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Meu marido, Artur, tinha um padrão. Ele traía, eu descobria, e um livro raro aparecia na minha estante. Quarenta e nove traições, quarenta e nove pedidos de desculpas caríssimos. Era uma transação: meu silêncio por um objeto belo.
Mas a quadragésima nona foi a gota d'água. Ele faltou à cerimônia de premiação do meu pai, que está à beira da morte – uma promessa que ele fez segurando sua mão – para comprar um apartamento para seu amor de adolescência, Júlia.
A mentira foi tão displicente que me quebrou mais do que a traição.
Depois, ele a levou ao jardim memorial da minha mãe. Ele ficou parado enquanto ela tentava erguer um monumento para seu gato morto ao lado do banco da minha mãe.
Quando os confrontei, ele teve a audácia de me pedir compaixão.
"Vamos ter um pouco de compaixão", ele disse.
Compaixão pela mulher que profanava a memória da minha mãe. Compaixão pela mulher para quem ele contou sobre o meu aborto espontâneo, uma dor sagrada que ele compartilhou como se fosse um segredo sujo.
Percebi então que não se tratava apenas de um coração partido. Tratava-se de desmontar a mentira que eu o ajudei a construir.
Naquela noite, enquanto ele dormia, instalei um programa espião em seu celular. Sou estrategista política. Já destruí carreiras com muito menos. O quinquagésimo livro não seria o pedido de desculpas dele. Seria a minha declaração final.
Capítulo 1
A primeira coisa que fiz ao chegar em casa foi me servir uma taça generosa de vinho. Passei pela sala de estar, ignorando a montanha de material de campanha na mesa de jantar, e fui direto para o meu escritório. Destranquei o armário de vidro e coloquei cuidadosamente o livro na prateleira vazia.
Era uma primeira edição de *Dom Casmurro*. Lindo, raro e ridiculamente caro.
Era o quadragésimo nono livro que Artur me dava. Quarenta e nove desculpas para quarenta e nove traições.
Ele entrou no momento em que eu fechava o armário.
"Analu, você chegou", disse ele, com sua voz suave e encantadora, a mesma voz que lhe rendia votos.
Ele se aproximou por trás de mim, envolvendo minha cintura com os braços. Meu corpo enrijeceu. O toque dele parecia uma mentira viva.
"Você perdeu", eu disse, minha voz sem emoção.
Eu estava falando da cerimônia do Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto da obra do meu pai. A cerimônia que Artur jurou que não perderia por nada neste mundo. Ele havia prometido ao meu pai, segurado sua mão e olhado em seus olhos.
Meu pai estava doente. Aquela promessa significava tudo.
"Eu sei, meu amor, me desculpe", disse Artur, apoiando o queixo no meu ombro. "Houve uma reunião de última hora com doadores. Uma emergência de verdade. Você sabe como é."
Eu sabia exatamente como era. Minha amiga, uma corretora de imóveis, tinha me ligado uma hora antes. Ela acabara de fechar a venda de um apartamento de luxo nos Jardins. O comprador era Artur Salles. Ele pagou à vista. A escritura estava no nome de Júlia Peres.
Júlia Peres. Seu amor de adolescência. O fantasma que nunca abandonou nosso casamento.
A mentira foi tão displicente, tão fácil para ele. Atingiu-me com mais força do que a própria traição. Ele deixou meu pai moribundo esperando por ele, tudo para poder comprar um ninho de amor para outra mulher.
Durante anos, esse foi o seu padrão. Ele traía, eu descobria, e um livro raro aparecia. Um pedido de desculpas silencioso e caro que eu deveria aceitar. Era uma transação. Meu silêncio por um objeto belo.
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