As Crônicas de Marum - O Primordial
T
barreira contra a consumação total do planeta pelo frio. Este Sol, um gigante ardente de luz e calor, ba
s translúcidos. Estes cristais, formados ao longo de eras, cobrem não apenas a superfície, mas se infiltram profundamente, entrelaçando-se com o próprio núcleo do planeta. Como veias de gelo, eles perco
m manto rubro, esta areia é dotada de propriedades divinas. Ela parece gerar um calor próprio, sutil mas persistente, que permeia o solo do planeta. Este calor
solada. As dunas e planícies de areia, com suas ondulações suaves e cor escarlate, contrastam dramaticamente com os
s. Até hoje, não há relatos de seres vivos que conseguiram chamar esse lugar de lar. Sua superfície, um e
e impecável, contrastando com a marcante sobrancelha escura e bem definida que arqueia ligeiramente acima dos ol
empórious exclama, seu fôlego se transforman
toque de elegância ao seu semblante cansado. Seu nariz reto e lábios finos, normalmente em expressão neutra, agora se contorcem em desconforto pelo frio. As maçãs do r
recarregados. Minha voz, mais baixa que a dele, reverbera com cansaço. - Sabe como os cristais arcririsianos são resistentes. - As palavras saem de minha boca enquanto continuo a bater a lâmina da a
que a mineração, é forçada a se adaptar a esse papel indigno. A lâmina, cuja história está entrelaçada com a própria criação do Universo, agora é reduzida a um mero instrumento de escava
har internamente. - Eu deveria estar acostumado com isso - reflito, ouvindo mais uma vez a reclamação de
rar em meus ossos, tão penetrante
consistentes com seu corpo esbelto e tonificado, se encolhendo. - Concentre-se - repreendo-me internamente, tentando afastar
har enquanto você termi
o, continuo a trabalhar nos cristais, minha atenção dividida entre a tarefa e a preocupação com Tempórious. No entanto, quando levanto os olhos, percebo que ele já se foi, minha advertênc
rante quanto o frio que nos rodeia. Respirando fundo, foco novamente nos cristais, sentindo
de
de cicatrização de feridas quando aplicada diretamente sobre elas. Além de suas virtudes medicinais, a areia vermelha desempenha um papel crucial no equilíbrio climático de Arcríris: possui uma habilidade extraordinária, ainda desconhecida pe
O
tons de laranja e vermelho, espalhando sombras longas e frias sobre a paisagem. A descida do Sol não é apenas um
scuridão se aproxima. O ar, já gelado, torna-se cortante. Cada respiração se torna m
movimento que faço, oferecendo pouca proteção contra o gelo que começa a se formar em minha pele. O tecido, já gasto pelo us
na adaga primordial se torna uma luta. Sinto a rigidez se apossar de minhas articulações, dificultando a tarefa que já
ndo ao desconforto físico. A ideia de ser pego pela noite neste planeta
so com a rapidez com que o crepúsculo se instalou, e uma sensação de desorientação me atinge. - Já anoiteceu? Quanto tempo será que se passou
uas grandes bolsas feitas de folhas resistentes. A tarefa é mecânica, mas minha mente está em outro lugar - com Tempórious. - Ele deveria ter voltado já - penso, sentindo uma pontada de ansiedade. - Será q
aca do crepúsculo mal iluminando a vasta extensão de cristais e areia vermelha. A preocupação por Tempó
a escuridão, procurando qualquer sinal de meu companheiro. O frio da noite se
stidão nua, desprovida dos habituais cristais reluzentes. Meus passos se tornam cautelosos, meus olhos varrendo a área com uma mistura de curiosidade e apreensão. - Iss
ncia dos cristais é tão desconcertante quanto a presença de um novo perigo oculto.
o silêncio sepulcral. Viro-me rapidamente, a adrenalina inundando meu
or algum instrumento afiado. Meu coração bate mais rápido, percebendo que esse rastro é recente, um sinal de que nã
surpreendente. No final dela, quase emergindo das sombras da noite, está um pequeno ser azula
melham a raízes, pulsando com energia viva. Seus olhos brancos de um vazio penetrante me encaram, quase como se ele pudesse ver através de mim
músculos dele ondulam sob a pele, as veias esbranquiçadas proeminentes nos braços e torso
visto tiveram a mesma ideia de Máterum - diz ela, um leve traço de sarcasmo tingindo sua fala.
a de preocupação começa a se formar. Meus dedos tocam a bainha da adaga
um tom de zombaria, claramente se referindo a Tempórious. Ele começa a avançar em minha direção, seus
ura. Observo a criatura com mais atenção, notando sua estatura baixa em comparação à minha. Ele veste dois cipós grossos enrolados dos ombros ao torso, formando
oração bate acelerado, não só pela ameaça iminente, mas também pela possível perda e pela raiva que começam a fervilhar dentro de mim com a notíc
dos planetas-vivos que Theos mencionou - penso, ignorand
palpável. O ser azulado, com um sorriso torcido de predador, anuncia sua intenção fatal. - Não s
ob a luz do céu estrelado de Arcríris, antes de ser arremessada em minha direção com uma força devastadora. A are
o mortal que ressoa na noite silenciosa. No entanto, a velocidade e a força da criatura são impressionantes, e an
escorre pelo meu abdômen e coxa. Olho para baixo, horrorizado, ao perceber que meu braço esquerdo foi arrancado, pendurado apen
espada e, com um olhar de satisfação sombria, desfere um chute violento em meu peito. O impacto é como um movimento final, esmagando meu esterno e
assaladora, recheada pela agonia física e o choque emocional pela brutalidade do ataque. O céu estrelado acima de mim gira, e os g
O
lisado, tanto fisicamente quanto mentalmente. Luto para manter a consciên
scárnio de sua voz cospe em minha vulnerabilidade, enquanto ele descansa casualmente contra a espada que ainda está fincada
stra. O lugar onde meu braço esquerdo deveria estar arde com uma dor insuportável, um vazio que pulsa com cada
prestes a se partir. A força para me erguer vem de um lugar desconhecido, alimentada pela adrenalina e pela recusa em aceitar a derrota. Meus olh
A dor é quase insuportável, uma tortura constante que ameaça me dominar. Mas, apesar da agonia física, não me permito desistir. A humilhação de ser de
pero me cercando como um espectro impiedoso, sua presença escura ameaçando me engolir por inteiro. A dor, o medo, a incerteza, tudo se mistura
ra a única que me resta, move-se com determinação trêmula. Desfaço a bainha da adaga e, com movimentos ágeis, mas dolorosos, tampo o coto sangrento do meu braço esque
z de ver seus movimentos. - reconheço, a realidade da situação tornando-se cada vez mais clara. Apesar da dor ins
Preciso distrai-lo o mais rápido possível, senão acabarei morto - penso, enquanto uma estratégia desesperada começa a se formar em minha mente. Cada m
meu oponente, cujos olhos brancos parecem ausentes de sentimentos. Ele se move com uma confiança ar
mais rápido, mas não parece muito inteligente. Porém, não vou conseguir ganhá-lo neste estado. T
que resistiria ao ataque da espada primordial - diz, seus olhos azuis profundos fixos em mim, o sorriso desaparecendo, substituído por uma expressão sombria - Infelizmente, tenho que acabar logo com
e é veloz, mas previsível, assim consigo antecipá-lo e, ignorando a dor lancinante em meu corpo, recuo rapidamente. Salto para trás, a
icamente, meus olhos vasculhando o ambiente em busca de algo, qualquer co
uja! - Ele se lança em minha direção com velocidade. A areia vermelha é j
quase instintivo, retalho o ombro do planeta-vivo com a adaga primordial. A lâmina corta a pele azulada, abrindo um
e surdo. Meus olhos se fixam na arma, vendo nela uma oportunidade. Com um esforço doloroso, me lanço em direção à espada, mas a do
a fluir. Levanto o olhar, vendo o planeta-vivo se recuperar, o sangue escorrendo de seu ombro ferido, seus olhos me encarando com uma ferocidade
- LEVANTA! - Mas a realidade é implacável; minhas pernas não respondem, um formigamento sinistro substituindo qualquer sensação. Com a
brutalmente contra a areia, enterrando meu rosto no solo vermelho. A lâmina da adaga corta o interi
os cabelos, puxando minha cabeça para trás e colocando meu pescoço vulnerável adjacente à lâmina friaca. Com um movimento rápido, corto parte dos meus próprios cabelos e, em um reflexo de sobr
s que ela possa atingir seu alvo. Seus olhos exibindo um triunfo cru
. A Gáilus de Arcríris ilumina a cena, sua luz fria e distante lançando sombra
do impacto é tão grande que sou lançado para trás, o mundo girando em uma tormenta de dor. Meu
ta vez atingindo minha barriga com uma força contundente. Uma dor aguda irr
s com semblante vazio de bondade. - Máterum solicitou que eu levasse um dos fi
dor insuportável. Em um ato desesperado, encho minha mão de areia e
meu peito. O golpe é tão forte que sinto como se cada osso do meu peit
e a dor. - Me desculpa - pede, com um rosto desdenhoso. - Isto não é pessoal, Ózis. Eu só te ac
a adaga na minha testa. A dor explode em minha cabeça, deixando-
anto manipula a adaga primordial em meu abdômen, causando um tormento indescritível, a lâmina c
suplico por misericórdia com uma voz rouca e fraca. As mãos trêmulas
de seu adversário. A noite de Arcríris testemunha um espetáculo de violência e sofrimento, um momento
tura, ele casualmente limpa a lâmina ensanguentada da adaga no meu torso ferido. O zérum frio arrasta-se pela minha pele, reabrindo
e, olhando para baixo, para mim, com um sorriso sádico. - Este símbolo te lembrará da minha superioridade e de minha benevolência, pois dec
ão terá a mesma sorte. Ele pega as duas bolsas que contêm os cristais que tanto esforço me custaram coletar, e sem um olhar para trás
r. Meus olhos turvos tentam focar nas estrelas acima, buscando um último vislumbre de beleza em um mundo que se tornou um inferno de dor e so
de
m símbolos místicos, corre ao longo da lâmina, ampliando-se sutilmente até a ponta, que se bifurca elegantemente em dois gumes afiados, reminiscentes de uma lança. O guarda mão é uma exibição extravagante de artesanato, com extensões que se assemelham a asas, ascendendo e curvando-se para trás em direção ao punho. Este design não só protege a mão. A empunhadura é robusta, envolta em um material
O
tária contra a inevitabilidade do fim. O frio implacável do planeta se torna um companheiro constante, um abraço gelado que o envolve enquanto ele luta par
e ser traído pelo destino, de ter sua história interrompida por um ato de brutalidade insensível. "Por quê?" A pergunta ressoa em sua mente, um
, se transformou em uma ameaça iminente, uma realidade sombria. Ele está impotente perante ela, fraco demais para lutar, muit
ra ele, morrer sozinho neste lugar frio e hostil, longe do calor de sua casa, longe do abraço de seus irmãos. Lágrimas de impo
testemunho silencioso de seu sofrimento, ecoando na vastidão vazia da noite. E enquanto a figura do planeta-vivo desaparece no horizonte, Ózi
se ao frio e silencioso abraço de Arcríris. No final, Ózis se rende, não à morte, mas à
e fecham e a vida se vai lentamente, onde o sangue se camuf