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PRÓLOGO:
Ela estava indo embora. E ele... nunca esteve tão perto de ficar.
Três da manhã.
O silêncio da casa era grosso, morno, denso como um quarto trancado demais.
A porta bateu com força quando Caio entrou.
Camisa branca aberta no peito, jaqueta de couro jogada no ombro.
Cheiro de rua, cigarro e desejo alheio grudado na pele.
Ele chutou os sapatos pelo corredor, largou as chaves no balcão da cozinha e parou.
Luz acesa na sala.
Estranhou.
Ela nunca deixava luzes acesas.
Alinna estava sentada no sofá.
Pernas cruzadas, mãos espremidas entre os joelhos.
Não chorava mais. Mas chorou tanto que parecia mais leve - não de paz, mas de esgotamento.
Ela não olhou pra ele.
- Caio... Eu sei que você não se importa. Nem comigo. Nem com a empresa. Nem com nada.
Ele parou no meio da sala.
Não respondeu.
Ela levantou o olhar, firme.
- Então escuta com atenção.
Amanhã eu vou vender minha parte da empresa.
E vou embora.
Ele soltou uma risada seca.
Aquela que disfarça o pânico atrás dos olhos.
- Vai o quê?
- Vender. Os sócios me fizeram proposta. E eu aceitei.
Ele subiu dois degraus da escada, parou e voltou.
O olhar tenso, quente, ofendido.
- Você quer me foder, é isso?
- Não.
- Eu só quero sair dessa prisão.
- Eu tô cansada, Caio.
Ela não gritava.
Ela avisava.
Sem rancor, sem drama.
Apenas fim.
- Se você vender sua parte... eles ficam com o controle.
- Sim.
- E se eles tiverem o controle... vão falir essa merda.
- Sim.
- E a gente vai passar fome!
- A gente, não.
- Eu sei me virar. Já você...
Ela o olhou como quem não vê um inimigo, mas um menino perdido.
- Você vai ficar sem nada, Caio. Sem cargo. Sem empresa. Sem ninguém.
Ele passou a mão no cabelo. Riu de novo.
Só que agora o riso veio trincado.
- Ah, não me vem com esse tom de mártir...
- Não é mártir.
- É adeus.
Ela se levantou.
Camisa de dormir azul. Corpo cansado. Alma seca.
Subiu as escadas com passos firmes.
Parou no meio e virou-se pra ele.
- A reunião é às nove. Só pra te avisar.
E minhas malas já estão prontas.
De lá... eu não volto mais.
Ela engoliu em seco.
- Adeus, Caio.
- Boa sorte.
E sumiu.
FLASHBACK...
- Você vai se casar com ele?
Ela parou.
A respiração dela ficou presa no peito.
Os olhos brilharam.
- Me solta.
- O que tá acontecendo com você?
- Nada que você precise entender. Ele virou no eixo, a segurou no rosto.
- Eu te amo. Não casa com ele.
Ela tremeu. Mas não respondeu.
- Eu te amo de verdade.
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