Meu corpo pode sentir

Jonas teve uma grande paixão, daquelas que arrebatadoras, que elevam a mente a outro patamar. A primeira vez que a viu foi no parque próximo a sua residência, ela era ao mesmo tempo forte e frágil, andava de patins como se tivesse asas nos pés, até com certa masculinidade. Mas na boca o batom vermelho indicava uma mulher muito desejável. Ao tirar o capacete e sacudir o cabelo ela o fisgou, feito peixe mesmo, não havia mais nada a ser feito. Os dois namoraram por um tempo, mas ela era muito livre para ficar e não ficou.

Dentro dele ficou a tristeza, que depois se transformou num vazio, numa indiferença com a vida. Seus pais de família muito tradicional, cobravam um casamento, netos. E foi ai que entra na nossa história a linda Lisa, moça muito tímida e obediente aos pais, de família também muito tradicional. Ela era muito inocente. Conheceu Jonas numa festa da empresa onde os pais trabalhavam. Os pais de ambos faziam muito gosto de casar os dois, insistiram que se conhecessem melhor, que tentassem uma vida, afinal ambos eram muito solitários. Para Jonas, tudo era indiferente, para Lisa era um medo no peito, insegurança, mas não conseguia se impor, não conseguia dizer não aos pais tão rígidos e amados. Foram deixando levar. E a vida foi seguindo, até que disseram sim no altar, sem amor, mas também sem ódio. A indiferença de Jonas não causava ódio em Lisa, causava um sentimento difícil de explicar, uma mistura de tristeza e solidão. Na noite de núpcias apenas adormeceram na mesma cama, não se tocaram, não sentiram sequer o cheiro dos cabelos um do outro, mantiveram distância e silêncio.