Noiva por contrato - Bella mia(série: Destinos entrelaçados)
A proposta ousada do CEO
Minha querida, por favor, volte para mim
O retorno chocante da Madisyn
Um casamento arranjado
O caminho para seu coração
Acabando com o sofrimento de amor
Um vínculo inquebrável de amor
Minha assistente, minha esposa misteriosa
Uma noite inesquecível: o dilema de Camila
Por causa da minha vida sem tempo, era muito raro eu estar reunido com minha família. Em um desses dias raros, resolvi jantar com minha esposa e com meus filhos. Madalena, minha esposa, mulher prendada em todos os sentidos, preparou um jantar especial, sabendo que eu estaria com eles. Fez a minha comida predileta, preparou uma peixada, o meu filho caçula era uns dos mais animados com a presença do pai que era sempre ausente sem percepção.
Mas o inesperado aconteceu, estava eu saboreando a peixada, quando me entalei com uma espinha de peixe, foi muita tosse, falta de ar, bateram nas minhas costas com a mão aberta, me fizeram comer farinha, mas nada da espinha descer ou sair, mas a situação piorou, tudo isso culminou. Não sei dizer se foi um enfarto ou sufocamento, não consigo acreditar, mas nesse exato momento estou assistindo meu próprio velório, as minhas crianças, não sei dizer se estavam penalizadas por meu passar, ou simplesmente comovidas pelos acontecimentos, por estar vendo o sofrimento de Madalena.
Madalena, mãe dos meus seis garotos e das minhas moças, que eram duas, a mais velha tinha apenas dezessete anos, a mais nova tinha quinze anos.
Minha amada esposa, seu estado de desconsolação era lastimável, fiquei extremamente comovido por tanto sofrimento, eu mesmo não sabia que ela me devotava tanto amor, para mim foi surpreendente.
Eu aqui, impassível e inconsolado, por não consegui consolar a minha querida esposa e os meus filhos. Estou profundamente abatido e sem entendimento. — Como pode, eu estar assistindo meu próprio velório? Nunca acreditei em vida após a morte!
Em meu psicológico, se ainda existe, tenho plena certeza que tudo que está acontecendo não deve fazer parte da realidade, e tudo isso é um sonho e acordarei daqui mais uns minutos, mas mesmo nesse sonho, o desistir não deve me influenciar de nenhuma forma.
O mais engraçado é que eu consegui persistir, talvez fosse uma luta irrelevante, cheguei junto do próprio corpo, sensação estranha, me ver dentro de um caixão esperando apenas o momento de colocar a tampa e seguir rumo ao cemitério, fiquei alguns instantes me olhando, e tomei a iniciativa de tentar levantar meu corpo, uma tentativa em vão, não conseguia tocá-lo, pelo menos tentei transformar aquela minha cara sisuda, pegando em minha própria face lutando para deixar uma face com um pouco de contentamento, mas, outra tentativa em vão.
Cheguei à conclusão que meu corpo não se conformou com a morte, e por isso a face sisuda e sem aceitação da morte, eu me pergunto: — Pode alguém se conformar com a morte? — Na verdade, acho que nem aqueles que tiram a própria vida se conformam com a morte.
Mas, eu não me entregarei, jamais aceitarei a morte, a minha morte de uma forma tão banal, eu era muito novo, com uma vida inteira pela frente, não deixaria de existir facilmente, não me entregarei!
Nunca em minha vida fui moribundo ou convalesci na cama de um hospital, nem ao menos uma dor de cabeça eu sentia, jamais fui um paciente com alguma enfermidade nas mãos de algum médico, uma coisa que nunca entendia muito bem: Um doente sendo chamado de paciente! Para mim isso mais parecia uma ironia do destino ou dos homens, porque pelo o que presenciei em minha vida, foram doentes geralmente impacientes.
Sempre fui um homem batalhador, consegui me estabilizar financeiramente muito bem, dono de várias posses e uma conta bancária ótima, jamais deixei faltar o sustento da minha família, meu lema de vida era: desistir jamais por fadiga ou cansaço, tudo pode ser superado nessa vida, até mesmo as derrotas servem de base para o recomeço, quando não há mais esperança, é porque a morte fez parte.
Irônico é que a minha pessoa, talvez inexistente agora, está começando a acreditar que isso não é um sonho, se for verdade a esperança já era, mas ainda vou persistir, perseverar, mesmo que a esperança esteja por um triz. Esperança é trilhar as sendas da sua própria história sem o medo de ser atropelado pelos sintomas da vida que às vezes são assintomáticos fazendo o destino duvidar.
Parei um instante para olhar aquele corpo no caixão, apesar da face sisuda, existia uma perfeição naquele rosto sem nenhuma mancha ou mácula, eu me imaginei um ator de filmes de faroeste, face rude, pose de galã. A maquiagem geralmente esconde os defeitos, transformando todos os traços de inconformidade.
Voltando ao assunto, dentre as pessoas que estavam ali, existia uma pessoa em especial, meu melhor amigo, além de sócio nos negócios, mas a minha cara de espanto era muita, ele se aproveitando de um momento frágil da minha digníssima esposa, enquanto a consolava, umas das suas mãos bobas estavam de uma forma disfarçada sobre as coxas da minha Madalena, eu fiquei irado, meu melhor amigo se aproveitando de um momento de infortúnio, eu imediatamente saí do meu lugar de observação, desci até eles, tentei lhe dar um soco naquela cara safada que já conhecia há muito tempo, mas as minhas mãos passavam por ele como se fosse vento, minha cólera era muito grande, que cheguei a pensar no céu, não por causa da pretensão e alegria de provavelmente fazer parte do paraíso, mas por sentir raiva que não teria direito a estar desfrutando de um céu. Minha suma vontade era estrangular aquele cara de pau, mata-lo.
Fiquei horrorizado com o meu próprio cachorro, precisamente indignado, um ser que eu mesmo o alimentava, para falar a verdade, ele era o único ser naquela casa que eu dava atenção, mas naquele momento humilhante, ele estava sendo ingrato, vendo Raul, meu melhor amigo passando as mãos nas pernas de Madalena, eu gritava em vão: — Morde a mão dele, Tupã! — Madalena, tão inocente que não percebia a intenção daquele pilantra, e para completar a minha cólera, o miserável cão infiel estava lambendo as mãos do Raul, agora eu vejo que só temos valor na vida enquanto estamos vivos, mesmo que esse valor seja irrisório, mas, o mais importante é estar vivo para se fazer notado.
O pior de tudo isso era que o miserável cão infiel parecia estar me vendo, bem que eu ouvia as pessoas dizerem enquanto eu estava vivo, que os cães conseguem ver os mortos, e ele estava me vendo, não cessava o latir, me olhando fixamente com muita ferocidade, eu fui salvo por um estranho ponderado que pegou a guia e o prendeu, retirou ele do recinto, infiel cão, sempre o alimentava com bananas, algo que ele gostava muito.
Mas a decepção era maior com o outro amigo infiel, meu corpo ainda estava quente, ele já pretendia esquentar o corpo da minha Madalena, por um momento ele se vigiou e viu que alguns ali no velório já percebem as suas pretensões com relação a Madalena, e retirou a mão da perna dela, mas eu fiquei boquiaberto ao perceber que Madalena não havia gostado da desistência dele no uso das mãos , ela parecia estar gostando daquelas mãos bobas, que para mim, eram idiotas, eu conhecia perfeitamente essa mulher e sabia do que ela gostava, não foi à toa que tivemos oito filhos, meu corpo rígido, morto, ainda não se decomponha, ela já estava maquinando travessuras com Raul, em sua mente, que eu com toda certeza sabia ser muito fértil para fazer mil e umas travessuras, estranhas peripécias!
Se os mortos sentem agonia, agora eu sentia uma angústia tão grande misturada com decepção, eu estava vendo tanto sofrimento na face de Madalena minutos atrás, mas agora vejo outra coisa, imaginei que ela guardaria um luto de pelo menos um ano, mas vi sua mente aflorando numa puberdade adolescente, desabrochando como flores ao amanhecer.
Pensei, raciocinei, imaginei o futuro sem a minha presença naquela casa, mas percebi que não era percebido, talvez antes da minha própria fatalidade, algo já estivesse acontecendo entre Raul e Madalena, desconfianças de um homem morto, supostamente traído.
Depois do súbito sucumbir da minha existência, a minha audição ficou poderosa, pois geralmente eu me fingia de surdo enquanto eu vivia, eu só conseguia ouvir o que me era conveniente, o mais impressionante era que eu não aceitava críticas, mas me encontrava fazendo críticas a mim mesmo.
Comecei a ouvir sussurros casuais aos meus conhecimentos de andante pela vida, eram sussurros prazerosos, eu duvidei por uns instantes, mesmo em meios aos sussurros consegui reconhecer em fração de segundo a voz da minha filha de dezessete anos, resolvi investigar, ainda não conhecia a lei que regia os que já morreram, nem ao menos se me era permitido ver cenas como essas, mas como se tratava da minha filhinha mais velha, eu não pensei duas vezes, fui observar, a minha vergonha foi extrema. Jamais imaginei presenciar uma situação assim, ainda bem que eu me encontrava supostamente morto, pois eu ainda acreditava que tudo isso era um sonho.