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ALGUNS ANOS ANTES
Eu e Francis assistíamos televisão enquanto minha mãe preparava o jantar. Liam, meu irmão, estava conosco na sala, mas concentrado nos livros. Ele sempre era muito focado nos estudos. Minha mãe não deixava ser diferente. Ele era o garoto que ficaria rico estudando e sendo alguém na vida. Eu seria rica porque casaria com um homem milionário.
Estava entrando uma brisa fria pela janela. Levantei e subi as escadas, indo até meu quarto e pegando uma coberta fina. Joguei sobre Francis, que abriu-a, nos cobrindo.
Meus pais conversavam na cozinha, mas eu não prestava atenção. Estava fixa na série que eu mais amava, sendo exibida na televisão.
Quando percebi, minha mãe puxou a coberta, me deixando com os joelhos para cima, enquanto minhas mãos o seguravam. Olhei-a confusa:
- Eu estou com frio.
- Nem pensar que vai ficar coberta junto de Francis.
Francis olhou para minha mãe, arqueando a sobrancelha, confuso:
- Não entendi.
- Estou impedindo de antemão que tenha qualquer contato íntimo com minha filha. Virgínia não é para você.
Ele riu debochadamente:
- Tia Michelle, só estamos olhando televisão. Eu e Vi somos só amigos. Se quiséssemos ficar juntos, já teríamos feito isso.
- Não teriam não. Porque eu não ia deixar. Minha filha nunca vai ficar com um homem pobre.
Ela saiu. Liam nos olhou e começou a rir, balançando a cabeça sem dizer nada.
- Ela me chamou de pobre assim, descaradamente? – Francis me olhou.
- Como se você não conhecesse Michelle Miller, Francis. Não dê importância.
Ele balançou a cabeça:
- Maldito cobertor. Daqui há pouco ela me manda embora e nem me deixa comer a lasanha.
- Você veio só pela lasanha? Achei que era nossa série favorita.
- Eu tenho televisão em casa, Vi. Mas minha mãe não faz lasanha como a sua.
- Porra, às vezes eu não gosto da sua sinceridade.
Ele pegou a coberta e enrolou sobre mim, me dando um beijo no rosto:
- Ok, sei que você gosta de olhar a série comigo.
O cheiro da lasanha já chegava na sala. Senti meu estômago roncar de fome.
- A mesa está posta. Podem vir comer. – meu pai chamou sem cerimônia.
Não precisou chamar duas vezes. Lá estávamos os três na cozinha, esperando pela lasanha na mesa.
Nossa mesa era redonda e não tínhamos lugar fixo para sentar. Mas geralmente Francis ou Andréia, nossa amiga, estavam conosco à mesa. Isso quando não tinha também alguns amigos de Liam.
Minha mãe era uma chata. Ninguém gostava dela. Ainda assim nossos amigos passavam mais tempo na nossa casa do que nós nas deles. Exceto eu e Francis. Eu gostava muito dos pais dele e passava boa parte do tempo lá. Principalmente quando eu queria estudar. Por incrível que pareça, minha mãe não gostava de me ver parada com um livro na mão. Eu tinha que estar sempre fazendo alguma coisa. E se estava parada, ela me mandava correr ou caminhar, para perder peso, embora eu fosse quase um esqueleto ambulante.
- Jura que você gosta desta lasanha de doente? – Liam observou, olhando para Francis debochadamente.
- Lasanha de doente? Está falando mal da minha comida, Liam? – minha mãe perguntou furiosa. – Já faço o favor de cozinhar e você ainda reclama.
- Sabe que sua irmã não pode comer qualquer coisa, Liam. Então não fale assim. – pediu pai pacientemente, como sempre.
Existem pessoas tranquilas. Existem pessoas apáticas. Existem pessoas que preferem não comprar briga com ninguém e aquelas que não gostam de se incomodar com quase nada. E existe Yan Hernandez, meu pai, que é tudo isso numa só pessoa.
Minha mãe, Michelle Miller, adora brigar. Não leva desaforo para casa. Briga no mercado por causa da fila, no açougue por causa da carne, no banco por causa da demora, no trânsito por causa de qualquer coisa e com meu pai por ele existir.
Foi como se o fogo e a água quisessem casar. Isso daria certo? Óbvio que não. Eles eram um casal nada convencional, que sobrevivia devido a paz de meu pai, que creio que não tinha nada melhor para fazer da vida do que ficar ali, naquela cidade pacata, com aquela mulher completamente louca na maioria das vezes e seus dois filhos que ficavam entre o bem e o mal, o certo e o errado.
Já ouvi dizer que minha mãe casou com ele porque meu pai era prefeito de Primavera na época. Ele vinha de uma família de grandes recursos. O que ela não sabia era que ser prefeito de Primavera não significava porra nenhuma e ele não tinha interesse algum em seguir na política. E que os recursos que a família dele tinha, meu avô já tinha perdido tudo. Viviam de aparências. Ela culpava meu pai por ter mentido. Ele era incapaz disto. Certo que ela achou que era uma coisa e no final se deparou com outra. E de primeira dama ela se transformou numa dona de casa comum, mãe de dois filhos, infeliz com sua vida e o mundo à sua volta e colocando todas as suas frustrações do passado sobre mim.
E eu? Gostava de algumas coisas que ela fazia por mim. De outras nem tanto. Mas era minha mãe. Até então eu achava que tinha que ser assim e pronto.
- Virgínia, conversei com um cirurgião hoje e decidi que vou colar silicone em você. Seus peitos são pequenos e caídos.
Olhei para meus peitos pequenos, bem arrumados sob o sutiã. Eu não os amava, mas não estava insatisfeita com eles.
- Michelle, ela só tem 16 anos. – meu pai falou.
- Eu acho os peitos dela bons assim. – meu irmão disse.
- Não acho que estão ruim. Mas um pouquinho maior melhor. – Francis falou, observando meus seios.
- Seu idiota. – falei para ele. – Quer que eu fique como Dorothy?
- Dorothy tem peitos bonitos. – ele falou.
- Dorothy é toda perfeita. – meu irmão confirmou.
- Eu vou ficar sem falar com vocês por uma semana.
- Dorothy continua perfeita, na minha opinião. Ficar sem falar com você por uma semana é muito bom. – Liam começou a rir.
- Ok, eu odeio Doroti. – Francis tentou se redimir.
Doroti era nossa colega de escola, desde sempre. Eu odiava ela, desde que, quando tínhamos 13 anos, ela me deu um bolo a base de leite. Eu era alérgica e empipoquei toda minha pele e precisei tomar injeção. Por pouco não morri por choque anafilático. Toda cidade sabia que eu era alérgica. Ela fingiu não saber. A partir deste episódio, viramos inimigas mortais. Quem era amiga de Dorothy não era amiga de Virgínia. Quem saía com Virgínia, era obrigada a odiar Dorothy.
Francis era meu melhor amigo. E Dorothy gostava dele. E ele ficava num tremendo impasse: ficar com uma das garotas mais disputadas de Primavera e melhorar sua reputação de "pegador" ou continuar sendo meu amigo? Até então ele continuava sendo meu amigo.
A questão é que o irmão de Dorothy era absolutamente perfeito. E já houve boatos de que ele se interessava por mim.
Douglas era o típico homem perfeito. Mais velho, forte, alto, loiro, musculoso, corria só de calção todas as tardes. Vez ou outra eu o encontrava todo suado no meu caminho. Eu odiava correr, mas minha mãe me obrigava.
Depois que vi que ele também corria no mesmo horário, passei a não achar tão ruim.
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