Em "Anjo", o início desta fascinante obra, mergulhamos nas páginas desta narrativa cativante, somos transportados para o cotidiano aparentemente comum de Seu Felipe, um zelador aposentado que busca satisfação em suas tarefas diárias em um modesto condomínio. No entanto, a chegada de Ana Júlia, uma jovem de dezesseis anos com um fascínio angelical, desencadeia uma série de acontecimentos imprevisíveis. O encontro casual entre o idoso e a jovem intrigante revela-se um ponto de partida para uma trama envolvente, repleta de mistério e descobertas inusitadas. À medida que Seu Felipe se vê envolvido em bilhetes misteriosos e elogios surpreendentes, uma teia de relações se forma, conectando personagens com passados duvidosos. Entre ilusões, inocência e pequenos delitos, "Anjo" promete levar os leitores por um caminho cheio de reviravoltas, explorando a complexidade das vidas entrelaçadas dentro desse pequeno universo em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
Eu reconheço que contar histórias fantasiosas é maravilhoso e possui inúmeras possibilidades para encantar o leitor, mas narrar as vidas de outras pessoas pode ser ainda mais empolgante. Minha vida é repleta de indivíduos que carregam um passado duvidoso, digno de uma "língua preta", e outros que estão cometendo pequenos delitos, tecendo suas histórias inacabadas. Esta narrativa em curso trata da vida do meu amigo, um senhor aposentado que encontra satisfação em trabalhar arduamente como zelador em um modesto condomínio em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
Para a desventura de muitos, este livro não contém obscenidades, mas sim ilusão, pilantragem e muita inocência.
Seu Felipe já estava aposentado quando a figura de Ana Júlia, uma jovem de dezoito anos com semblante angelical e cabelos loiros e lisos, surgiu em sua vida. Ele não percebia, mas Ana Júlia o rodeava. Passou por ele uma, duas, três vezes, enquanto ele estava concentrado em cortar a grama, ansioso para encerrar uma longa sexta-feira interminável e descansar.
Contudo, Ana Júlia persistia. Passou por ele mais algumas vezes e, por fim, parou:
- Oi, Seu Felipe. Vem aqui. Eu tenho algo para te entregar.
Ele já estava acostumado; todos gostavam muito dele e sempre lhe davam algo: roupas, bonés, calçados, alimentos, entre outras coisas. Mas dessa vez, a mocinha lhe entregou um bilhete:
- Só leia este bilhete quando o senhor sair daqui, tá bom?
Ele apenas acenou com a cabeça positivamente. Ao sair pelo portão, curioso, abriu o bilhete que dizia: "SEUS OLHOS SÃO LINDOS. Assinado: Ana Júlia." E, de fato, seus olhos eram bonitos, verdes. Em sua juventude, Seu Felipe era considerado o sósia do ator Francisco Cuoco, mas agora, embora não tenha perdido cabelo, era apenas uma sombra do que fora no passado.
Mesmo sendo pobre, lascado e velho, com apenas uma bicicleta velha para andar, ele estava recebendo bilhetinhos de uma garota que poderia ser sua neta. Naquele momento, não compreendeu totalmente, afinal, não sabia quem era Ana Júlia. Ao retornar para casa, cuidadosamente depositou o bilhete em uma gaveta repleta de objetos diversos, onde sabia que sua esposa não costumava mexer. Uma sensação de vaidade o envolveu, resgatando lembranças dos dias de juventude em que se entregava às músicas animadas da Jovem Guarda, transmitidas pelo rádio. Então, podemos concluir que ele estava feliz, sim, ele estava, um anjo estava lhe trazendo felicidade.
-Oi, amor. Chegou tarde hoje, né. -Disse sua esposa, dona Clara, uma senhora também aposentada, branca, cabelos loiros, cacheados, curtos, baixinha e rechonchudinha. -O que você está fazendo aí, mexendo nessas tralhas? -Já se dirigindo ao seu marido para ver o que ele estava escondendo.
-Não tô fazendo nada, Clara, só arrumando umas coisas aqui.