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Perdida na Memória

Perdida na Memória

Lia Cordeiro

5.0
Comentário(s)
75
Leituras
9
Capítulo

Quando o seu maior inimigo está dentro de você... Kalvin é um jovem empreendedor, pelo qual tem orgulho de sua condição de solteiro. No entanto, alguns momentos, lugares e acontecimentos parecem querer lhe despertar para algo ou alguém. O maior problema é que ele de nada se recorda, ainda que lá no seu íntimo acredita se tratar de alguém que foi muito importante para sua vida... Mas, quem poderia ser? Nem sempre a memória se oculta por proteção, pode ser devido a um grande susto também, ou além... Todavia, lembranças podem cicatrizar e voltar de forma devastadora. Lina parece ter algumas respostas, mas onde ela poderia estar? E quem seria ela, afinal?

Capítulo 1 Kalvin Giorni - ENCONTRO INDESEJADO

- Tudo o que você ouvirá será a minha voz... Somente a minha voz. Nada mais importa. Se concentre na minha voz e esteja atento ao que vou lhe pedir. Quando eu contar até três, você terá 21 anos novamente. 1, 2 e...

Era incrível pensar em tudo o que me aconteceu para chegar aqui. E não era do meu feitio recorrer a extremos. Porém, eu já estava muito afetado. Desesperado por respostas e temendo, a cada dia, pela verdade que se tornava, ao mesmo tempo que mais clara, sombria.

Trabalho nas empresas "Giorni" há 7 anos, pertencentes à família. No início deste ano fui nomeado o novo presidente, cargo passado por meu pai. Ele já não tinha tanto vigor, e nos últimos meses, a debilidade parecia estar lhe vencendo. Ao menos, foi o que me contaram...

Enfim, sempre trabalhei com muito afinco, dedicação quase que total. Ou seja, não tinha tempo para relacionamentos amorosos sérios, nem nada do tipo, algo que minha mãe não poderia conceber. No último ano, eu só me deixava atrair para encontros persuadido por ela, que queria logo me ver casado e com filhos. Ah, eu já não aguentava mais aqueles encontros às cegas, mas eu nunca conseguia lhe negar nada. Só acho que eu deveria...

- Kal - chamou-me dona Marieta, minha mãe. - Largue desse computador, meu filho, e se apresse! Você não pode perder o encontro de hoje. Tenho certeza que, desta vez, será a garota certa.

Antes de observá-la, suspirei, desliguei o computador, peguei meu paletó e me direcionei a ela, beijando-a na testa, enquanto terminava de me aprontar, dizendo:

- A senhora sempre diz a mesma coisa. Já faz quanto tempo que passamos por isso? Uns... Oito meses?

- Ora, filho. Não seja aborrecido. Sorria mais. Você é tão bonito, inteligente... O melhor partido da cidade! Está na hora de arrumar um compromisso sério, e não pode ser com qualquer uma. Eu sei que desta vez...

- Ok, ok, mamá - falei por fim. - Estou saindo.

- Seja educado e...

Ainda ouvia algumas de suas chamadas, quando me senti paralisar e tudo o mais deixou de existir. Só havia uma luz azul-esverdeada numa infinitude escura.

- Senhor! Senhor!

Recobrei-me num susto, tendo a Mônica, minha secretária, me perfurando a bolha.

- O senhor está bem?

- Ah...Sim! Eu acho...

- O que aconteceu? - apareceu minha mãe, cobrindo nossas vozes. - Você está pálido, meu filho.

Sacudi a cabeça rapidamente e sorri, me voltando para ela, tentando desanuviar. Não que a ideia de me fazer de doente não soasse bem, a fim de me poupar do encontro daquela noite. No entanto, dona Marieta não me deixaria mais e se mudaria para o meu apartamento de vez. Eu não queria a minha mãe tão perto de mim assim... Ninguém merecia isso!

- Fique tranquila, mamá. Eu estou ótimo. Só me lembrei de uma solicitação urgente, mas posso resolvê-la amanhã de manhã.

- Ah, é bom que seja assim - resmungou. - Não vai ficar mais nenhum minuto aqui trabalhando. Vamos logo.

Enquanto ela chamava o elevador, Mônica se aproximou e falou, com um semblante lívido, quase num sussurro:

- Foi mais uma ausência, senhor. Já é a quarta vez nesta semana. Te chamei por cinco vezes até me atender. O que está acontecendo?

- Não se preocupe, Mônica - respondi no tom, mas ainda na tranquilidade fingida. - É apenas cansaço.

- O senhor deveria se alimentar melhor.

Mônica era a minha secretária desde antes da presidência. Já fazia 5 anos. Sempre foi cuidadosa com o trabalho e comigo, no modo geral. Claro que notei seu interesse por mim, algo além do profissional, mas eu partilhava da política do meu pai que não se envolvia em rolos amorosos com funcionárias da empresa. Porém, fora dela para o meu pai... O fato é que o casamento nunca o segurou.

Quanto a Mônica, passei a fingir não notar e nunca alimentei tal sentimento. Sei que logo percebeu isso. Namorou com um dos advogados da Masters, uma empresa automotiva. Se casou, teve uma filha e estava a ponto de se divorciar. Mônica nunca deixou de me olhar com olhos fixos, profundos, tímidos e, de certa forma, tristes. E estava fazendo-os agora mesmo. Não era sempre que eu os encarava... Na verdade, os evitava na maioria das vezes. Ela era uma excelente funcionária e eu não queria perdê-la...

- Vá para casa, Mônica - falei firme, fixando-a. - Seu horário já terminou há quase duas horas.

- Mas... - persistia na contração dos orbiculares dos olhos, como se fosse chorar a qualquer momento.

Aliviei a voz e complementei:

- Eu vou ficar bem. Agora vá! Descanse, pois amanhã teremos muito mais trabalho.

- Ok.

Lá ia eu para outro encontro indesejado...

***

Livrar-me da Mônica não era tarefa fácil, mas nem se comparava com o desafio que era a dona Marieta...

- A senhora não pode me acompanhar ao encontro.

- E por que não? - perguntou em 3 oitavas acima.

- Não ficaria bem, mamá. A senhora sabe...

Eu tentava me colocar divertido e não era só para fingir agrado pelo encontro. O fato é que a Mônica tinha razão para se preocupar... Ao menos, no que se referia a mim. Eu não me lembro de ter ausências antes destes últimos dois meses. E se eu ficasse paralisado por mais tempo?

Após convencer minha mãe, fui ao tal encontro. A bem da verdade, mal me lembro do nome da garota. Ela falava tanto, que não foi difícil me desligar. Porém, me senti paralisar outra vez, de repente... Acho que a moça faladeira nem notou. Não sei. Não prestei atenção.

Eu de nada me lembrava mais, porém o cheiro de avelã com coco, que aliás, eu detesto, e a cor azul celeste me soavam mais familiar do que deveriam. Em minhas ausências, era a cor e o cheiro que prevaleciam. Por que isso agora? Não consigo pensar em nada que justifique.

Eu não tinha uma memória muito boa. Na verdade, pouco me lembrava da minha infância... A adolescência era um flash...

Por pertencer a uma família muito rica e poderosa, sempre fui um alvo grande. O que justifica alguns dos piores momentos que alguém pode passar, como um sequestro quando eu tinha apenas 11. Também me envolvi em um acidente de helicóptero muito sério aos 21. Tais circunstâncias me fizeram esquecer muito de quem eu costumava ser. Talvez, possa haver alguma relação. Algo do meu passado que eu precise lembrar... Mas, por quê? Como? Onde? Quando?

Foi assim que, na manhã seguinte, procurei por um especialista em hipnose. Eu precisava desvendar a minha vida.

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