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A noite havia caído sobre Tóquio, e o ar frio fazia os postes parecerem ainda mais distantes. Marina segurava a chave diante da porta de seu pequeno kitnet, o metal gelado contra os dedos, o coração pulsando rápido demais.
- Eu acho melhor a gente não se ver mais - disse, e sua voz, embora firme, veio embargada, carregada de uma tristeza que ela tentou esconder.
Por um instante, o silêncio pareceu engolir o som das luzes e dos passos lá fora.
- O quê? - A voz de Kaito saiu surpresa, quase um sussurro. Ele deu um leve passo à frente, a confusão marcando o tom. - O que você está dizendo, Marina?
Ela não se virou. A sombra dele se projetava no chão estreito do corredor, próxima o bastante para que ela sentisse o calor de sua presença, distante o bastante para que parecesse inalcançável.
- Por quê? - repetiu, agora com a voz mais tensa, tentando entender. Havia incredulidade em suas palavras, mas também um medo silencioso, o tipo de medo que nasce quando algo importante começa a ruir.
Marina apertou os lábios, o peito subindo e descendo num ritmo descompassado. O silêncio se instalou entre eles, cortante. O som distante de um trem ecoou pela rua, como se o mundo inteiro seguisse adiante - menos os dois.
- Marina... - ele insistiu, um passo mais perto. - Eu mereço ao menos saber o motivo.
Ela fechou os olhos, respirou fundo e manteve as mãos apoiadas na maçaneta. Quando respondeu, a voz saiu trêmula, quase um fio:
- É melhor assim.
O vento frio passou por entre os dois, levando consigo o perfume do xampu dela e a palavra que ficou presa na garganta.
Kaito permaneceu imóvel, o olhar fixo nas costas dela, como se pudesse decifrar o que o silêncio escondia. Mas nada veio. Apenas o som do metal girando na fechadura e a porta se abrindo devagar.
Ele deu um passo à frente no mesmo instante em que a porta começou a se fechar.
- Marina, espera!
Antes que ela pudesse impedir, ele empurrou a porta com a palma da mão e entrou no pequeno kitnet. O ar ali dentro parecia ainda mais denso, impregnado do silêncio que ela tanto temia.
- Você vai simplesmente me deixar assim? - perguntou, a voz rouca, quase quebrada. - Sem nenhuma explicação?
Ela não respondeu. Caminhou até o meio da sala e parou, de costas para ele. Podia sentir o olhar de Kaito cravado em suas costas, quente, insistente, e a cada segundo seu corpo inteiro parecia vibrar entre o impulso de correr e o desejo de ficar.
- Marina, fala comigo - ele insistiu, a voz mais baixa agora, carregada de súplica.
Ela apertou as mãos, tentando conter o tremor que subia pelos dedos. As palavras se formavam, mas doíam antes mesmo de saírem. Por um momento, pensou em mentir - dizer algo neutro, algo que doesse menos - mas o nó em sua garganta não permitiu.
- Vai embora, Kaito. - A frase saiu num fio de voz, trêmula e frágil. - Por favor.
- Não. - A resposta dele foi firme, seca. - Não enquanto eu não entender.
Ela fechou os olhos, respirou fundo e se virou lentamente. Os olhos marejados refletiam a luz amarela do abajur, e sua expressão era uma mistura de cansaço e dor.
- Está cada vez mais difícil - disse, a voz embargada. - Ficar perto de você, fingindo que não sinto nada. Fingindo que consigo ser só sua amiga.
Kaito deu um passo à frente, mas ela ergueu uma das mãos, pedindo silêncio.
- Eu não aguento mais sorrir como se nada estivesse acontecendo, esconder tudo o que me sufoca por dentro. - A respiração dela era irregular, o peito subindo e descendo em descompasso.
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