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Prólogo
Luciano Moretti
O sol já estava alto quando abri os olhos, e a luz da manhã grega atravessava as cortinas entreabertas como uma lembrança violenta de que o mundo lá fora ainda girava, mesmo que algo em mim tivesse parado. Estiquei a mão para o lado da cama, esperando encontrar a curva do corpo de Belle, sua pele morna contra os lençóis. Mas só encontrei o frio.
Um frio vazio.
Um vazio que arrepiou minha pele e fez meu peito se comprimir de um jeito que eu não soube explicar de imediato.
Demorei a levantar. Meu corpo parecia reconhecer antes da minha mente que algo estava errado. O silêncio da casa não era o mesmo silêncio das manhãs anteriores, carregado de cumplicidade. Era um silêncio oco, pesado, desabitado. Um silêncio que grita.
- Belle? - Chamei, a voz rouca, quebrada no ar como se temesse a resposta que não viria.
Não houve resposta.
Não havia cheiro de café, nem som de xícara na bancada, nem aquele leve arrastar dos pés descalços dela pelo chão. A cozinha estava limpa demais. Intocada. Como se ninguém tivesse estado ali desde ontem. Como se tudo tivesse sido apagado.
Meus olhos caíram sobre a mesa.
Havia um bilhete. Um pedaço de papel dobrado. Meu coração disparou, os pés vacilaram. Cada passo até ele foi como atravessar uma ponte prestes a ruir. Peguei o papel com mãos trêmulas e, assim que li a caligrafia suave, precisei me segurar para não cair.
"Me esqueça."
As duas palavras mais cruéis que alguém pode escrever. As duas palavras que dissolveram minha alma com a precisão de uma lâmina.
Li uma, duas, três vezes... como se o sentido pudesse mudar, como se fosse possível que aquele bilhete tivesse sido escrito por engano. Mas não. A letra era dela. O corte era intencional.
E ainda assim... impossível de aceitar.
Senti o ar faltar. Um nó se fechou em minha garganta e o peito começou a arder. Um pânico mudo tomou conta de mim.
Corri para o quarto. Abri o armário. Gavetas. Malas. Nada. Nenhuma roupa, nenhum perfume. Nenhuma presença. Tudo dela havia sumido, como se jamais tivesse existido. Como se o último ano fosse um delírio construído pela minha carência mais funda.
- Belle... - Sussurrei, sentindo o nome arder na língua.
Meus joelhos cederam, apoiei-me na cama, tentando respirar, tentando entender como aquela mulher que adormecera nos meus braços na noite anterior simplesmente evaporou. Tínhamos jantado à luz de velas, rido de uma lembrança boba, feito amor como quem sela uma promessa. E agora ela tinha ido embora como se nunca tivesse estado aqui.
Saí da casa como um homem em chamas. Verifiquei todos os cômodos. O jardim. A varanda. O banheiro. O quintal. Gritei seu nome tantas vezes que minha garganta arranhou. Corri até a praia, onde a areia ainda trazia marcas dos nossos passos da noite anterior. Mas ela não estava ali.
O vento cortava minha pele, e as ondas levavam minha voz. Eu gritava como um louco.
Não.
Como um homem que acabava de ser quebrado.
Voltei para dentro da casa, os pés pesados, o corpo trêmulo. Afundei no sofá como se aquele fosse o único lugar do mundo que ainda pudesse me sustentar. Minhas mãos foram ao rosto, e então vieram as memórias.
O jeito como ela ria ao me provocar. O gosto do sal em sua pele. As noites em que prometemos - mesmo sem dizer em voz alta - que aquilo não era apenas uma fuga. Era real. Real demais.
Por que, então, ela teria ido embora?
A raiva subiu de repente, crua e descontrolada.
Ela tinha me enganado? Me usado?
Ou será que... ela ...
Mil pensamentos se perdiam em minha mente em confusão.
Nada fazia sentido. Nada.
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