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Batidas fortes na porta me despertam de um sono agitado. O som reverberando a minha cabeça desencadeando a dor latejante em minha têmpera como um lembrete cruel da queda que sofri anteontem na empresa. Ao tentar me apoiar na pia, a tontura ficou intensa, desmaie e bati a cabeça na porcelana dura, acordando apenas no dia seguinte. A luz do sol entrando pelas frestas das da janela de madeira faz meus olhos arderem.
- Já vai! - Tento gritar, mas a minha voz estar tão fraca que duvido muito ter saído mais do que um sussurro.
As batidas continuam, mais urgentes agora. Respiro fundo, tentando dissipar a névoa da dor, e me levanto cambaleando. O quarto parece girar por um momento, mas me estabilizo, apoiando-me na parede enquanto caminho até a porta da frente. O eco das batidas se mistura com o zumbido na minha cabeça.
- Quem é? - Minha voz sai rouca, quase inaudível, enquanto destranco a porta.
- Senhorita Martins? - Uma voz feminina responde.
Eu abro a porta lentamente, revelando uma mulher jovem e elegante. Ela é alta e magra, vestindo um terno perfeitamente ajustado. Seus olhos me observam com uma intensidade desconcertante, e um leve sorriso curva seus lábios.
- Posso ajudar? - Pergunto, a desconfiança evidente no meu tom.
- Quero tratar de um assunto delicado com a senhorita, posso entrar?
- Não é uma boa ideia permitir que uma estranha entre na minha casa - respondo hesitante, mantendo a porta apenas entreaberta.
Ela sorri suavemente, um gesto calculado para parecer amigável.
- Entendo sua hesitação, mas eu não sou uma completa estranha, somos colegas de trabalho. E eu garanto que o que eu tenho a oferecer é do seu interesse.
A dor na minha cabeça torna difícil pensar com clareza, mas a minha curiosidade me faz abrir a porta, permitindo que ela entre. Não me preocupo em falar para ela não se incomodar com a bagunça; a única coisa que tenho na sala é um sofá de três lugares que a vizinha me doou. A mulher senta-se no assento direito do sofá, e eu no esquerdo.
- Bem, anteontem eu encontrei-a desmaiada no banheiro da empresa... - ela começa a falar, mas a interrompo.
- Então você veio cobrar o dinheiro que gastou no hospital comigo, não é? Eu já deveria imaginar, era um dos hospitais mais caro aqui da cidade, não é qualquer um que entra no Vivaz - suspiro, sentindo a humilhação da minha situação. - Olha, eu não tenho como te pagar agora, mas se você me der um pouco de tempo...
- Não! - Ela interrompe-me, arregalo os olhos, sentindo o medo dela exigir o dinheiro nesse momento secar a minha boca. - Foi a minha chefe quem pagou o hospital para você - esclarece. - E ela gostaria de lhe oferecer uma proposta.
Minha desconfiança aumenta, e meu coração começa a bater mais rápido.
- Que tipo de acordo?
Ela coloca o envelope na mesa e me olha diretamente nos olhos.
- A minha chefe irá pagar todos os seus tratamentos, cirurgia e medicação para a cura do seu câncer, e ainda te dará uma mesada de mil reais por mês.
- Em troca do que ela faria isso por mim? - Pergunto, já não gostando, ninguém faz nada de graça por ninguém, não acredito em fadas madrinhas.
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