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CAPÍTULO UM
L aila checou o endereço novamente, equilibrando desajeitadamente o celular com uma das mãos, já que a outra estava ocupada com a cadeirinha. O bebê de seis meses que ela estava entregando ao seu novo guardião era adorável e abençoadamente calmo, mas também era pesado.
O bebê se contorceu na cadeirinha.
— Está tudo bem, querido. Estamos quase lá — Laila murmurou com ternura. Ela balançou a criança para frente e para trás, suavemente, apesar da ação piorar os sulcos que a cadeirinha estava cavando em seu antebraço.
Quando teve certeza de que estava no endereço certo, aproximou-se do interfone e apertou o botão da cobertura, preparando-se para o seu discurso habitual. Mas, para sua surpresa, o morador – Sr. Marc Campbell – sequer perguntou quem era e a porta de entrada do prédio destravou com um clique satisfatório.
— Bom, foi mais fácil do que eu esperava — ela comentou com o bebê, que estava agora sorrindo para ela. — E ainda bem que aqui dentro está mais fresco.
Uma rajada de ar refrigerado atingiu seu rosto e ela fechou os olhos, agradecida. Dirigiu-se ao elevador que a aguardava, a cadeirinha batendo em sua coxa a cada passo, e pressionou o botão para a cobertura.
Os olhos do bebê se arregalaram com o movimento ascendente do elevador e ele agitou os pés, empolgado. Era tão bonzinho! E foi por essa razão que ela tinha se oferecido para trazê-lo até o guardião, mesmo já tendo esvaziado sua mesa no serviço de proteção à criança. Ela suspirou. Estaria desempregada a partir de amanhã, mas ficaria bem.
— Nós dois ficaremos bem. Você vai ver — ela disse, para o bebê e para si mesma.
Momentos depois, as portas do elevador se abriram para uma grande antessala de mármore. Um conjunto enorme de janelas oferecia uma vista do horizonte. Ela parou, embasbacada. Uma vista deslumbrante como essa, apenas para uma única pessoa?
— Pois não?
Laila se virou e ficou ainda mais embasbacada. Por mais bonita que fosse a vista, ela não se comparava ao homem à sua frente. Ele tinha um tipo de beleza que a fez desviar rapidamente os olhos para esconder as bochechas ruborizadas. Olhar para ele quase doía.
— Você é Marc Campbell?
Ele aquiesceu com a cabeça, uma pequena ruga surgindo entre as suas sobrancelhas.
— Quando você tocou o interfone, achei que estava trazendo a comida chinesa que eu pedi. — Ela não conseguia localizar o sotaque dele. Irlandês? Escocês? Ele olhou para a cadeirinha no braço dela. — Tem certeza de que está no lugar certo?
— Absoluta. Este aqui é o Grayson Clark. Ele tem seis meses.
— Ah, ok. — Marc olhou para Laila, inexpressivo. — Então seria o caso de felicitá-la, Srta...?
Essa era sempre a pior parte. Laila tentou suavizar as palavras com um sorriso, mas sabia que não havia como falar com delicadeza.
— Diaz. Laila Diaz. Eu trabalho para o serviço de proteção à criança. Este bebê nos foi entregue pela babá depois que os pais morreram em um acidente de carro. Aquele com o caminhão-tanque em Fort Lee. Talvez você tenha visto a notícia?
Marc balançou a cabeça.
— Não tenho acompanhado as notícias locais esta semana. Mas você falou em Clark, certo?
Ela aquiesceu de forma compassiva.
— Os pais do Grayson chamavam-se Remy e Kendra Clark.
Marc apoiou a mão na parede para se equilibrar.
— Remy — ele murmurou.
— Sinto muito por lhe trazer a notícia.
Marc piscou e então balançou a cabeça, como se quisesse clareá-la.
— Não, não. Eu compreendo. É só que... — Ele apontou para a cadeirinha. — Eles tinham um filho?
Laila aquiesceu novamente.
— E eles nomearam você guardião do bebê, caso acontecesse alguma coisa com eles. Você não sabia?
O ombro de Marc bateu na parede, e talvez apenas por isso ele tenha conseguido permanecer em pé. Seu rosto tinha ficado branco como a neve, o que respondeu à pergunta dela.
— Sr. Campbell, peço desculpas por ser tão indelicada. Nós tentamos contatá-lo dezenas de vezes nas últimas semanas, sem sucesso. Não há mesmo uma boa maneira de dar uma notícia como essa. — Ela engoliu em seco, pois era verdade. Era a parte do trabalho que ela sempre odiara mais.
Saber que nunca teria que fazer isso de novo quase tornou um alívio ter sido abruptamente demitida pela manhã. Quase.
— Pensei que isso poderia ser um choque, então tomei a liberdade de trazer algumas coisas que serão necessárias durante a noite — ela informou apressadamente, colocando a cadeirinha no chão de mármore e abrindo a sacola reutilizável que estava em seu braço. — Um pacote de fraldas, leite em pó suficiente para uma noite, uma roupinha limpa e algumas chupetas. Não sei se ele já gosta de chupeta.
Ela posicionou a sacola ao lado da cadeirinha e olhou para a criança, ainda quieta, sentindo seu coração desamparado com a tristeza de reconhecer que não havia mais nada que pudesse dizer sobre o bebê. Ela não sabia de mais nada.
— Pelo que eu sei, o testamento dos Clark ainda não foi validado, mas eles deixaram tudo para o Grayson. Assim, logo que a papelada estiver concluída, você vai ter acesso a todos os bens para cuidar das necessidades dele. Se precisar que o inventário adiante algum dinheiro para as despesas até lá... — Não que Marc parecesse ter problemas com dinheiro, morando nessa cobertura obviamente luxuosa no NoHo1, mas, ainda assim, explicar fazia parte do trabalho. Ela concluiu: — Pode procurar a inventariante. Tenho as informações dela aqui. É uma advogada de Montclair e parece que tem uma reputação muito boa.
Ela tirou da bolsa um post-it amassado, oferecendo-o a Marc.
Ele não se mexeu.
Laila olhou para o rosto cinzento e imediatamente se policiou. Em um piscar de olhos, ele não apenas descobriu que havia sido nomeado guardião de uma criança que nunca conheceu, mas também que um amigo tinha morrido tragicamente. Que direito ela tinha de ser impaciente enquanto ele processava essas informações?
— Peço desculpas por despejar tanta coisa de uma vez só — ela disse, sentindo aquela faixa apertada de tristeza envolver seu coração, a mesma que sempre a agarrava quando enfrentava as tristezas deste mundo. Seus dedos ansiavam por tocar o braço dele em um gesto reconfortante, mas ela não tinha esse direito. Precisava manter o profissionalismo.
— Está tudo bem — Marc disse em uma voz rouca e tensa. — Você não fez nada de errado. Está apenas fazendo o seu trabalho.
Talvez, mas Laila tinha o coração muito mole e não conseguia evitar o sentimento de empatia pelo homem. Ela ajeitou gentilmente a cadeirinha aos seus pés e flexionou os dedos antes de dizer:
— Eu gostaria de poder fazer mais para ajudar, mas hoje foi o meu último dia no serviço de proteção à criança. Se você tiver alguma pergunta, tenho certeza de que a equipe remanescente ficará feliz em ajudá-lo; mas talvez a resposta não venha tão rápido. — Cortes no orçamento significaram a eliminação de muitos empregos, incluindo o dela. As pessoas que sobraram estariam incrivelmente sobrecarregadas, se já não estivessem. — As coisas estão um pouco... caóticas no escritório neste momento. Parte da razão que me fez querer trazê-lo aqui hoje, como minha última atribuição, foi o receio de que, se não o fizesse, Grayson poderia passar despercebido e acabar em um orfanato.
Ela se agachou para olhar com carinho para o bebê, que dormia de boca aberta, com uma pequena poça de baba se formando nas dobras do seu queixo. Laila foi obrigada a sorrir para ele.
— E não podíamos deixar isso acontecer com você, mocinho — Laila completou, falando baixo.
Quando olhou para cima, ela viu Marc parado à sua frente, esfregando lentamente a nuca. Sua expressão tinha uma aparência vazia e assombrada.
Então, subitamente, ele pareceu se recompor e deu um passo para trás, oferecendo a ela seu primeiro vislumbre da cobertura.
— Você se incomoda de entrar? Eu ficaria agradecido se você pudesse cuidar dele só um pouquinho mais, para que eu possa fazer algumas ligações. — Ele hesitou. — Desculpe, você disse que essa era sua última atribuição, em seu último dia. Você precisa ir embora? Estou atrasando você para alguma coisa?
— Não, claro que não — ela respondeu. — Não me importo de ficar com ele mais um pouco.
Ela se moveu para levantar a cadeirinha, mas Marc foi mais rápido, acenando para que prosseguissem para dentro do apartamento.
Foi um gesto curioso de cavalheirismo e Laila ficou encantada. Depois ficou um pouco constrangida por ter ficado encantada com algo tão básico como a gentileza.
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