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ECO DO SILÊNCIO
O som veio primeiro. Um barulho que nunca mais saiu da minha cabeça.
Não foi o choque, a batida em si. Isso veio depois, como um tremor distante. Foi o ruído que veio antes. Um gemido gutural, profundo, de metal se retorcendo, de vidro estilhaçando em câmera lenta dentro da minha própria mente. Um rangido longo, agonizante, que se fundiu para sempre com a última palavra que a Beatriz disse. Eu sinto esse som até hoje, latejando nos meus ouvidos nos momentos mais quietos.
Não a ouvi direito naquele momento. Minha cabeça estava longe, presa no fechamento trimestral, naqueles números teimosos que não fechavam, naquela pressão silenciosa e constante que o Viktor exercia sobre o conselho. O telefone no meu ouvido era só um canal para a minha própria frustração, que transbordava e respingava nela.
- Isso não é justo, Beatriz - minha voz soou cansada, irritada. - Não posso simplesmente sair agora. A reunião é crucial.
A voz dela, que normalmente era um riacho calmo, um alívio, veio afiada e cortante. - Crucial? Mais crucial do que a sua filha chorando porque o pai esqueceu de novo da peça da escola? Ela era uma árvore, Dante! Uma maldita árvore de papelão e glitter! Você tinha prometido.
- E eu vou estar na próxima. - A frase saiu oca, sem ar. Um clichê desgastado que eu mesmo não acreditava. - Manda uma mensagem para a professora, explica que houve um imprevisto. Eles entendem.
- O imprevisto é você! - A voz dela quebrou, mas não era choro. Era raiva pura, cristalina, a raiva de anos de ausência. - O imprevisto é a sua falta constante. A Melissa precisa de você. Eu preciso de você. Não do seu dinheiro, não do seu título de CEO. De você.
Fechei os olhos com força, esfregando a ponte do nariz. Sentia a dor de cabeça começando a latejar, uma pressão familiar atrás dos olhos. - Não comece com isso, Beatriz. Por favor, não hoje. Você sabe a pressão que estou sob. Meu pai construiu essa empresa do nada, e eu...
- E você está deixando que ela te consuma. Está deixando que eles te consumam. - O 'eles' era óbvio, dolorosamente claro: Viktor e o séquito de puxa-sacos dele. - Você está diferente, Dante. Algo está muito errado. Eu li aquele relatório... aquele que você deixou cair na sala de estar... sobre os lotes do Lúmen.
Um frio súbito, um choque de gelo, percorreu minha espinha inteira. - Você leu o quê? Beatriz, isso... isso não é assunto para... você não deveria ter...
- Não deveria o quê? Não deveria me preocupar? Não deveria achar estranho sumiços de medicamentos de alto custo dos registros? Não deveria desconfiar que o novo 'produto milagroso' de vocês tem dados bons demais, perfeitos demais para ser verdade?
- Pare. - A ordem saiu mais áspera, mais dura do que eu pretendia. - Pare com isso agora. Você não entende. É complexo. É perigoso ficar especulando sobre essas coisas.
Houve um silêncio do outro lado da linha. Um silêncio pesado, denso, carregado de algo terrível que ela havia descoberto. Quando ela falou de novo, a voz era um sussurro gelado, uma revelação fatal.
- Não é especulação, Dante. Eu encontrei... encontrei umas correspondências. No seu laptop antigo, aquele que você deixou no escritório em casa. O Viktor... ele não é só ambicioso. Ele é perigoso. De verdade. Eu... eu estou com medo.
Meu coração parou. Simplesmente parou de bater por um instante eterno, e então disparou, descontrolado, batendo contra minhas costelas. O escritório ao meu redor, o sofá de couro frio, a vista panorâmica de Nova York, tudo sumiu. Desapareceu. Só existia aquele fio de voz, carregando um perigo real, tangível, para dentro da minha vida. - O que foi que você encontrou? Beatriz, fala comigo. Me diz o que você viu!
- Não pelo telefone. - A decisão na voz dela era de aço, inflexível. - Estou indo aí. Agora mesmo. Precisamos conversar. Precisamos decidir o que fazer com isso. Pelo bem da empresa. Pelo bem da nossa família.
- Não, espera! Fica aí! Eu vou pra casa, eu... - Mas o medo que me apertou não era só por ela. Era por mim, pelo escândalo monumental, pela empresa, por tudo que desabaria. A hesitação durou um segundo. Um segundo fatal.
- Já estou no carro. - O som do motor de partida ecoou pelo viva-voz, um ruído comum que soou como uma sentença. - Chego em vinte minutos. Fica aí. E, Dante?
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