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Acordei depois de cinco anos em coma, um milagre, disseram os médicos. A última coisa de que me lembrava era de empurrar meu marido, Darek, para fora do caminho de um caminhão que vinha em nossa direção. Eu o salvei.
Mas uma semana depois, no cartório, descobri uma certidão de óbito emitida há dois anos. Os nomes dos meus pais estavam nela. E então, a assinatura de Darek. Meu marido, o homem que eu salvei, havia me declarado morta.
O choque se transformou em um torpor vazio. Voltei para nossa casa, apenas para encontrar Angélica Soares, a mulher que causou o acidente, morando lá. Ela beijou Darek, casualmente, com familiaridade. Meu filho, Enzo, a chamava de "mamãe". Meus pais, Alva e Gerson, a defendiam, dizendo que ela era "parte da família agora".
Eles queriam que eu perdoasse, esquecesse, entendesse. Queriam que eu dividisse meu marido, meu filho, minha vida, com a mulher que roubou tudo de mim. Meu próprio filho, a criança que carreguei e amei, gritou: "Eu quero que ela vá embora! Some daqui! Aquela é a minha mamãe!", apontando para Angélica.
Eu era uma estranha, um fantasma assombrando a nova vida feliz deles. Meu despertar não foi um milagre; foi um inconveniente. Eu havia perdido tudo: meu marido, meu filho, meus pais, minha própria identidade.
Mas então, uma ligação de Zurique. Uma nova identidade. Uma nova vida. Catarina Andrade estava morta. E eu viveria apenas para mim.
Capítulo 1
A primeira coisa que Catarina Andrade sentiu ao acordar foi a dor surda e persistente que se instalara no fundo de seus ossos. Por cinco anos, fora sua única companhia na escuridão.
O branco estéril do quarto do hospital tornou-se nítido. Era uma visão familiar.
Cinco anos. Os médicos disseram que foi um milagre.
Ela sofrera um acidente de carro. A última coisa de que se lembrava era o guincho dos pneus e o empurrão violento que deu em seu marido, Darek, tirando-o do caminho de um caminhão.
Ela o salvou. Esse pensamento era uma pequena e calorosa âncora no mar confuso de sua consciência que retornava.
Darek estava lá quando ela abriu os olhos pela primeira vez, o rosto uma máscara de alívio choroso. Seus pais, Alva e Gerson, também estavam lá, segurando suas mãos e agradecendo a Deus. Seu filho, Enzo, era uma figura pequena e desconfiada na porta, um menino agora, não mais o bebê que ela lembrava.
Tudo parecia certo. Doloroso, mas certo.
A primeira rachadura naquela frágil realidade apareceu uma semana depois. Ela precisava reativar seu celular, atualizar suas informações pessoais. Uma tarefa simples, pensou.
Foi ao cartório, apoiando-se no andador que o hospital lhe fornecera. A mulher atrás do balcão digitou seu nome no sistema.
A testa dela se franziu. "Catarina Andrade?"
"Sim", disse Catarina, a voz ainda rouca pelo desuso.
"Desculpe, senhora. Há um problema com seu cadastro." A voz da funcionária era baixa, hesitante.
"Um problema? Que tipo de problema?"
A mulher evitou seu olhar. "Diz aqui... diz que a senhora está falecida."
As palavras não faziam sentido. "Falecida? Isso é impossível. Estou bem aqui, na sua frente."
A funcionária apontou um dedo trêmulo para a tela. "Há uma certidão de óbito. Emitida há dois anos."
Um choque, frio e agudo, tomou conta de Catarina. Era um erro. Tinha que ser um pesadelo burocrático, um erro colossal. "Posso ver? O arquivo?"
A funcionária, vendo o desespero no rosto de Catarina, virou o monitor em sua direção, relutante.
Lá estava. Um documento oficial. Catarina Andrade. Falecida.
Seus olhos percorreram a página, o coração batendo um ritmo frenético contra as costelas. Então ela viu a seção para os familiares peticionários.
Alva Andrade. Gerson Andrade. Os nomes de seus pais.
O ar lhe faltou nos pulmões. Seus próprios pais a declararam morta. O mundo girou, as luzes fluorescentes do cartório se transformando em um borrão nauseante.
Então, seu olhar caiu sobre a assinatura final, a que confirmava a declaração legal.
Darek Almeida.
Seu marido. O homem que ela salvara. O homem cuja vida ela valorizara mais que a sua própria.
Sua assinatura familiar e elegante era uma marca no documento, gravando-se em seu cérebro. O mundo ficou em silêncio. A conversa preocupada da funcionária, o zumbido dos computadores, o tráfego distante — tudo se desvaneceu em um rugido em seus ouvidos.
Ela não sentiu nada. Um entorpecimento completo e oco se espalhou de seu peito para fora, congelando seus membros, seus pensamentos, seu coração.
Uma memória surgiu, sem ser convidada. Darek, de joelhos, pedindo-a em casamento sob um céu cheio de estrelas. Ele era tão jovem, tão sincero.
"Vou te amar para sempre, Cat", ele prometera, a voz embargada de emoção. "Não importa o que aconteça, nunca vou te deixar."
Outra memória. O dia do acidente. Ela tinha acabado de fechar um negócio gigantesco para seu protocolo de IA inovador, um projeto que a teria consagrado como uma lenda no mundo da tecnologia. A empresa de Darek estava em dificuldades, e ela deixara de lado suas próprias ambições para ajudá-lo, para salvar o sonho dele.
Os faróis do caminhão, ofuscantes. A decisão altruísta e instantânea de empurrá-lo para a segurança.
Tudo por isso. Para ser apagada.
As palavras de uma enfermeira do dia em que acordou ecoaram em sua mente. "A motorista do outro veículo, uma mulher chamada Angélica Soares, também se feriu, mas se recuperou rapidamente. Ela se sentiu tão culpada. Ela tem visitado você, ajudado sua família."
Angélica Soares. O nome não significava nada para ela então. Agora, parecia uma chave.
Seu celular, o que Darek acabara de lhe dar, tocou. O nome dele brilhou na tela. Ela encarou, a mão tremendo.
"Cat? Querida, você está bem? A enfermeira disse que você saiu. Você não deveria se esforçar tanto." Sua voz era um rio de preocupação suave e ensaiada. A mesma voz que ele usara por cinco anos enquanto visitava seu leito, segurando sua mão, dizendo que estava esperando por ela.
Ele se sentara ao lado de sua cama, um monumento de devoção para o mundo ver, enquanto ativamente apagava sua existência.
Naquela noite, quando ele veio ao hospital, ele a abraçou, seu abraço parecendo uma jaula. Ele a segurou como se ela fosse preciosa, frágil.
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