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NARRAÇÃO JANAÍNA
São 22h da noite e a gritaria já começou aqui em casa. Mesmo com os fones de ouvido ainda posso ouvir a Sophi gritando com o meu pai. Tem sido assim desde que ela completou dezoito anos e se acha a dona da própria vida. Terminou os estudos, mas se nega a fazer faculdade. Trabalha como vendedora em uma loja de roupas no centro da cidade e o pouco salário que recebe fica pra ela, sem ajudar nas despesas da casa. A verdade é que seu pouco salário é investido em roupas caras e baladas de gente rica.
Encaro meu caderno e não tenho condições alguma de continuar estudando com essa gritaria. Fecho o caderno e os livros, deixando tudo no canto da pequena escrivaninha. Sou mais velha que Sophi apenas dois anos. Dediquei um ano da minha vida após o colégio para estudar e entrar em uma faculdade pública. Acabei de entrar no segundo ano de medicina e minha vida está uma loucura. Trabalho em um pequeno consultório médico como recepcionista do Dr. Francisco, um chato cirurgião plástico com uma mulher plastificada. A porta do quarto se abre e Sophi surge furiosa. Entra e bate a porta com tudo.
- Nem pense em sair desse quarto hoje.
Escuto meu pai gritar da sala e ela revira os olhos.
- Velho chato.
Resmunga e arranca sua roupa de trabalho. Da cama apenas a observo pegar uma toalha e ir para o banheiro. Dividimos o mesmo quarto desde sempre. Assim que ela entra no banheiro, a porta do quarto abre e minha mãe aparece.
- Onde ela está?
- No banheiro.
Solta um longo suspiro.
- Não aguento mais esses dois.
- Bater de frente com ela não vai resolver.
- Eu sei... o problema é o seu pai. Eles são muito parecidos.
- Sim...
Aproxima-se da minha cama e me olha com carinho.
- O que Sophi nos dá de trabalho, você é o oposto.
- Só quero ser alguém na vida e seguir meu sonho.
- Um lindo sonho.
Senta-se na cama.
- Tenho tanto orgulho de você.
- Ela só esta em uma fase complicada, logo toma rumo na vida.
- Espero que sim.
Beija minha testa e sai do quarto, fechando a porta. Deito e me enterro no travesseiro, tentando dormir, já que acordo muito cedo amanhã. Um barulho estranho me acorda. Abro os olhos assustada e vejo minha irmã sentada na janela, está toda arrumada pra sair.
- Sophi...
Sussurro e ela me olha, sorri e me lança uma piscada.
- A vida é muito curta, Janaína!
Se joga da janela e sei que isso não vai prestar.
***************
TRÊS MESES DEPOIS
Chego em frente de casa e a gritaria começou cedo hoje. Respiro fundo e abro a porta.
- Você é uma vagabunda!
Meu pai grita para minha irmã que chora no canto da sala. No sofá minha mãe chora como ela, enquanto meu pai grita como louco.
- Quem é o pai dessa criança?
Oh merda! Olho para Sophi que abaixa a cabeça.
- Responde!
- Eu não sei...
Sua resposta é baixa e o vejo erguer a mão para bater em minha irmã.
- Não...
Me coloco entre os dois e meu pai me olha assustado.
- Não bata nela.
- Sua irmã merece apanhar.
- Nada justifica uma agressão.
- Mauro, já aconteceu!
Minha mãe diz se aproximando.
- Você não pode aceitar isso, Sandra! Sua filha é assim por sua culpa.
Sophi está encolhida atrás de mim, sem dizer nada.
- Saia da minha casa!
Meu pai diz com um olhar sombrio.
- Pegue suas coisas e saia dessa casa.
- Pai!
Sophi tenta argumentar, mas ele avança e consigo impedir que a toque.
- Saia...
Tenho medo de seu olhar agora.
- Vai expulsá-la grávida?
Pergunto completamente chocada com essa atitude. Ele se quer está pensando em como Sophi vai sobreviver com essa criança.
- Que procure o pai para ajuda-la. Não receberá nenhuma ajuda minha e de sua mãe.
Olho para a minha mãe e me decepciono ao ver que não se posiciona contra.
- Se ela for, também vou.
Digo firme e minha irmã segura meu braço.
- Não faça isso, Janaína!
- Se expulsá-la, estará me expulsando também.
- Se vai defender sua irmã, então presta menos do que ela. Quero-a fora de casa e se for com ela, ambas deixarão de existir pra mim.
- Então hoje o senhor perde duas filhas.
Viro e olho para Sophi.
- Vamos arrumar nossas coisas.
- Não temos pra onde ir. Não quero que sofra por um erro meu.
- Uma criança nunca é um erro. Se ela está em sua barriga é porque Deus tem um propósito. Meu sonho é ser pediatra, porque amo crianças e não posso aceitar que rejeitem uma.
Seguro suas mãos.
- Vai ficar tudo bem se confiar em mim e nos unirmos. Confia em mim?
- Sim...
- Então vamos...
***********
CINCO MESES DEPOIS
Ajudo Sophi a terminar de arrumar o berço da nossa garotinha.
- Logo ela estará aqui!
Diz cansada e vejo sua enorme barriga.
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