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Deitado sobre a mesa desgastada da sala de aula, meu olhar vagava pela janela, observando o sol se despedir do dia com seus últimos raios dourados. O sinal já havia soado há muito tempo, e a sala estava deserta, apenas eu e minha fiel companheira, a solidão. Com meros dez anos, órfão e vivendo de favor, eu me encontrava ali graças à piedade alheia, que me garantiu uma bolsa de estudos.
Embora me esforçasse para levar os estudos a sério, as dúvidas se infiltravam em minha mente. Será que realmente valia a pena? O que eu poderia me tornar? A sabedoria, por si só, seria capaz de mudar meu destino em um mundo onde apenas os herdeiros prosperam? Inspirando profundamente, levantei-me da cadeira, percorrendo a sala com o olhar. As lembranças dos colegas, sempre radiantes ao contar sobre suas viagens, presentes de aniversário ou as próximas grandes compras de seus pais, assombravam-me. Eu merecia essa felicidade?
Recolhi meus cadernos, colocando-os na bolsa, e comecei a caminhar em direção ao lugar que chamavam de "casa", uma palavra que para mim soava amarga e vazia.
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Ao atravessar a porta da frente, o relógio marcava dezenove horas. Subi as escadas em silêncio, como de costume. A casa estava mergulhada numa quietude total; Dona Izui já devia ter saído. Ela me acolhera em troca de serviços domésticos, uma barganha que eu aceitei sem hesitar, visto que qualquer coisa era melhor do que viver nas ruas.
Após um banho rápido, desci para a cozinha e preparei um pão com suco, o que me servia como uma modesta refeição. Perdi-me em pensamentos enquanto lavava a louça, até que um movimento súbito me trouxe de volta à realidade. Não percebi que alguém se aproximara. Na casa, além de mim, apenas Dona Izui deveria estar presente. Ao me virar, deparei-me com uma figura feminina que me observava silenciosamente. Ela tinha a pele pálida, olhos cor de mel e cabelos negros azulados que desciam até o quadril. Meu coração quase saltou do peito ao notar que ela se aproximava. Sem pensar duas vezes, corri para meu quarto, sem ousar perguntar quem ela era.
A realidade já me sobrecarregava com problemas suficientes, e sabia que, se Dona Izui não mencionara sua presença, certamente havia um motivo. Deitei-me no colchão, tentando afogar as preocupações no sono, o único refúgio onde podia encontrar uma felicidade ilusória. E assim, entreguei-me aos braços do esquecimento noturno, onde meus sonhos pintavam um mundo onde eu não era apenas um órfão, mas alguém que realmente importava.
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Pontualmente, como de costume, levantei-me às quatro da madrugada, guiado pelo rigor de minhas responsabilidades domésticas que precisavam ser cumpridas antes de ir para a escola. Desci rapidamente as escadas, com a mente já fixada na tarefa de completar meus afazeres o mais depressa possível. Hoje seria um dia diferente; teríamos uma excursão, e eu estava ansioso, quase eufórico. A escola era meu único refúgio, e qualquer oportunidade de escapar da rotina era um tesouro inestimável para mim.
Comecei varrendo e passando pano no chão, a urgência em meus movimentos refletindo minha ansiedade. Separei as roupas sujas e as coloquei na máquina de lavar. Felizmente, a louça já estava lavada desde a noite anterior, o que adiantava meu trabalho. Saí para o quintal e, com mãos ágeis, reguei o jardim e a horta, tirando o lixo e deixando tudo em ordem. Quando terminei, o relógio já marcava seis e quarenta e cinco. Sem perder um segundo, corri para me arrumar e sair.
O ônibus partiria às sete e quinze, e corri o mais rápido que pude pelas ruas ainda adormecidas, mas meus esforços foram em vão. Ao chegar ao ponto de encontro, vi apenas o vazio deixado pelo ônibus que já havia partido. A decepção desceu sobre mim como um manto pesado, e meu rosto não conseguia esconder o desânimo. Senti uma mão suave em meu ombro e me virei, encontrando o olhar compassivo da diretora Miranda Bowen.
- Sinto muito, Tyler, sei o quanto você queria ir - disse ela, sua voz carregada de sinceridade e empatia.
Miranda era uma das poucas pessoas que não me olhava com desprezo. Mesmo sendo herdeira da família fundadora da cidade, tratava-me com uma igualdade que aquecia meu coração. Sua gentileza contrastava fortemente com a indiferença que eu geralmente encontrava.
Sem outra opção, dirigi-me à biblioteca, meu santuário de conhecimento e histórias. Ali, entre as estantes repletas de livros, eu passaria o dia.
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Enquanto caminhava pelas fileiras de livros, uma melancolia suave invadia meu peito. A realidade do dia perdido ainda pesava sobre mim, mas ali, cercado pelo silêncio acolhedor da biblioteca, encontrava uma forma de consolo. Sentado em uma mesa isolada, abri um livro antigo e deixei que as palavras me transportassem para um lugar onde a decepção não podia me alcançar. Em meio ao turbilhão de pensamentos e emoções, permiti-me um breve sorriso. Naquele momento, no coração de tantas histórias, eu não estava mais sozinho.
Perdido no universo silencioso dos livros, não percebi a presença de alguém que me observava atentamente. Estava em meio ao meu quinto livro, ou ao menos fingindo lê-lo, pois na verdade apenas folheava as páginas, parando apenas quando algo realmente capturava meu interesse. Levantei os olhos por um instante e, para minha surpresa, encontrei um par de olhos mel fixos em mim, cheios de curiosidade.
Com um sobressalto, levantei-me, espantado ao vê-la ali. Seria ela alguma sobrinha ou neta de Dona Izui? Ela nunca mencionara nada sobre essa garota. Mas, novamente, Dona Izui raramente compartilhava algo comigo.
Tentei ignorá-la, caminhando em direção às estantes em busca do próximo livro. No entanto, senti sua presença como uma sombra, seguindo-me a cada passo. Continuando meu percurso, sentia-me cada vez mais incomodado e, ao perceber que ela ainda me seguia, virei-me de repente, encarando-a diretamente. Talvez, pensei, se ela se sentisse afrontada, iria embora.
Nossos olhares se cruzaram numa espécie de duelo silencioso. Seus olhos, tão serenos e profundos, eram impenetráveis. Senti um frio na espinha, uma sensação de vulnerabilidade sob aquele olhar inabalável. Não sei quanto tempo passamos assim, apenas nos encarando, mas para mim parecia uma eternidade. Eventualmente, minha determinação fraquejou e fui o primeiro a desviar o olhar. Aqueles olhos me davam arrepios, como se pudessem ver através de todas as minhas defesas.
Sentei-me novamente, fingindo retomar a leitura, mas minha mente estava uma tempestade de pensamentos e emoções. Quem era ela? O que queria de mim? O desconforto crescia, mas também uma curiosidade inquietante. Em meio à solidão habitual da biblioteca, a presença daquela estranha parecia quase surreal, um enigma que eu não sabia como resolver.
Enquanto tentava focar nas palavras diante de mim, sua imagem não saía de minha cabeça. Ela era uma intrusão em minha rotina cuidadosamente construída, um mistério que, de repente, eu sentia uma necessidade quase desesperada de desvendar.
Olhei para o relógio na parede e vi que já se passava das dezessete horas. Resolvi que era hora de voltar para casa. Hoje, Dona Izui sairia mais cedo para um destino desconhecido, então eu teria a oportunidade rara de chegar antes do habitual. Deixei para trás a garota, que continuava a me observar com aqueles olhos curiosos, e segui meu caminho.
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