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Ladar - Sangue & Sacrifício - Série a Ascensão dos Heróis - Livro 1

Ladar - Sangue & Sacrifício - Série a Ascensão dos Heróis - Livro 1

Sebastian Pereira

5.0
Comentário(s)
23
Leituras
25
Capítulo

Setecentos anos antes de Sangue & Honra. Em um mundo onde a lua ilumina um terreno de trevas e traições, Calum Fireblade emerge das profundezas da Floresta Sufocante. Criado como um simples caçador, o destino o leva a um caminho de sangue e glória quando sua vida é devastada por uma traição inimaginável. As sombras dançam ao redor de Calum, e os corvos, espiões da noite, observam seus passos enquanto ele se transforma de um jovem perdido em um guerreiro temido. Nas cortes traiçoeiras e nos campos de batalha ensanguentados, alianças são formadas e quebradas com a mesma rapidez de um golpe de espada. Amores proibidos florescem e murcham, enquanto o poder corrupto se esconde em cada esquina. Calum deve navegar por um labirinto de conspirações e segredos sombrios, onde a verdade é uma moeda rara e a confiança pode ser fatal. Enquanto tempestades de magia antiga e vingança implacáveis varrem a terra, Calum descobre um poder adormecido dentro de si, um legado ancestral que pode mudar o curso de sua vida e do mundo ao seu redor. "Ceifador da Lua" tece uma tapeçaria complexa de personagens inesquecíveis e destinos entrelaçados, onde cada decisão pode selar o destino de reinos e a sobrevivência de almas. Neste épico de traição, paixão e guerra, a linha entre herói e vilão é tênue, e a batalha pelo poder nunca termina realmente. Calum Fireblade é mais do que um homem; ele é uma força da natureza, destinada a deixar um legado indelével nas páginas da história.

Capítulo 1 A Festa dos Mortos - Parte I

Setecentos anos antes dos eventos de reino quebrado. Enya, Azaban, Reinado de Rowan I Ablasak.

Uma pequena multidão se aglomerou ao redor do anúncio. Eram principalmente idosos vestindo roupas gastas, com conhecimento transmitido oralmente, distantes da cultura elitista valorizada pelo reino. O cartaz recém-afixado no mural de madeira, próximo da fonte, em letras douradas e adornado com o selo real, trouxe apreensão, pois os habitantes de Enya estavam acostumados a ser explorados e ver seus filhos serem recrutados ainda crianças para o exército mais temido do continente. Ali, a educação era reservada apenas para os nobres ou para aqueles considerados valiosos para o Estado. Para os demais, restavam os trabalhos nos campos, cultivando leveduras, plantações ou criando animais para abate. Os tributos aumentavam regularmente, cada família pagava uma taxa única que poderia perdurar anos; e caso as dívidas não fossem quitadas, o reino confiscava seus bens e redistribuía as terras para garantir a continuidade da produção.

Enya contava com cerca de seiscentas famílias, mais de cinco mil habitantes, era uma pequena vila comparada às demais. Repousava serenamente no vale de Anelis, cercada pelas esplendorosas Montanhas de Viseu. Pequenas casas de madeira, com telhados de ardósia, alinham-se ordenadamente ao longo das margens de um riacho cristalino que corta o vilarejo em duas metades harmoniosas. As habitações são adornadas com flores silvestres em caixas de janelas, emanando uma fragrância doce que se mistura ao ar puro da montanha. As casas, construídas com madeiras robustas e enfeitadas com entalhes de criaturas místicas, principalmente esculpidas de rostos élficos e animais alados, davam um ar mais nobre ao lugar. O riacho, de águas límpidas e gélidas, serpenteava suavemente enquanto passava sob uma ponte de pedra arqueada, levando consigo o frescor das montanhas para os campos mais baixos e, posteriormente, ao rio Amuriel. Pequenos lampiões de ferro forjado pendem das entradas, projetando uma luz cálida que ilumina as trilhas de pedras brancas cortadas em círculos e os caminhos cobertos por um extenso tapete de musgo, onde joaninas perambulavam e os vaga-lumes dançavam alegres com a chegada da noite.

No centro da vila, uma praça pavimentada com pedras quadriculadas abriga uma antiga fonte esculpida pelos artistas mais promissores daquelas bandas, em mármore branco, onde crianças brincavam e os anciãos reuniam-se quase todas as noites para contar lendas dos tempos antigos. As árvores ao redor da praça, altas e majestosas, lançavam sombras e seus ramos pareciam sussurrar uma tímida melodia que o vento encarregava-se de arrastar para longe. No fundo, a névoa das montanhas desciam lentamente ao cair da tarde e chegada da noite, envolvendo Enya em um véu de misticidade e deixando apenas as luzes das janelas e dos lampiões cintilando como estrelas em meio a escuridão. Enya era um refúgio para os oprimidos e desabrigados, com tranquilidade e beleza, onde qualquer mínimo detalhe parecia ter sido esculpido pela própria ação da natureza, sem mãos humanas por de trás, criando paisagens encantadoras, propícias para a caça.

As sombras da noite já haviam se estendido sobre o vale e Enya quando Calum, um jovem caçador camponês de dezoito anos, atravessou os portões de madeira do vilarejo. O brilho tênue das estrelas e o cintilar dos lampiões nas casas de madeira lançavam um resplendor dourado sobre sua figura massivamente imponente. Com cabelos negros caindo em mechas rebeldes sobre os ombros largos, sua pele bronzeada pelo sol e cicatrizes de batalhas passadas, Calum era a personificação da força e da determinação. Vestido em calças de couro preto, ajustadas perfeitamente ao seu físico esculpido, ele caminhava com um veado morto sobre os ombros, o troféu de sua última caçada. A cada passo, o peso da presa parecia nada para ele, que seguia com passos firmes e silenciosos, quase como uma sombra. Seu olhar, de um azul profundo, refletia a luz da lua, e uma expressão de foco e serenidade marcava seu rosto.

Enquanto Calum avançava pelas ruas de pedra da vila, crianças surgiram das sombras, correndo para acompanhá-lo. Seus olhos brilhavam de admiração e curiosidade, suas vozes sussurravam contos de bravura e lendas sobre o caçador que nunca falhava. Eles corriam ao seu redor, como pequenas estrelas orbitando um sol, suas risadas ecoando na noite serena. As portas das casas se abriam ligeiramente, revelando rostos de aldeões que o observavam com respeito e gratidão, pois tinham Calum como um líder. O cheiro da terra e das folhas secas impregnava o ar, misturando-se com o aroma da madeira queimada das lareiras das casas. A praça central da vila, com sua antiga fonte de mármore branco, estava iluminada pela luz suave dos lampiões. Calum costumava visitar o local de vez em quando, apreciar a paisagem e a vista passou a ser seu hobbie, mas isso mudou com o tempo. Ele passou a ser caçador, como todos os membros de sua família.

Calum finalmente parou diante da taverna local, onde entregaria sua caça. As crianças se dispersaram, voltando para suas famílias, mas não antes de lançar um último olhar de adoração ao jovem caçador. Ele depositou o veado no chão com cuidado, passando a mão pela testa suada, seus músculos tensionados finalmente relaxando. O trabalho do dia estava feito, e ele podia encontrar algum descanso, sabendo que sua vila estava mais uma vez segura e abastecida.

Ele viu quando as sombras movimentaram e da taverna, surgiu Melia. Uma jovem mulher mestiça de beleza surreal, cuja presença parecia fazer a noite ganhar tons mais vívidos. Seus cabelos ruivos, longos e ondulados, emolduravam um rosto de traços delicados, com olhos que brilhavam como estrelas e lábios que carregavam um sorriso enigmático. Sua pele, branca e suave, refletia a luz dos lampiões, destacando ainda mais sua figura. Melia era conhecida na vila de Enya por sua presença cativante e seu papel como moça da vida. Vestia-se sempre com roupas leves e provocantes, que marcavam cada curva de seu corpo esguio, realçando sua silhueta com uma sensualidade natural. Um vestido de tecido fino e transparente, adornado com rendas sutis, deixava pouco à imaginação, enquanto seus movimentos eram fluidos e graciosos, como uma dança silenciosa na penumbra.

Com passos silenciosos e decididos, Melia se aproximou de Calum, que ainda estava junto ao veado morto, exalando força e determinação. Suas palavras, delicadas e impróprias, eram uma mistura de sedução e tentação, sussurradas com uma voz suave que parecia um cântico hipnótico de uma sereia.

— Calum — disse ela, seu tom melífluo acariciando o ar noturno. — Você sempre sabe como capturar mais do que apenas a caça. Esta noite, talvez, eu possa oferecer algo em troca de suas habilidades. Algo que vá além do que já conhece.

Seus dedos finos e delicados deslizaram levemente pelo braço musculoso de Calum, enviando arrepios de excitação e desejo. Melia era um mistério, uma tentação que atraía e desafiava, sua presença uma prova constante das tentações que a vida pode oferecer, mesmo na serenidade de uma vila como Enya.

Calum, que sempre se mantivera focado e imperturbável, sentiu-se dividido por um momento. Os olhares se encontraram, e ele viu nos olhos de Melia um convite quase que irrecusável.

Calum respirou fundo, sentindo o aroma suave de flores e especiarias que sempre acompanhava Melia. Ele desviou o olhar para o chão por um instante, recolhendo seus pensamentos antes de encarar novamente aqueles olhos penetrantes.

— Melia, você sabe que tenho responsabilidades aqui — disse Calum, sua voz grave e firme, mas com um tom de hesitação. — Não posso me distrair.

Melia inclinou a cabeça, deixando seus cabelos ruivos caírem como uma cascata flamejante.

— Responsabilidades — repetiu ela, quase sussurrando. — Mas e quanto aos seus desejos, Calum? Não merece você um pouco de alegria, uma fuga dos fardos que carrega?

Ela se aproximou mais, quase tocando o peito nu de Calum com seu vestido fino. Seus dedos traçaram o contorno de uma cicatriz em seu ombro, uma lembrança de caçadas passadas.

— Eu posso te oferecer isso — continuou Melia. — Um momento de esquecimento, de prazer. Algo que te lembre que, além de um caçador, você é um homem.

Calum sentiu um turbilhão de emoções. A proximidade de Melia fazia seu coração bater mais rápido, e ele lutava contra a tentação.

— E se alguém nos visse? — perguntou ele, sua voz quase um murmúrio. — O que diriam? Eu, um puro, e você, uma mestiça, uma fusão de duas raças erradas que gerou uma pagão. Sabe que os mais velhos fariam conosco?

Melia riu suavemente, um som melodioso que ecoou na noite.

— Deixe que falem — disse ela. — As palavras são apenas vento. Esta noite merece ser levado pelo desejo, não pelas expectativas dos outros. E quanto a punição caso sejamos pegos, é nada que nossos corpos não consigam suportar — ela deu um passo atrás, os olhos ainda fixos nos dele, como se desafiando-o a resistir. — Eu estarei esperando — disse ela, virando-se lentamente para voltar à escuridão da taverna. — Se decidir que seus desejos são mais importantes do que as palavras sem rumo.

Calum ficou ali, imóvel, o peso do veado ainda em seus ombros, mas o peso das escolhas em seu coração sendo muito maior. Ele observou Melia desaparecer nas sombras, cada passo seu um convite sereno. Finalmente, ele fechou os olhos por um momento, respirou fundo e tomou sua decisão.

— Espere — disse ele, sua voz firme, mas com uma nota de desejo. Melia parou, um sorriso de triunfo se formando em seus lábios antes mesmo de se virar. Calum se aproximou dela, deixando o veado novamente no chão, seus olhos fixos nos dela. — Talvez esta noite — Calum continuou —, eu precise me lembrar de que sou mais do que um caçador. Porém, preciso entregar essa encomenda ao Sr. Delfin, se puder aguardar...

— Sim — Melia disse. — Eu espero na sua casa.

Ele sorriu nervoso.

Calum ergueu o veado com facilidade, posicionando-o sobre os ombros com uma força que parecia natural para ele. Com passos determinados, ele se dirigiu à entrada da taverna, onde a luz quente dos lampiões contrastava com a escuridão da noite. Empurrou a porta pesada de madeira e entrou, sendo recebido pelo ambiente rústico e acolhedor do estabelecimento.

A taverna, O Chifre do Unicórnio, era um local simples, mas carregado de charme. As paredes eram feitas de madeira robusta, com vigas expostas no teto e vários chifres de animais pendurados como troféus de caçadas antigas. Uma lareira crepitava ao fundo, lançando sombras que pareciam dançar pelo salão e aquecendo o ar frio da noite. As mesas de madeira eram desgastadas pelo tempo, com marcas de copos e cortes de facas, cicatrizes de longas conversas e discussões que haviam presenciado.

Os clientes, em sua maioria caçadores e trabalhadores que aravam os campos locais, lançavam olhares de poucos amigos para Calum ao vê-lo entrar. Eram homens rústicos, de rostos endurecidos pelo trabalho árduo e pela vida difícil nas montanhas, planícies e campos. Eles murmuravam entre si, interrompendo seus assuntos apenas para observar o jovem caçador passar, carregando sua presa como um presente.

Calum ignorou os olhares, acostumados à desconfiança e ao respeito velado. Ele se dirigiu ao balcão, onde o senhor Delfin, o dono da taverna, estava limpando copos com um pano velho e úmido. Delfin era um homem corpulento, de barba grisalha e olhar atento, sempre vigilante aos acontecimentos de sua taverna.

— Boa noite, senhor Delfin — disse Calum, colocando a caça no balcão com um movimento firme. — Tenho um veado fresco para negociar.

Delfin levantou os olhos dos copos, avaliando o animal com um olhar experiente. Ele passou a mão pela barba, ponderando:

— É um belo veado — asseverou ele finalmente, com um aceno de aprovação. — Você fez um bom trabalho, Calum. Quanto está pedindo por ele?

Calum cruzou os braços, mantendo uma postura confiante.

— Quinze peças de prata. É carne suficiente para alimentar muitas bocas por alguns dias, e pode pedir algumas moedas a mais.

Delfin levantou uma sobrancelha, refletindo sobre a proposta.

— Quinze, você diz? Sabe que gosto de um bom negócio, rapaz, mas esta é uma quantia considerável. Vou te oferecer doze. E ainda vai ser um bom lucro para você.

Calum sabia que Delfin era um homem justo nos negócios, mas também sabia o valor de seu trabalho. E aquele veado era um dos maiores já caçados.

— Quinze é o preço justo, senhor Delfin — insistiu ele, mantendo o olhar firme. — Considerando a qualidade e a quantidade de carne, não posso aceitar menos.

Delfin analisou por um momento, o barulho de conversas abafadas e risadas rudes enchendo o ambiente ao redor deles. Finalmente, ele assentiu lentamente.

— Feito, então. Quinze peças de prata. Vou mandar alguém levar isso para a cozinha — Calum sorriu, satisfeito com o acordo. Delfin pegou uma pequena bolsa de couro e contou as moedas, entregando-as a Calum. — Bom trabalho, rapaz. Volte sempre que tiver algo assim para negociar.

Calum agradeceu com um aceno de cabeça, guardando as moedas. Enquanto se afastava do balcão, sentiu os olhares dos clientes ainda sobre ele, mas dessa vez com um misto de respeito e curiosidade. Ele sabia que, naquela vila, e naquela noite, ele havia provado mais uma vez seu valor. Após pegar as moedas prateadas, Calum se dirigiu a saída da taverna. O murmúrio dos clientes e o crepitar da lareira eram os sons predominantes, criando uma atmosfera quase reconfortante apesar das tensões que permeiam o local. Ele estava prestes a alcançar a porta quando ouviu a voz grave de Delfin chamando por ele.

— Calum, espere um momento.

Ele se virou, vendo Delfin se aproximar com um papel em mãos. O semblante sério do dono da taverna indicava que o assunto era de extrema importância. Delfin estendeu o pergaminho para Calum, que o pegou, notando o selo real na parte superior.

— Recebi isso hoje pela manhã. Tem outro na praça, mas poucos sabem ler, então não quis causar mais pavor no povo — disse Delfin, sua voz grave ressoando no salão. — É um comunicado do rei.

Calum abriu o pergaminho com dedos trêmulos, sentindo uma sensação de apreensão crescente. Seus olhos rapidamente percorreram as linhas escritas com caligrafia formal dos escribas reais. O comunicado dizia:

"Por ordem de Sua Majestade, o Rei Rowan II Ablasak, todos os jovens entre dezesseis anos ou mais devem comparecer à capital com máxima urgência em duas semanas. Sua presença é requerida para assuntos de grande importância para o reino. Caso algumas aldeias descumpram o envio desses jovens, haverá punição."

Calum ficou atônito, o papel tremendo levemente em suas mãos. Delfin colocou uma mão firme no ombro do rapaz, seu olhar se suavizando um pouco.

— Eu sei que é um choque — disse Delfin, com um tom mais brando. — Porém é uma ordem real, sujeito a punição caso não cumpramos. Não temos escolhas.

Calum sentiu o chão se abrir sob os pés. Parte dele estava ansiosa e curiosa, mas outra parte prosseguia em conflito, preocupada com o que isso significaria para ele e para a vila. Ele olhou para Delfin, buscando alguma orientação.

— O que devo fazer? — perguntou ele, sua voz traindo a incerteza que sentia.

— Você deve ir, Calum — respondeu Delfin com firmeza. — Leve o comunicado ao conselho amanhã de manhã. Eles saberão como proceder. Mas esteja preparado para partir em breve. Não temos tantos jovens homens como no passado, a guerra veio e levou todos.

Calum assentiu lentamente, tentando processar a situação. O peso da responsabilidade recai sobre seus ombros de uma maneira nova e desconhecida. Ele guardou o comunicado cuidadosamente e agradeceu Delfin antes de sair da taverna.

Ao pisar novamente na noite fria, a vila de Enya parecia diferente, como se uma nova e incerta jornada estivesse à espreita. Calum sabia que sua vida estava prestes a mudar de maneiras que ele ainda não compreendia. Com um suspiro profundo, ele começou a caminhar de volta para casa, o comunicado real pesado em seu bolso e em seu coração.

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