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Cinco anos atrás, eu salvei a vida do meu noivo numa montanha em Campos do Jordão. A queda me deixou com uma deficiência visual permanente — um brilho constante, uma lembrança cintilante do dia em que o escolhi em vez da minha própria visão perfeita.
Ele me retribuiu mudando secretamente nosso casamento de Campos do Jordão para o Rio de Janeiro, porque sua melhor amiga, Amanda, reclamou que era muito frio. Eu o ouvi chamar meu sacrifício de "drama sentimental" e o vi comprar para ela um vestido de cinquenta mil reais enquanto zombava do meu.
No dia do nosso casamento, ele me deixou esperando no altar para correr ao lado de Amanda por causa de um "ataque de pânico" convenientemente cronometrado. Ele tinha certeza de que eu o perdoaria. Ele sempre tinha.
Ele não via meu sacrifício como um presente, mas como um contrato que garantia minha submissão.
Então, quando ele finalmente ligou para o salão de festas vazio no Rio, deixei que ele ouvisse o vento da montanha e os sinos da capela antes de eu falar.
"Meu casamento está prestes a começar", eu disse a ele.
"Mas não é com você."
Capítulo 1
Ponto de Vista: Beatriz Barros
Meu noivo mudou o local do nosso casamento do único lugar na Terra que significava tudo para nós, para o Rio de Janeiro, porque sua melhor amiga, Amanda, disse que Campos do Jordão era muito frio.
Eu estava ali, escondida atrás de um grande vaso de Ficus lyrata no lobby da empresa de investimentos do Kadu, e as palavras me atingiram como um soco. O ar sumiu dos meus pulmões, e os projetos arquitetônicos meticulosamente desenhados para a capela em Campos do Jordão, que eu segurava na mão, de repente pareceram uma pilha de papel inútil.
Por cinco anos, Campos do Jordão tinha sido nosso santuário. Era mais do que um local; era um testamento. Era a encosta coberta de névoa onde eu encontrei Kadu, seu corpo quebrado e pendurado por uma corda puída depois que um movimento de escalada deu terrivelmente errado. Foi o lugar onde, na luta desesperada e frenética para salvá-lo, uma queda me deixou com uma deficiência visual neurológica crônica — um mundo que às vezes brilhava e embaçava nas bordas, uma lembrança permanente do dia em que escolhi a vida dele em vez da minha própria visão perfeita.
E ele estava trocando tudo isso pelo Rio. Pela Amanda.
Eu podia vê-lo através da parede de vidro da sala de reuniões, recostado na cadeira, a imagem da arrogância casual. Seu amigo e colega, César Guimarães, um eco de fraternidade do próprio mundo privilegiado de Kadu, estava sentado na beirada da mesa.
"Você está louco?", perguntou César, sua voz um murmúrio baixo que eu mal conseguia ouvir. "Você não contou para a Bia?"
Kadu acenou com a mão, desdenhoso, focado no celular que estava rolando. "Eu vou contar. Ela vai superar."
"Superar? Kadu, a mulher tem um fichário. Um fichário mais grosso que nosso último relatório trimestral. Ela está planejando essa coisa de Campos do Jordão há um ano. É... você sabe... a praia dela."
"É um casamento, César, não um lançamento de foguete", suspirou Kadu, sua voz carregada de uma impaciência que parecia mil pequenos cortes. "Todo aquele drama sentimental sobre a montanha... já deu. Além do mais, o Rio é melhor. É uma festa."
"A festa da Amanda", corrigiu César, com um sorrisinho nos lábios. "Ouvi dizer que ela estava reclamando da altitude."
"A asma dela ataca no frio", disse Kadu, seu tom mudando, suavizando com uma preocupação que ele nunca, jamais, usava comigo. "Ela precisa do ar quente."
"Certo. A 'asma' dela", disse César, fazendo aspas no ar. "A mesma asma que não a impediu daquela semana de iate em Angra?"
"É diferente."
"É sempre diferente com a Amanda", ponderou César. "Então, você está realmente mudando tudo? Por ela?"
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