Chegou finalmente o dia tão esperado. Acabou a escola! Não preciso mais acordar às 6 da manhã. Tem sensação melhor do que essa? E claro também tem outra coisa boa: Não preciso mais fingir na frente dos meus amigos que não tenho nada com a Sabrina. Ela é professora da escola. Não pense coisas erradas de mim, ok? Eu não queria nada com ela exatamente por esse motivo. Imagina! Um aluno se relacionando com a professora? Uma mulher mais velha. Tá, não é tanta diferença de idade assim, o que pega mesmo é ela ser a minha professora. Mas foi só no último ano. Ela começou a dar aula para o ensino médio assim que entrei no terceiro ano. Sabrina tem vinte e três anos e eu completei dezoito. Não tem tanta distância assim entre nós, não é? Estava esperando minha mãe chegar. Detesto segredos e mentiras e por isso tomei a decisão de contar aos meus pais que estou apaixonado pela minha professora. Espero que não me condenem... - Oi, meu filho - ela se aproximou e beijou meu rosto. - Está tudo bem? - Sim. Eu queria conversar com você e o meu pai. - Aconteceu alguma coisa? - Não... nada demais... Ela cerrou os olhos na minha direção. Minha mãe sempre foi minha companheira. Me apoiava em tudo o que eu decidia, só que agora o assunto é delicado e isso me deixa nervoso. Meus amigos vivem dizendo que ela não parece ser minha mãe. Realmente ela não aparenta ter a idade que tem. Tem cabelos castanhos e olhos da mesma cor. Está sempre bem vestida e com um sorriso no rosto. Isso faz ela parecer dez anos mais nova. - Seu pai está chegando. Estou curiosa... Sorri com nervosismo. Ela também sorriu. - O que está aprontando? - Nada. - Me parece bem nervoso... Por que ela tem que me conhecer tão bem? Meu pai entrou em casa e olhou de mim para minha mãe. Logo franziu a testa. - Perdi alguma coisa? - Não. Seu filho diz que tem algo para contar - falou com mansidão. - É mesmo? E o que é? - Vamos para o seu escritório - falei. Minha boca estava seca. Por que estou tão nervoso? Com os dois acomodados confortavelmente, já podia contar. Eles estavam sentados nas poltronas de frente para mim. - Então...? - minha mãe falou curiosa. - Eu finalmente arrumei uma namorada - falei rápido e de uma só vez. Minha mãe sorriu largamente e meu pai soltou uma sonora risada. - Ah meu filho! Que coisa boa! - Ameaçou levantar. - Espera... tem mais uma coisa. - O que? - É a Sabrina. Agora os dois ficaram em silêncio. Minha mãe com os olhos um pouco arregalados. Meu pai estava mais surpreso. Não disfarçou o olhar de pavor. Ele passou a mão pelo cabelo. - A Sabrina? - Sim. - Mas ela é sua professora! - Era minha professora. As aulas acabaram. Os dois trocaram olhares. Depois de um longo momento em silêncio se encarando, minha mãe virou o rosto na minha direção. - Se é o que te faz feliz eu apoio - disse sorrindo. Ela levantou e me abraçou apertado. Mal sabia eu que era o começo de um tremendo pesadelo...
1º Capít lo
Quatro anos se passaram depois da minha revelação aos meus pais. No
início pareceu que meu pai não ficou muito satisfeito que eu namorasse a
Sabrina, mas depois de um tempo ele se acostumou com a ideia.
Nesse tempo eu tive altos e baixos com a Sabrina. Ela é complicada.
Quando cisma com alguma coisa, insiste até você confirmar. Minha mãe diz
que ela é mimada e que não mede esforços para conseguir o que quer.
Não acredito que seja uma coisa assim tão radical... Sabrina não faria mal a
alguém só para conseguir o que quer, não é? Eu acho que não. Ela só não sabe
ouvir um não quando quer algo. Os pais dela sempre tiveram dinheiro, mas
agora parece que o pai está tendo problemas no trabalho. Eu não sei ainda o
que é e a Sabrina fica furiosa quando tocam nesse assunto.
Meu pai milagrosamente estava em casa para o almoço e assim pude
perguntar. Ele é bem chegado ao pai da Sabrina.
- Pai?
- Oi, filho.
- O que aconteceu com o pai da Sabrina?
Ele ficou em silêncio me olhando por um momento.
- Ela não contou?
- Não. Na verdade, toda vez que alguém pergunta ela fica estressada,
então não quero tocar no assunto.
- Imagino mesmo o porquê de tanta revolta.
- Me diga então.
- O pai dela faliu.
- Faliu? Como?
- Ao que parece não pagava impostos... E também descobriram um
bocado de falcatruas na empresa dele.
- Jura?
- Qual a surpresa? Achou que ele fosse um homem honesto?
- Na verdade, achei. Você sabia que ele fazia essas coisas?
Meu pai suspirou e mexeu na comida sem prestar muita atenção ao que
fazia.
- Sim. Falei muitas vezes que um dia isso poderia dar problemas, mas ele
não quis me ouvir.
- Hum...
- Sabrina deve estar de mau humor, pois agora não terá mais a vida de
princesa que está acostumada.
- Mesmo que isso seja bem chato, ela tem emprego e ganha um salário.
Depois deve se acostumar.
Meu pai soltou uma sonora risada e eu franzi a testa. Qual a piada?
- Meu filho você não sabe que ela só está naquele emprego para encher
linguiça?
- Como assim?
- Geraldo deu um intimado. Ou ela arrumava um emprego, ou perdia a
mesada que ganha.
- Mas se ela arrumasse um emprego, qual a lógica da mesada continuar?
- A mesada é obscena, Daniel. Ele fez isso só pra ver se a Sabrina criava
um pouquinho de responsabilidade na vida. Mas pelo jeito... - A frase morreu
na boca dele e percebi que me olhou de um jeito esquisito.
- O que?
- Melhor mudarmos de assunto. Não quero que pense que estou falando
mal da sua namorada.
- Mas está? - perguntei calmo.
- Não. Só contei o que sei.
- Então pronto. Não vou achar nada.
- Tudo bem, mas vamos mudar de assunto. Chegaram dois novos
cavalos no Haras hoje. Quer conhecê-los?
- Claro. Você comprou?
- Ainda não... - Fez suspense.
- Hum... Que horas você vai?
- Depois de comer.
- Tá bom - falei sorrindo.
Adoro ficar no Haras. Principalmente quando tem algum cavalo novo.
Comecei a treinar salto há uns anos e gosto muito do que faço. Estou
pensando em começar a dar aulas lá...
Ao chegarmos ao Haras, meu pai pediu para ir até o estábulo e que os
cavalos estavam lá, mas não veio comigo. Dei de ombros e fui. Lá encontrei o
Miguel.
- Oi, Miguel. Meu pai falou que tem dois cavalos novos.
- Ah sim. Chegaram hoje de manhã. Vem cá. - Fez um movimento
pedindo para segui-lo.
Fui atrás dele e parei quando ele parou. Era um cavalo marrom com
manchas brancas. Bem bonito.
- Esse aqui tem dois anos. Disseram já ser adestrado e é bem manso. -
Passou a mão no focinho do cavalo e ele ficou parado.
- É bem bonito.
- Vamos ver o outro.
Segui ele até o fim do estábulo e assim que olhei o cavalo que estava lá
dentro, fiquei um longo momento sem piscar. Era o cavalo mais bonito que eu
já vi na minha vida! Todo preto. A crina lisa caia de um lado da cabeça e ele
brilhava de um jeito exuberante. Estava no final da baia, bem distante da porta.
Me aproximei e ele me olhou.
- Er... Sr. Daniel, não se aproxime muito...
- Por que não?
- Esse não é manso como o outro.
- É selvagem? - Virei meu rosto na direção de Miguel.
Sabe aquelas histórias de que pegam cavalos selvagens para adestrar?
Detesto esse tipo de coisa! Se o animal já está acostumado a ser livre, que
continue sendo!
- Bem, o dono diz que nasceu na fazenda dele, mas que nunca deixou
ninguém o montar.
- Sei... - Voltei a olhar o cavalo. Ele continuava no canto da baia e não
tirava os olhos de mim.
- Qual o Sr. gostou mais?
- Desse.
- Mas ele é indomesticado.
- Por que meu pai trouxe eles dois? - Voltei a olhar Miguel.
- Ele não disse?
- Não.
- Bem, então melhor perguntar a ele.
Franzi a testa e voltei a olhar o cavalo. Parecia hipnotizado. Estava do
mesmo jeito desde que me viu.
- Vou falar com ele então.
Segui até o escritório do meu pai e lá encontrei ele e o Rodrigo, que me
cumprimentou com um aperto de mão.
- E aí? Gostou deles?
- São lindos. Mas por que trouxe eles?
Meu pai sorriu largamente e eu pisquei, confuso.
- É seu presente de aniversário, filho.
Arregalei os olhos. Um cavalo? De aniversário? Será que meu pai sabe que
um presente é uma lembrança, ou uma blusa nova, ou qualquer coisa menos
extravagante, ou cara?
- Mas...
- Você não disse que queria começar a entrar em competições?
- Sim, mas...
- Então pronto! Precisa de um cavalo seu. Somente seu.
- É, mas...
- Ótimo! Estamos entendidos! Qual você escolheu?
Suspirei derrotado.
- O preto.
- Tem certeza? - Rodrigo perguntou.
- Sim.
- Mas ele não está adestrado.
- Tudo bem. Não tem problema - falei olhando meu pai, que sorria
largamente me olhando.
- Que coisa boa! Qual nome vai dar a ele?
- Ainda não sei. Vou ver como ele se comporta primeiro.
Depois de conversar com meu pai e tomar a decisão de ficar com o cavalo
preto, fiquei muito empolgado com a ideia. Rodrigo pareceu não aprovar
minha escolha, mas se o presente é meu, quem escolhe sou eu, certo?
Queria pegar o cavalo e montar, mas não deixaram. Miguel e Rodrigo
foram categóricos: nada de montar o cavalo até que se acostume. Tudo bem.
Eles não estão errados, mas eu estava tão empolgado que queria logo! Miguel
chegou a trancar a porta da baia... Não tenho cinco anos! Não vou entrar lá se
falaram que ele é indomesticado.
Não sei porque, mas não acho que seja...
Parei em frente a baia dele. Pelo menos a porta de cima o Miguel deixou
aberta e assim eu o vejo dali. Continuava no canto afastado da porta. Por um
momento passou pela minha cabeça que ele estava era com medo, mas no
segundo em que ele se aproximou da porta, eu quase corri, mas resolvi não me
mover e esperei para ver o que ele ia fazer.
O cavalo se aproximou da porta, mas não muito e ficou me encarando.
Fiquei parado no mesmo lugar olhando-o. Sempre gostei de cavalo, mas esse
tem algo a mais que não sei explicar...
Durante um bom tempo ele ficou no mesmo lugar me encarando. Achei
realmente que estivesse com medo e por isso não se aproximava, porém, ele
bufou e sacudiu a cabeça. Nesse momento fiquei tenso, mas não saí do lugar.
Ele se aproximou da porta lentamente. Os olhos presos em mim.
Agora estávamos um de frente para o outro, mas não me movi. Ele
esticou o pescoço na minha direção e então levantei a mão para acariciá-lo. Isso
bem lentamente. Toquei seu focinho delicadamente e ele balançou a cauda.
Logo moveu rápido a cabeça e por um momento achei que perderia os dedos,
mas ele só cheirou minha mão, para logo depois esfregar o focinho.
Sorri largamente e continuei acariciando-o delicadamente.
- Acho que é o começo de uma bela amizade, não é rapaz?
Ele bufou como se respondesse à pergunta.
À noite encontrei a Sabrina. Estávamos em um restaurante. Ela sempre
queria sair à noite e tinha que ser em um lugar bem chique e caro. Ela falava
sem parar sobre a escola e o quanto odiava aqueles adolescentes mimados e
respondões. Que se pudesse saia daquele lugar e de preferência dava na cara de
alguém. Disse que tinha um garoto que sempre a respondia atravessado e que a
única coisa que fez ele parar foi quando disse ser filha da diretora. Assim o
garoto passou a ser um anjo.
Sabrina continuou falando e falando, mas minha cabeça estava em outro
lugar. Pensava no cavalo preto e na possibilidade dele me deixar montá-lo. Isso
me empolgava demais! Nunca quis tanto subir em um cavalo bravo como
quero subir nele.
- Está me ouvindo?
- Claro que sim. - Me ajeitei na cadeira.
- Então...
Desviei o olhar dela, não é que eu ignore o que ela diz. É só que eu a
deixo falar e falar porque assim fica menos estressada, mas isso não quer dizer
que eu escute tudo o que ela fala. Até porque chega um momento que minha
mente vaga para outro lugar. Talvez um lugar mais alegre e com menos
reclamação...
Pensei de novo no cavalo e sorri. Ainda tenho que escolher seu nome.
- Está sorrindo pra quem?
- O que? - falei confuso.
- É aquela garota? - Apontou descaradamente para uma menina
sentada na mesa ao lado.
- Não estou sorrindo pra ninguém, Sabrina!
- Não se faça de idiota! Eu vi muito bem! - falou alto.
Olhei ao redor e as pessoas estavam olhando a gente.
- Para de falar alto, as pessoas estão olhando...
Ela olhou ao redor e ao perceber a mesma coisa que eu, amarrou a cara e
não falou mais nada. Sempre odiou pessoas escandalosas. E no momento ela
estava sendo uma dessas pessoas e sei que a raiva deve estar maior ainda agora.
Mas pelo menos não vai continuar gritando aqui.
Pedi a conta. Depois desse escândalo o melhor era ir para casa. Saímos do
restaurante e entramos no táxi. Sabrina não falou nada. O silêncio me
preocupa, pois acredito que quando for falar, não vai parar mais.
Tenho culpa por pensar em outras coisas quando ela só sabe reclamar?
O carro parou em frente ao apartamento dela. Desci do carro e
acompanhei até a portaria.
- Nunca mais sorria pra outra na minha frente!
- Sabrina eu não sorri pra ninguém.
- Eu vi muito bem! Não me faça parecer retardada! - Percebi que se
controlou para não gritar.
- Não sorri pra ninguém. Só me lembrei de uma coisa.
- Ah! Então nem prestava atenção no que eu falava?
- Você passou as últimas três horas falando sem parar! Eu nem tive
chance de contar as minhas coisas! - falei irritado.
Sabrina ficou em silêncio me encarando.
- Eu tenho que ir. - Virei as costas e segui para o carro, mas Sabrina
me segurou pela camisa. Respirei fundo. Estou cansado e quero ir embora
logo...
- Tudo bem. Me desculpe.
Franzi a testa e virei de frente para ela.
- É que eu estou estressada com as coisas aqui em casa. Aí nem notei
que... bem, não te ouvi.
- Sei...
- Você me desculpa? - Me puxou para mais perto.
- Tudo bem.
Ela sorriu largamente.
Me despedi dela e voltei para o táxi. Em alguns minutos, finalmente estava
em casa. Tomei banho e deitei na cama. Não sei se vou conseguir dormir.
Estou muito empolgado com meu cavalo novo...
Todos os dias eu visitava o cavalo e fazia carinho nele. Tinha que ter
paciência, então antes de tentar montar, queria que ele tivesse total confiança
em mim. E eu nele, é claro.
Depois de umas semanas o levei para fora depois de selá-lo. Diferente do
que Miguel achou, ele deixou fazer isso tranquilamente.
- Tem certeza? - Miguel perguntou visivelmente preocupado.
- Tenho e estou usando todos os equipamentos de proteção.
Miguel suspirou e se afastou. Me aproximei do cavalo e acariciei seu
focinho. Logo subi em suas costas. Esperei para ver a reação, mas ele ficou
parado. Arrisquei puxar a rédea para o lado e ele andou para o lado que eu
puxei. Fiz de novo para o outro lado e ele obedeceu.
Olhei Miguel com um grande sorriso e ele me devolveu um sorriso
nervoso.
Fiz o cavalo começar a andar e ele foi sem relutar. Quando percebi que ele
não me negava, fiz ele correr pelo lugar com a maior velocidade que consegui.
E põe veloz nisso! Acho que vou chamá-lo de Veloz.
Não... isso é muito clichê. Se bem que não me importo com isso. Mas
Veloz? Veloz... hum... Puxei as rédeas e ele parou.
- O que acha de Veloz?
Ele bufou e bateu a pata da frente no chão.
- Hum... Relâmpago?
Ele balançou a cabeça e bufou de novo.
- Tá... E que tal.... Cometa?
Agora ele relinchou alto e deu uns passos para trás, me fazendo agarrar as
rédeas. Achei que fosse me derrubar...
- Tudo bem. Então, Cometa.
Capítulo 1 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 2 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 3 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 4 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 5 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 6 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 7 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 8 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 9 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 10 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 11 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 12 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 13 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 14 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 15 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 16 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 17 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 18 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 19 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 20 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 21 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 22 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 23 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 24 O aluno e a professora
09/03/2022
Capítulo 25 O aluno e a professora
09/03/2022
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