Quando Avery Harrington, herdeira de uma das maiores indústrias farmacêuticas do mundo, abandona a vida de luxo e poder para trabalhar para os rivais Boulevards, ela se depara com um jogo de lealdades e segredos. Mas com o retorno do enigmático Ethan Boulevard, seu novo trabalho se torna um campo minado de tensão e traição. À medida que sentimentos antigos e segredos obscuros ressurgem, Avery e Ethan devem confrontar não apenas suas diferenças, mas o destino de duas famílias poderosas em jogo.
O clima no escritório era tenso, quase sufocante. As paredes altas e repletas de estantes de livros davam ao ambiente uma atmosfera severa, enquanto o sol da tarde lançava sombras alongadas pelos cantos da sala. Meus irmãos, geralmente tão seguros de si, agora estavam inquietos, trocando olhares nervosos e tentando, em vão, esconder a ansiedade.
Adam, o filho do meio, andava de um lado para o outro, seu rosto marcado pela preocupação. Ele sempre foi o favorito de nosso pai, mas mesmo ele parecia temer o que estava por vir. Arthur, estava sentado no sofá de couro, com os olhos fixos no chão, suas mãos inquietas. Ele era o que mais temia a desaprovação do patriarca, sempre esforçando-se para atender às expectativas elevadas que ele colocava sobre nós.
Eu me mantinha perto da janela, observando o movimento dos empregados lá fora, tentando acalmar meus próprios nervos. O peso do que estávamos prestes a enfrentar estava claro para todos nós. O retorno de nosso pai à mansão não era um evento comum; quando ele nos convocava desse jeito, significava que algo sério estava prestes a acontecer.
- O que será desta vez? - perguntou Arthur, balançando seu copo de uísque.
- Seja o que for, eu e Augustine estaremos prontos. - respondeu Adam com sua habitual precisão.
- Ah, não seja sempre tão competitivo, irmão, isso é cansativo. - retrucou Arthur, com um sorriso sardônico.
- Alguém sabe se Avery virá? - Eu parecia ser o único verdadeiramente preocupado.
- Quem se importa? Ela é uma traidora. - disse Arthur, com desdém.
- Não seja tão competitivo, Arthur, isso cansa. - Adam fez uma careta para Arthur.
O silêncio foi interrompido pelo som pesado de passos se aproximando. As portas do escritório se abriram lentamente, revelando a figura imponente de nosso pai. Ele entrou, seguido de perto por nossa mãe. Sua presença dominava o ambiente, e todos nós instintivamente endireitamos nossas posturas, como se apenas sua entrada fosse um comando silencioso para nos prepararmos para o que ele tinha a dizer.
- Avery não vem, ela me ligou mais cedo. - anunciou papai, visivelmente insatisfeito.
- O que esperar daquela pirralha? - comentou Arthur com desdém.
- Não ouse falar assim da sua irmã. Não vamos desrespeitá-la; ela ainda é uma Harrington. - disse nossa mãe com firmeza e um leve toque de rancor.
A notícia da aposentadoria do nosso pai caiu como uma bomba. A sala, antes tensa, ficou ainda mais carregada com a antecipação da batalha que se aproximava. Enquanto Arthur e Adam já começavam a planejar suas jogadas, traçando estratégias e alianças, eu só conseguia pensar em Avery.
Avery sempre foi a exceção na nossa família. Enquanto os outros se entregavam à ambição, ao poder e à competição, ela se afastava disso tudo, buscando uma vida mais simples, longe das manipulações e das intrigas que sempre marcaram os Harringtons. Essa escolha a tornou diferente, mas também a colocou em uma posição de fragilidade agora que a sucessão estava em jogo.
Eu sabia que, apesar de sua distância das questões da família, Avery ainda era uma Harrington, e isso significava que ela poderia ser usada como peão ou alvo em meio ao caos que se aproximava. E eu não permitiria isso. Minha mente corria, formulando planos para protegê-la, para garantir que ela ficasse longe da tempestade que inevitavelmente se formaria entre nossos irmãos.
- O que você acha disso, irmão? - A voz de Adam me tirou dos meus pensamentos. Ele e Arthur estavam me olhando, esperando por uma resposta, um sinal de onde eu me posicionaria nessa disputa.
- Acho que ainda é cedo para tirar conclusões, - respondi, mantendo meu tom neutro. - Vamos ver como as coisas se desenrolam.
Eles trocaram olhares, claramente frustrados com minha falta de engajamento, mas eu não me importava. Para mim, essa disputa pelo poder não significava nada comparado à segurança de Avery.
- Não se iluda, irmão, - Arthur disse, seu tom carregado de cinismo. - Quando chegar a hora, todos estaremos no mesmo tabuleiro.
- Talvez, - respondi, olhando diretamente para ele. - Mas alguns de nós não jogam pelos mesmos motivos.
O comentário pairou no ar, mas não houve tempo para mais discussões. Nosso pai terminou de explicar o processo de sucessão e nos dispensou, deixando claro que deveríamos nos preparar para um ano de decisões difíceis. Quando a reunião finalmente chegou ao fim, eu procurei um momento para falar com Avery ao telefone. Era crucial que eu a avisasse sobre a situação e a preparasse para o que estava por vir.
- Avery, é melhor você vir para cá. - comecei, tentando manter a voz calma. - As coisas estão prestes a ficar complicadas. Nosso pai vai se aposentar e haverá uma luta pelo poder. Quero garantir que você esteja segura.
- Eu já estou ciente. - respondeu ela com uma tranquilidade surpreendente. - Tenho meus próprios planos e já tomei algumas precauções.
- Não subestime o perigo. - avisei. - Mesmo que você tenha se afastado, a situação está se tornando muito perigosa. Por favor, fique atenta.
- Não se preocupe com isso. Sei me cuidar. - A determinação em sua voz era clara, mas eu não podia deixar de sentir uma ponta de preocupação.
Despedimo-nos, e eu percebi que, apesar das minhas tentativas de proteger Avery, ela também tinha sua própria força e determinação. Mesmo assim, meu compromisso com a segurança dela permanecia firme. Em um mundo onde a lealdade e a sobrevivência se entrelaçavam de maneira perigosa, eu faria o que fosse necessário para garantir que ela estivesse protegida.
O próximo ano prometia ser um campo de batalha cheio de estratégias e traições, e eu estava preparado para enfrentar qualquer desafio que surgisse para proteger minha irmã e, eventualmente, a própria integridade da família Harrington.