

Ela viu as fotos da moça e as apanhou. Marcos percebeu que tinha esquecido de esconder.

- Que lindinha! É a menina do comercial, não é?

- É, ele respondeu, corando levemente.

- De onde você tirou?

- Não fui eu. É... O Alberto tirou de uma revista que ele achou por aí...

- Você gosta dela, não gosta?

- Não! Quer dizer... Foi... Tem uma foto minha aí. Vira.

- Sua? – ela perguntou, virando e vendo a foto dele. – Olha ele aqui! Que bonitinho! Olha só!

Ela leu o texto em voz alta e o abraçou.

- Meu garotão ficando famoso, vejam só!

- Não exagera, Thê, é só uma foto.

- Que todo mundo vai ver. Tenho tanto orgulho! Que revista é essa? Quero comprar uma pra mim.

- Eu compro amanhã.

- Está certo. Vou colocar a sua foto numa moldura.

- Uma foto dez por sete, Thereza. Não tem moldura pra ela.

- Eu arrumo pode deixar. Ela também está lindinha! Vocês deviam namorar, como no comercial.

- A gente ou, os personagens que a gente faz não namoram no comercial. É só uma paquera.

- Ué! Da paquera nasce o amor. Você devia continuar isso então na vida real.

- É... Eu vou pensar.

- Pense. Tome seu leite quente e pense. Já está na hora de arranjar uma namorada e esse anjinho combina direitinho com você.

- Esse é o ponto. Ela é um anjinho de quinze anos.

- Ui, quinze? Parece mais.

- Se você diz que ela parece um anjinho, não pode ter mais.

- Ah, tem gente que tem idade, mas tem cara de criança. Você tem cara de um rapaz de dezessete, mas tem vinte e dois... Pensei...

- Você pensa demais, Thereza. Boa noite e obrigado pelo leite.

- Boa noite. Não vai dormir muito tarde, ela disse, indo para a porta.

- Não. Nem você.

- Vou esperar seu pai.

- Não precisa. Eu espero.

- Você vai dormir. Tem que levantar cedo amanhã. Eu espero. Vou assistir um filme legal na Globo hoje.

- Que programa legal, hein?

Ela lhe mostrou a língua e saiu do quarto. Marcos segurou a foto de Dione e disse:

- Todo mundo anda com nós dois na cabeça... Será que você também, anjinho de olhos verdes...?

Ele aproximou a foto dos lábios e beijou a boca da garota.

- Que decadência, Marcos... Você está precisando transar, mas não com ela, óbvio.

********************************************************

O rosto claro, a pele limpa e macia era cuidadosamente maquiada por Michel. Ele afastou-se um pouco dela e ficou apreciando sua obra prima.

- Linda! Nem mais nem menos. Não quero rebocar esse rosto de boneca.

Ela sorriu.

- Vem, Dione! – chamou Flávio Souto, o produtor. – Glória, ajeita ali a roupa dela. Vamos esvaziar o estúdio, gente! Bicos fora!

Havia três garotas que seriam fotografadas para a sessão de moda de mais uma revista. Uma delas era Dione.

O cenário idealizava a beira-mar e elas vestiam roupas de cores quentes que anunciavam o verão que estava chegando. Logo, mil flashes começaram a explodir sob a mão cuidadosa de Renato Abrantes, o fotógrafo. Ele ordenava posições, jeitos de olhar, sorrisos, expressões, enfim, caras. E as meninas se divertiam com o jeito brincalhão dele falar.

Todo mundo no estúdio olhava, até com certa inveja, a beleza das garotas.

Marcos entrou ali meio que timidamente e pôs-se a assistir, logo atrás de outro rapaz, encostado na parede que reconheceu ser o “pentelho” de Dione, mas o rapaz não o viu, tão extasiado estava, babando com a beleza da namorada. Marcos afastou-se de mansinho e foi para outro canto do estúdio, logo atrás de Glória Frias, a produtora de moda a quem já conhecia. Ela também não o viu e ele assistiu a tudo sossegado.

A primeira que o viu foi mesmo Dione que, durante uma foto, olhou para ele e sorriu bonito.

- Ei, Didi, se esse sorriso tivesse sido pra lente tinha saído perfeito, gata! – brincou Renato.

- Foi o Marcos que chegou, ela disse, apontando para ele.

Todos os olhos se voltaram para o rapaz que, sem jeito, disse:

- Oi, pessoal... Não quis atrapalhar...

- Não atrapalhou nada. Vem pra cá! Você sumiu, cara! – falou Fábio, apertando sua mão.

- Como vai, Fábio?

- O Osmar quer falar com você. Vá até a sala dele. Está te esperando.

- Tá legal. Desculpa interromper. Tchau.

- Passa aí depois. Não some de novo.

- Não vai dar, eu... estou com um pouco de pressa. Mas um outro dia...

- Tudo bem. Tchau, Marcos.

Ele olhou para Dione e ela falou:

- Quero falar com você depois! Não some de novo.

- Quando? – ele perguntou, encolhendo os ombros.

- Hoje, daqui uma hora! Me espera.

- Tá legal, até já.

Ele saiu do estúdio nas nuvens. Tinha ouvido a voz dela mais uma vez. Tinha olhado para ela mais uma vez. Tinha marcado um encontro com ela! E o mais importante, ela não tinha esquecido dele. Só não ia ser completo porque no mínimo ela ia se encontrar com ele com o namorado do lado, mas não tinha importância. Valeria a pena.

Mas, para sua surpresa, ela apareceu sozinha. Sem maquiagem, os cabelos louros soltos, vestida numa camiseta branca que parecia não ter nada por baixo, embora os seios firmes e pequenos dissessem claramente que não precisava ter nada mesmo ali, e numa minissaia jeans mostrando as pernas, sem vergonha nenhuma. Encontraram-se na sala de espera da agência.

- Oi! – ela disse, ao se aproximar, sorrindo bonito.

Para ele o sorriso dela era sempre bonito.

- Oi... Vida agitada a sua, hein?

- A sua vai ficar a mesma coisa, se você quiser. Você sumiu, garoto!

- Não sumi. Até apareci...

- Naquela revista! Eu vi. Nós dois na mesma revista! Não é o máximo! Eu nem acreditei. Aquela sua foto vai deixar muita garota por aí doidinha! Você está muito gato!

- Não exagera...

- Você está ótimo! Você vai fazer mesmo o comercial?

- Vou. Já falei com o Osmar agora. A gente já acertou tudo. Começam as gravações amanhã cedo. Estavam só esperando a confirmação de dois caras e eu.

- Guaraná, não é?

- É.

- Você não está muito animado, estou enganada? Aconteceu alguma coisa? Não gostou do cachê?

- Não, não é isso. Eu estou animado.

- Como vai o curso? Odonto, não é?

- Isso. Puxado, mas indo. Tive que faltar hoje pra vir aqui.

- Poxa, estou tomando seu tempo...?

- Não! Eu queria mesmo falar com você. Nunca mais nos vimos.

- Só na televisão, ela disse, rindo.

- É...

- Vamos tomar alguma coisa em algum lugar? – ela convidou.

- E o... seu namorado? – ele perguntou ressabiado.

- Já foi. Mandei pra casa. Ele é um chato de vez em quando. Fica me pentelhando, com ciúmes de todo mundo no estúdio e emburra. Brigou comigo porque eu disse que queria falar com você, pode? Insegurança boba. Vamos?

- Vamos. Se você acha que não vai causar confusão pra você...

- Claro que não! Ainda está longe o tempo que vai me fazer deixar de fazer o que eu quero por causa de alguém. Ele é meu namorado, não meu marido. Nem meu pai me podava assim.

- Ele sabe dessa sua... filosofia?

- Não sei, ela respondeu, dando de ombros e rindo. – Depois eu conto. Vamos logo.

- Tudo bem, ele disse, rindo também do jeito simples e leve que ela falava.

Foram até a moto e ela perguntou:

- Que bacana! É sua?

- Não, é do meu tio.

- Você não tem carro?

- Tenho. Está com meu pai. Ele vendeu o dele. Ele tem um consultório em Pinheiros e não dá pra ir pra lá todo dia de ônibus. Eu pego a moto do Toni, quando dá; se não dá, meu pai me leva até a faculdade e depois me pega, ou eu volto pra casa de ônibus.

- Seu tio é aquele que você disse que é fotógrafo?

- É.

- Aquele que cruzou a gente no caminho um do outro?

- É... ele riu.

- Cara legal! – ela falou.

Ele olhou para ela e como ela estava de saia, perguntou:

- Vai ser problema pra você ir... na moto?

Ela olhou para si mesma e respondeu sem nenhum constrangimento.

- Não. Sobe primeiro.

Marcos subiu na moto e ela sentou na garupa, abraçando-se à cintura dele. O rapaz sentiu um arrepio gostoso de felicidade ao sentir as mãos dela tocando sua cintura, macias, mas firmes. Deu a partida na motocicleta que saiu do estacionamento e entrou na avenida.

Ele queria que a lanchonete fosse a quilômetros de distância, só para ficar sentindo os braços dela em volta de sua cintura.

Na lanchonete, entraram e pediram refrigerantes e salgados. Ela falou mais do que ele e Marcos viajava na presença de espírito de Dione. Com o rosto apoiado na mão, ele a ouvia falar e observava o jeito de suas mãos, o modo como pegava o copo de refrigerante, seus lábios tocando o canudo e sugando o líquido devagar em pequenos goles; depois o jeito sutil de passar a língua pelos lábios finos e sorrir. Os olhos verdes eram mais claros do que ele havia reparado. E nunca paravam por mais de quinze segundos num ponto só. Estavam sempre olhando tudo e sempre brilhantes. A mão pequena de menina brincava com o guardanapo que dobrava e desdobrava. A tudo ele respondia quase que monossilabicamente e Dione começou a perceber que ele estava muito quieto. Num dado momento, ela parou de falar, olhou para ele, franzindo a testa num jeitinho gracioso e perguntou:

- Estou te aborrecendo?

- Não, claro que não!

- Todo mundo diz que eu falo demais... Se eu estiver te enchendo...

- Não! De jeito nenhum. Eu não sou de falar muito mesmo e... gosto de te ouvir falar.

- Mas você está muito quieto. Você não era assim durante as gravações do comercial. Você brincava... conversava com todo mundo... O que foi que houve?

- Nada. Eu estava só te ouvindo.

Ela ficou olhando para ele séria.

- Estou lembrando de uma coisa que você me disse...

- O quê?

- Sobre a separação dos seus pais... Ontem fez cinco anos, não foi?

Marcos nem havia se lembrado daquele detalhe. Surpreendeu-se com a memória dela.

- É... Ontem fez cinco anos...

- É por isso que você está tão calado?

Ele encostou-se na cadeira e olhou para o copo de refrigerante diante de si.

- Não, pra falar a verdade... eu nem tinha me lembrado. Você tem boa memória.

- Desculpa, não quis...

- Não, não precisa pedir desculpas. É a primeira vez em cinco anos que eu esqueço disso. E acho que foi por sua causa.

- Por minha causa? – ela perguntou, sorrindo.

- É. Eu... pensei em você o dia inteiro ontem.

- Sério? – Dione perguntou, abrindo ainda mais o sorriso.

- Sério. Acho que... mesmo que eu não tivesse que vir até a agência, hoje, eu teria vindo. Estava querendo te ver de novo...

- Que bom! A gente se curtia tanto durante o comercial e depois... cada um foi pra um lado e... perdemos contato...

- É...

- Aquela paquera gostosa ficou no ar, não foi?

Ele sorriu.

- A paquera não era nossa, Didi. Nós éramos dois personagens... de um comercial de roupas.

- Mas e se fosse?

Marcos ficou em silêncio e não respondeu. Ela insistiu:

- O que você faria... depois daquele último encontro lá na loja de roupas?

Marcos apoio o rosto na mão direita e respondeu, sorrindo, olhando dentro dos olhos dela:

- Convidava ela pra tomar um refrigerante.

Dione riu cruzando os braços sobre a mesa.

- Isso não vale. Eu já convidei.

- Mas você não é ela. Você é a Dione. E eu não sou ele. Sou...

- Não dava pra fazer de conta? – ela perguntou séria.

Marcos ficou sério também. Ele inclinou-se mais sobre a mesa e ela fez o mesmo. Bem devagar, seus rostos foram se encontrando e eles beijaram-se com carinho.

De repente, todas as pessoas que estavam na lanchonete começaram a aplaudir e os dois olharam em volta assustados. Depois olharam um para o outro e riram.

- Acho melhor a gente ir embora, ela disse. - Já ficamos famosos demais por aqui.

- É, só que dessa vez não tinha câmeras.

Antes de conseguirem sair da lanchonete, deram uma boa dúzia de autógrafos para os jovens que os conheciam e estavam no local e foram para a moto. Marcos foi levá-la ao prédio onde ela morava e depois de descer da moto, ela perguntou:

- Vai ficar só nisso também, como no comercial, não é?

- Não sei... Você tem um namorado...

- Ele não suporta você...

Marcos sorriu.

- Imagino...

- Me liga. O telefone está no guardanapo. Coloquei no bolso da sua jaqueta.

Ele colocou a mão no bolso da jaqueta e retirou de lá o papel. Riu.

- Nem senti.

- Liga depois das oito. Vou pro colégio à tarde.

- Certo.

- Liga mesmo.

- Ligo.

Ela se aproximou dele e o beijou gostoso na boca; depois afastou-se e da porta do prédio acenou para ele sorrindo. Marcos fez o mesmo, ainda entorpecido e deu a partida na moto, fazendo o retorno e indo embora, depois de olhar ainda mais uma vez para ela.

Marcos não contou a ninguém o que havia acontecido entre ele e Dione. Ainda não podia garantir que ia acontecer algo de mais sério entre os dois porque, afinal da contas, ela ainda tinha um namorado. Mas o fato não saiu de sua mente pelo resto do dia. Ainda sentia a maciez dos lábios dela em sua boca.

Á noite, em seu quarto, ficou olhando para o telefone, pensando se ligava ou não. Não sabia se ia ser bom ou se ia entrar numa disputa amorosa com o outro rapaz, ainda mais sabendo que ele já tinha percebido e sentido algum clima diferente entre os dois.

Estava nesse dilema quando o telefone tocou. Ele atendeu.

- Alô.

- Marcos?

- Eu, quem é?

- Luciano, cara. Já esqueceu minha voz? Seu maninho do coração!

- Oi, cara! Tudo bom? Vai chover canivete hoje. Você, ligando?!

- Não exagera. Liguei não faz nem duas semanas.

- Dois meses, você quer dizer. Como é que você está, moleque?

- Pergunta onde eu estou que você vai cair de costas.

- Onde?

- Em São Paulo! Na velha Sampa!

- Aqui? Em São Paulo!?

- Exatamente. Estou no aeroporto. Vem me buscar. Não sei nem como pegar táxi nessa cidade.

- Você só pode estar brincando, Luciano.

- Não estou. Eu estou aqui, em Congonhas.

- Sozinho? A mamãe veio com você?

- Não. Vim sozinho. Ela ficou lá, me xingando até. Vem me pegar. Estou morrendo de frio, cara. Ô cidade gelada, meu!

- Mas por que você veio? O que aconteceu?

- Acho bom você vir me buscar primeiro ou eu vou virar picolé. Depois a gente conversa. Tchau, Marcão.

- Tchau uma ova! Não vou buscar, não. Não dá nem vinte minutos de táxi daí até aqui. Pega um táxi e vem, cara! É só pegar a Bandeirantes direto, sentido Brooklin Novo. Não tem erro. Não é a primeira vez que você vem.

- Custa você vir me buscar?

- Droga! Quando é que você vai crescer, Luciano?

- Amanhã cedo, depois do café. Espero você onde?

- Saco! Na praça.

- Ah, legal. Já estou nela. Até já, maninho.

Luciano desliga o telefone. Marcos apanhou o agasalho morrendo de raiva e saiu do quarto.

- Thereza!

- Oi! – ela gritou da cozinha, aparecendo em seguida.

- Vou buscar o Luciano no aeroporto.

- Luciano? Ele veio pra cá?

- Veio. E sozinho. Avisa o papai quando ele chegar. Ele não vai gostar nada disso. Tchau.

MAR DE AMOR

PARTE 1

SOMOS PRODUTOS DO QUE FAZEMOS / BONS TEXTOS, BOAS IMAGENS,

BOAS MENSAGENS DEVEM SER ESCRITAS / MAS QUEM DIGITA TUDO SOMOS NÓS

NÃO SE IMPORTE SE NÃO HOUVER LEITORES / O PRINCIPAL É A INTENÇÃO

PAZ, LUZ, ALEGRIA E HARMONIA...

ALÉM DE MUITA SAÚDE A TODOS!

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