Login to Lera
icon 0
icon Loja
rightIcon
icon Histórico
rightIcon
icon Sair
rightIcon
icon Baixar App
rightIcon
Nada Menos Do Que Mereço

Nada Menos Do Que Mereço

Ana Victória

5.0
Comentário(s)
254
Leituras
10
Capítulo

Esposa dedicada , vivendo em prol do seu casamento e unicamente para o seu marido . Pamela vive em um lar tóxico , sendo sempre regulada por sua sogra que a trata como uma inútil como se ela não soubesse seus afazeres como mulher. Olavo seu marido vive debaixo da barra da saia da mãe e sempre que pode menospreza sua mulher fazendo com que a mesma se sinta culpada . Até que um certo dia Pamela já não suporta mais passar por tanta humilhação e decide pedir o divórcio . Damon Espinosa viveu em uma família conturbada , cresceu com o coração duro, inclinado a sempre usar as mulheres ao seu bel prazer . Diversão, era tudo o que ele queria e procurava noite após noite . No entanto quando o destino cruza o seu caminho com o de Pamela , já tão sofrida e severamente machucada pelo seu relacionamento anterior , ela precisa fazer uma escolha quando Damon lhe faz uma proposta , a única que ele está disposto a ofertá-la . Ela tem duas opções, entre aceitar novamente as migalhas que um homem tem para lhe oferecer ou entender de uma vez por todas , que ela nunca mais aceitará nada menos do que ela merece!.

Capítulo 1 -PAMELA

- Pamela você precisa entender que o meu filho tem horários , as coisas não são assim!. Eu tive que sair da minha casa pra vir te dizer isso,ele chega cansado do trabalho e ainda tem que esperar você fazer a janta ?.O jantar deve estar pronto quando ele chegar.-Minha sogra dona Beth diz para mim movendo coisas por minha cozinha , ela trata como se eu não cuidasse bem do meu marido e que ela precisa ficar me ‘’ajudando ‘’ com o que fazer , sendo que eu passo o dia inteiro em casa arrumando tudo sem ao menos ter qualquer direito de me sentar um pouco para esticar as pernas .

Olavo sujava roupas o tempo inteiro , e eu tinha que pegar uma por uma para sair lavando dia após dia , no final da tarde eu já estava completamente exausta.Mas é claro que ele foi pra casa da minha sogra se queixar de mim,como sempre.

- Dona Beth , eu sempre faço o jantar à partir das 19:00,porque é a única hora que tenho tempo, quando termino de arrumar a casa e lavar as inúmeras roupas do Olavo.A senhora pode ver, a garrafa de café está cheinha aqui e ele tomou ainda .Tem biscoitos que eu fiz uma fornada no final de semana, ali em cima do armário–Aponto a frasqueira pra ela , porém a mesma sequer me dá ouvidos , está fritando o arroz ao mesmo tempo que já encheu uma panela de água para cozinhar o macarrão.

Ranjo meus dentes cruzando meus braços .

- Pamela ,eu conheço meu filho.Ele conviveu comigo a vida inteira ,sei os seus horários.Vocês dois já estão casados há um pouco mais de 3 anos e até hoje não aprendeu conciliar a vida de dona de casa com atender os desejos do seu marido ?. – Ela se vira para mim erguendo as sobrancelhas .

Dona Beth é uma mulher alta , um pouco robusta,- seus cabelos são ondulados e claros;algo como um castanho avermelhado, ele vive preso em um coque mal feito a maior parte do tempo . Seus olhos são esticados e autoritários . Todos os dias ela vem para minha casa me criticar ,mas ama implicar comigo também , às vezes eu realmente desconfio de que ela não me suporta e só finge aturar , já que não tem jeito.

Engulo as palavras para não lhe dar uma resposta afiada .

Olavo chegou com ela e foi pro banheiro tomar banho e por lá está até agora.

Quando nos casamos eu tinha apenas 20 anos de idade.Olavo é 4 anos mais velho do que eu , nos conhecemos desde criança , nossos pais eram vizinhos até que minha mãe sumiu no mundo com um cara e nos deixou para trás , jurei para mim mesma que me comportaria e que jamais seria como ela.Por isso quando Olavo me propôs casamento mesmo depois de formalizamos namoro oficial na porta em poucos meses antes , eu aceitei.Nos casamos virgens,um nunca passou do limite com o outro porque nos respeitávamos , prometemos que só nos tocaríamos quando nos casássemos e assim aconteceu . Porém sou extremamente agradecida pela vida que o meu marido me proporciona , não tenho do que reclamar ele me dá de tudo . Eu realmente considerava ele o verdadeiro presente de Deus!.

Meu pai me moldou para ser uma excelente dona de casa!,sei cozinhar variados pratos de todos os tipos . Se quiséssemos teríamos empregados , mas Olavo não achou necessário já que eu sei cozinhar e toda vida lidei com tarefas domésticas .

Eu não faço nada mais da vida , só passo o dia limpando à casa , arrumando,sendo a senhora do lar e vivendo unicamente para o meu marido. Sim! , eu adoro ser dona de casa – era meu sonho desde que me entendo por gente, minha rotinha é metodicamente definida à casa mínimo detalhe.Olavo é um pouco exigente então ele sempre cobra muito de mim e isso me deixa uma pilha de nervos a maior parte do tempo.

Tudo bem que nunca cheguei a ficar pensando muito à respeito de como seria minha vida matrimonial , casar era um objetivo para mim mas também amo a parte de quando chega a noite e Olavo me dá carinho – como se eu fosse uma gatinha de estimação sedenta por sua atenção enquanto ele vivia grudado no celular, isso me desanimava um pouco e eu vivia pedindo para que ele focasse apenas em mim e não no que via na tela , que por muitas vezes ficava sorrindo pra ela , ou com uma expressão desejosa- Eu não era boba , podia sentir que estava vendo foto de alguma outra mulher e isso me enchia de insegurança e ciúmes . Poxa ! me sentia desrespeitada.

Olavo não é exatamente um príncipe de conto de fadas ,ele é um cara normal .Embora sejamos jovens , nos comportávamos como se tivéssemos uns 80 anos de idade—não viajávamos como casais faziam , ele não sentava no sofá comigo pra assistir TV ,tão pouco tomávamos banho juntos . -Era cada um na sua zona. Porém a nossa vida sexual é excelente! , não vou negar que essa parte me enchia de curiosidade à respeito , quando minhas colegas da escola falavam sobre suas relações com seus namorados ,eu saia de perto – queria ter minhas próprias experiências quando a tivesse, entretanto ele atendeu as minhas expectativas.Olavo foi o primeiro homem da minha vida e com toda certeza viveremos para sempre juntos , porque nenhum outro jamais ocupará o seu lugar . Ele me faz sentir uma mulher muito amada e imensamente feliz ! vivendo no lar dos sonhos , se não fosse por minha sogra que faz questão de que eu me sinta uma incompetente como esposa e dona de casa.

A casa na qual vivemos possuem 2 andares ,é a casa em que sempre sonhei.Não é luxuosa mas é nossa e eu tenho tudo o que preciso aqui.

Passo para o lado quando minha sogra faz um sinal impaciente com as mãos para que eu saia da frente do armário . De lá ela retira um pacote de macarrão o abrindo, quebrando e o despejando dentro da água fervente.

Me sinto constrangida , humilhada e incomodada mas também não digo mais nada . Entrar em um bate-boca com ela não irá me levar a lugar algum.

Uns minutos depois Olavo aparece ,trajando bermuda , chinelos , camiseta e uma toalha ao redor de seu pescoço .

- Hum...o cheiro está maravilhoso mãe . – Ela abre um sorriso radiante. Meu peito se comprime no meu interior , porém eu fico calada observando o entrosamento dos dois . Meu marido lhe dá um beijo do lado da cabeça e depois me olha – Viu Pam, é assim que deve fazer a comida . O tempero igualzinho o que a minha mãe faz , veja bem como o cheiro é fantástico !- Olavo fecha os olhos por uns segundos como se estivesse a ponto de flutuar embriagado pelo cheiro do tempero da minha sogra.

Aperto meus lábios me sentindo frustrada .

- Cada pessoa tem sua própria maneira de fazer os temperos . Isso não quer dizer que o da sua mãe seja melhor do que o meu .

Ele levanta as sobrancelhas para mim – Amor... na verdade é sim .

Minha sogra vira-se para mim alargando ainda mais o seu sorriso .

- Um dia você chega lá Pamela . Mas se o meu filho está dizendo , obrigada meu amor .

- Que é isso mãe , a senhora é a melhor . – Humilhada engolindo toda a raiva e vontade de chorar permaneço perto deles encostada contra a parede , ouvindo Olavo contando para dona Beth sobre o seu dia e o seu trabalho ; coisas as quais nunca ouvi ele falando para mim ele fala para ela .

Durante o jantar eu engoli a comida a duras penas . Parecia que existia um bolo parado bem no meio da minha garganta impedindo que o alimento descesse. Dona Beth e Olavo conversavam e riam sem parar , quando ele inseria meu nome no meio de sua fala era somente pra tirar sarro da minha cara . Relembrou até mesmo que em um dia desses eu deixei que o bolo queimasse – a única coisa que ele ‘’esqueceu ‘’ de mencionar foi que eu pedi que ele olhasse no forno , enquanto eu lavava suas meias para o trabalho , sendo que ele continuava de pernas para cima, deitado no sofá rindo de memes em seu celular .

Na hora em que fomos dormir e ele tentou me procurar para me reivindicar como mulher , me afastei para longe , chegando bem pra beirada da cama-quase caindo mesmo . As lágrimas de humilhação não paravam de rolar por meu rosto , suprimi os soluços e deixei a dor me maltratar .

- O que foi amor ? – Me beijou no ombro , me encolhi fugando .

- Nada . – Engoli com dificuldade . Minha garganta estava arranhando e doendo pelo esforço em que eu continuava fazendo pra não abrir o berreiro de uma vez .

Olavo tenta me virar para ele mas eu não cedo , endurecendo meu corpo .

- Hey . O que aconteceu ? , porque está me evitando e chorando ?

Agora já não deu mais pra suportar . Uma onde de raiva me queimou violentamente .

- O que aconteceu e porque estou te evitando e chorando ? . Sério isso Olavo? , poxa ! eu passo o dia inteiro completamente entregue aos afazeres de casa , lavando roupas suas sem parar , para você ir pro trabalho . Faço o almoço , jantar , lanches e você se junta com a sua mãe pra me humilhar daquela maneira?. Insinuando que sou uma imprestável ?.

Ele vem pra me tocar no rosto mas magoada afasto sua mão para longe , evitando contato.

- Eu jamais te humilharia minha linda, não viaja .

- Não viaja ?- Repito boquiaberta , sentindo a dor em meu peito intensificando – E o que foi aquilo lá do tempero ? hãn ? – Jogo meu queixo em sua direção irritada , mas o meu marido só faz me olhar de volta com cara de coitado , sendo que ele está errado mas está fazendo parecer que sou eu a única culpada por aqui. – Disse claramente que sua mãe é melhor cozinheira do que eu .

- Eu não quis dizer isso .- Solto um riso amargo – Sério – Me toca no rosto, me fazendo olhar para ele - Esquece isso vai , vem dormir . Eu tô com sono e cansado , você sabe que eu preciso acordar de manhã cedo .

Fiquei olhando pra seu rosto achando que havia feito uma tempestade em um copo de água . Talvez meu marido estivesse mesmo correto e eu estava procurando briga atoa , sem nenhuma necessidade .

Acabo cedendo , ele sorri me dando um beijo na boca e logo me abraça a cintura quando eu deito minha cabeça em seu peito começando a me sentir mais leve e mais calma .

Possivelmente estava brigando sem um motivo plausível .

As vezes gostaria de ter o gênio leve como o meu esposo tem .

***

No dia seguinte me sentia melhor mas ainda assim relembrar do dia de ontem me deixava revoltada .

Bufando pego meu celular me sentando no sofá enquanto coloquei a água no fogo para fazer o café. Tinha cafeteira mas eu gostava de fazer como a minha mãe fazia do modo tradicional.

Entro no Instagram , havia 4 mensagens não lidas do meu amigo sem nome .

Eu tenho uma conta fake nas redes sociais , não gosto de ficar tirando fotos minhas para ficar postando . Porém da minha casa eu tiro o tempo inteiro , quando lavo o banheiro e deixo o boxe brilhando , a cozinha impecável , a sala de estar que sempre está arrumada , os lençóis da cama a toda vez que troco . Postar coisas assim me fazia feliz , porque eu era uma dona do lar.

Desde que começamos a conversar nós preferimos manter nossas identidades ocultadas um do outro – assim poderíamos conversar sobre tudo sem constrangimentos e claro que eu amei a ideia . Não sabia se ele era homem ou mulher e tão pouco ele à mim – mas eu acredito que ele(a) deve suspeitar de que faço parte do sexo feminino , já que todo o meu feed é sobre minha vida como dona de casa.

Com um sorriso abro a mensagem no direct .

Sem nome – Acordou empolgada hoje hein amiga virtual ? , já postando à essas horas da matina?

Seu marido deve viver a vida que pediu a Deus , tendo um mulher tão prendada do lado .

Mas falando sério agora ...você não sente vontade de fazer coisas diferentes, sendo que todos os dias posta novos conjuntos de panela antiaderentes? . Não é uma critica. ;)

Depois me responda sobre isso . Você deve realmente estar ocupada com a sua cozinha e as panelas .

Dou risada sacudindo a minha cabeça em negativa . Na verdade a sua mensagem foi de ontem , mas eu sequer tive tempo pra entrar outra vez no Instagram , minha vida corrida aqui em casa não me permitia tal mordomia .

Respondo-o de volta .

Dona do lar.com – Primeiramente bom dia! , já te falei que por toda a minha vida sempre acordei cedo .

E segundo . Como você sabe que sou mulher ? , existem homens cozinheiros também. Sabia disso ? – Coloco um emoticon lhe dando língua .

E terceiro eu amo cozinhar , nasci com talento para isso . Não me culpe se você é um desastre na cozinha e tem inveja do meu bom desempenho .

E por último! , eu sempre estarei ocupada com a minha cozinha e com as minhas panelas! .

Coloco a mão na minha boca sentindo meu coração falhar umas batidas quando aparece o nome Visto .

Ele(a) havia acabado de ficar online.

Quase saí do direct mas resolvi ficar para ver o que ele me responderia quando o nome Digitando mensagem – aparece .

Sem nome: Os vivos sempre aparecem , fico feliz que esteja bem. Bom dia pra você também! , senhora(o) das panelas .

Sim, eu sabia que existem homens cozinheiros mas nenhum deles formariam um feed tão organizado com tanto afinco dessa maneira e sem falar que o nome do seu user é DONA DO LAR.COM. – Arregalo meus olhos prestando maior atenção ao que ele disse .

Bato com a mão na minha testa me maldizendo. Como fui tão descuidada ? e eu aqui jurando que ele não fazia a menor ideia de que eu era ou homem ou mulher , que tola!.

Sem nome : E quem te disse que eu sou um desastre na cozinha ? , posso fazer pratos que te fariam cair para trás. hahaha.

Um risinho escapole da minha boca quando digito de volta .

Dona do lar.com : Você nem é um pouquinho metido(a) não é?. Ou será que é uma mulher também? – Decido jogar um verde e aguardo roendo minha unha do dedo mindinho.

Digitando mensagem ....

Sem nome: Essa eu vou deixar para sua imaginação , senhora das panelas...

Dona do lar.com: Quando vai parar de me chamar senhora das panelas ?

Sem nome: Nunca...?

Ridículo(a)! – Porém estou sorrindo

Quando vou digitando uma resposta atrevida , me recordo de que deixei a água do café no fogo e a essas alturas do campeonato já deve estar a beira de secar .

Jogo o celular para o lado e disparo para a cozinha .

Pra minha sorte á agua só estava borbulhando .

Abrindo um sorriso satisfatório faço o café e então volto para a sala pegando meu celular com a esperança de voltar a ter conversas engraçadas e que me distraíram do meu dia de horror na noite de ontem , com o meu amigo virtual .

Dona do lar.com: Um dia você vai parar de me chamar assim , talvez quando me conhecer de verdade ?

Aguardo ele responder mas não tenho resposta de volta. Provavelmente ele deve ter saído do bate-papo .

Sinto um pouco de desânimo porque de verdade gostava de conversar com ele(a). Todas as vezes quando coisas assim aconteciam comigo entre Olavo e minha sogra me humilhando .Meu amigo(a) virtual me distraia com as suas piadas idiotas , carregadas de deboche .

Isso me faz pensar que ele deve ser uma pessoa incrível de se conviver! – quem o(a) tiver do lado , com certeza deve levantar as mãos para os céus e agradecer a Deus todos os dias, por fazer as pessoas sorrirem.

Após tomar o meu café da manhã , coloco o celular no avental que uso para realizar as tarefas domesticas e tão logo corro para arrumar a casa , ainda teria que costurar umas camisas de Olavo , as costuras haviam ido para o espaço. Se não andasse logo , o dia passaria correndo e eu ainda não teria feito metade das coisas que eram para fazer.

Isso me faz pensar que a tarde antes que o meu marido chegue , devo dar um pulo na casa da Heidi. Ele não suporta ela , diz que minha melhor amiga de toda a vida desde a época do colégio vai me colocar em maus caminhos. Isso porque Heidi nunca namora a sério com ninguém e muito menos formaliza qualquer tipo de relacionamento . No dia do nosso casamento ela veio acompanhada de um cara com o qual estava saindo , uns dias depois quando fui em seu apartamento ela já estava se agarrando com outro – me deixando horrorizada por tanta ‘’liberdade ‘’ desnecessária e eu era realmente a favor de que a pessoa pode viver a sua vida da maneira que quiser mas passar dos limites para ficar falada pela boca do povo já era demais .

Heidi sempre me criticava porque eu vivia bem vestida – com roupas me cobrindo a pele demais – isso era ela quem achava , porque Olavo me ajudava com as escolhas do que eu deveria vestir . Como viemos de famílias tradicionais , não era comum para nós mulheres direitas usarem pedaços de panos e acharem que estavam vestidas . Isso era uma vergonha para a família e além de que um desrespeito para o marido; cresci sabendo que a mulher deve apenas mostrar o seu corpo para o seu cônjuge e nada mais ninguém além dele.

Meu gatinho Alfredo mia para mim se aproximando da porta , circulando por uma de minhas pernas se emaranhando ao redor do meu tornozelo .

- Agora você aparece não é garanhão? . Tá achando que não te escutei esses dias para trás fazendo o sucesso com as gatas em cima do telhado ? . – Ele mia para mim , com certeza correspondendo a minha fala .

Sorrio acariciando seus pelos , pegando sua ração e enchendo a sua vasilha .

Paro com as mãos na cintura o observando se aproximar do seu pote

- Agora coma tudo e suma outra vez .– Mas o safado já está com a boca na ração iniciando o seu momento de gula.

Alfredo é um gato siamês – ele tem olhos azuis vivos , as patas até a sua metade são marrom da cor de café. Seus pelos são cor de café com leite ,o ganhei do meu pai antes de me casar e é claro que o trouxe para morar junto comigo, por mais que ele viva mais tempo fora de casa do que dentro. Olavo detestava Alfredo e eu nunca entendi o motivo , mas também eu não discutia com ele à respeito disso , não maltratando meu bichano já estava de bom tamanho.

As 16:00 da tarde , já estava pronta e de saída . Finalmente iria dar as caras na rua , após uma longa semana . Eu não era exatamente de ficar andando por aí atoa sem nenhuma necessidade. Só tirava os pés para fora da minha aconchegante casa , quando tinha que ir ao mercado fazer compras e essas coisas .

Moramos em Nova Orleans – é uma cidade na Louisiana às margens do rio Mississippi, próxima ao Golfo do México. É bastante movimentada , principalmente a noite e por isso eu odiava tanto sair nesses horários . Em épocas vibrantes o espírito festivo da cidade em um carnaval no fim do inverno, que é famoso pelos desfiles animados e pelas festas nas ruas , se tornavam uma loucura .

Heidi morava na Royal Street por isso levaria cerca de aproximadamente meia hora até que eu chegasse lá.

Meu celular apita quando estou no meio do caminho , iria de ônibus . Pegar um táxi me sairia caro, e eu estava guardando dinheiro pra comprar um presente de aniversário pro Olavo daqui a 2 meses .

Retiro o aparelho da bolsa vendo o nome de Heidi tomando a tela .

Era uma mensagem .

Passo o dedo deslizando a tela

Heidi: Cadê você Pam? . Não vem mais ????

Digito outra mensagem para ela , informando que em alguns minutos estarei chegando . Na verdade vai levar muito mais do que minutos’’ , porém eu resolvo não informar isso a ela , senão será capaz de Heidi me deixar louca me enviando mensagens exasperadas à todo instante , com a intenção de saber se já estou por perto.

Entre dois ônibus lotados e uma tarde bastante agitada solto um suspiro de alivio quando paro diante do apartamento de Heidi, após ter andando pelo menos quase duas quadras .

Em cima desses saltos começo a me lamentar por tê-los usado logo hoje , poderia ter optado por minha sapatilha companheira de sempre , mas como nunca uso esses sapatos pensei que usá-los hoje cairia bem , para uma breve visita a uma amiga querida . Heidi era como uma irmã que eu nunca tive .

Na portaria peço para avisar que já havia chegado , mas ela deixou sobre aviso ao porteiro para que eu subisse , o agradeci e entrei no elevador ,- fazendo uma careta por não suportar mais a dor insuportável que os saltos estavam me causando no calcanhar. Tem tanto tempo que não os uso que seria um milagre se não estivesse pagando penitência agora.

O apartamento de Heidi fica localizado no 4º andar . Ao chegar no mesmo ,apresso meus passos até lá ,chamando na campainha , me remexendo sem parar desesperada para tirar os sapatos dos meus pés para me ver completamente livre , ainda que fosse por hora.

Uma Heidi usando apenas um minúsculo short e blusinha de babydool bebendo um copo de suco , abre a porta exibindo um sorrisão para mim enquanto boquiaberta a olho de cima em baixo, escandalizada com as vestimentas por mais que fosse para dormir. Já estou sendo puxada para seus braços , quando saio de meu devaneio embevecido a abraçando de volta , sorrindo por finalmente ter tido tempo para visitá-la.

- É tão bom poder te ver sua vaca! – Heidi é tão carinhosa , tinha me esquecido desse ‘’pequeno ‘’ detalhe .

- É assim que recebe uma amiga? – Brinco com ela me separando de seu corpo fazendo um bico , arrancando meus sapatos dos meus pés . A escuto fechando a porta me acompanhando .

- Para de fazer c*ú doce meu pãozinho de queijo . Você sabe que a Heidianha aqui te ama !- Não resisto ao seu sorriso idiota, por mais que ainda me deixe espantada por seu linguajar chulo . Acabo lhe abraçando de volta começando a pular como umas bocós .- Sua doida! , o suco derramou todo em mim! – Nós duas caímos na risada ao nos separarmos .

- Desculpa! , isso tudo é felicidade em te ver . – Me jogo de pernas para cima em cima do seu confortável sofá .

Heidi morava sozinha , ganhou sua independência financeira assim que terminou a faculdade e começou a trabalhar numa grande empresa de Vídeo Games.

Ela caminha para o lado da cozinha e depois volta se sentando do meu lado .

Meus olhos vão imediatamente para uma revista em cima de sua mesa , onde um belíssimo homem ostenta a capa . Sua beleza gritante me chamou a atenção .

Leio o nome .

Damon Espinosa .

Fico vidrada no seu olhar dominador , seu rosto sério por detrás da barba me dá a impressão de que ele ostenta um ar de escarnio para quem o está olhando de volta . Seus olhos castanhos claros de cor acesa me causam um reboliço fervoroso por dentro , seus cabelos são de um castanho escuro , jogado para um dos lados . O homem era imponente .

Desvio o olhar passando uma mão pela minha nuca ,incomodada pela reação que o meu corpo teve ao olhar para a imagem de um completo desconhecido ,este aliás que nunca coloquei os olhos antes.

- Ele é um gostoso não é ? . É o novo dono da empresa em que eu trabalho . – Sou despertada pela voz de Heidi .

Desvio meu olhar momentaneamente dela confusa com suas palavras .

- Nunca o vi antes ...- Torno olhar outra vez para sua imagem , sendo impactada por sua imponência intimidadora.

- Ele morava fora ,esqueci o nome do país agora . – Ela explica levantando suas pernas para cima do sofá apoiando os cotovelos por cima da coxa . - Aqui , leia logo abaixo.

Evitando encarar novamente sua foto eu leio o que Heidi apontou com o seu dedo indicador.

‘’Famoso desenvolvedor de vídeo games , Damon Espinosa compra antiga empresa Jogger game de Steve Laurence. Expandindo a Box Corporation , império que construiu quando tinha apenas 22 anos de idade e hoje aos 30 é um dos desenvolvedores de games mais bem sucedidos em todo o mundo.

- Minha nossa ...- Eu digo realmente impressionada .

Heidi ao meu lado ri – Sim , também tive a mesma reação que você . Ele é bastante famoso e conhecido pelos gamers . Damon Espinosa é um grande Game Developer .

Olho para ela confusa – O que é isso ?

- Ele é um desenvolvedor de games . Área onde também atuo , por isso ele concordou em me deixar trabalhando lá , já que metade da antiga equipe foi colocada na rua, e de verdade eu nem sequer entendi porque não fui despedida também . O desenvolvedor de jogos faz toda programação de um game. O que o faz responsável pela programação e quem dá vida ao jogo a partir do roteiro do Designer.

Não fazia a menor ideia sobre o que Heidi falava mas me pareceu realmente interessante, conforme seus olhos brilhavam em contar sobre como seu trabalho era desenvolvido.

-Você poderia se desvencilhar um pouco dessa vida de mulher do lar perfeita , que só vive em devoção do marido e se candidatar a uma das vagas para aprendiz. Esse aliás é um dos projetos do senhor Espinosa , ele abre as portas para uma nova geração.

- Não sou como você Heidi , gostamos de coisas diferentes .- Tento me defender .

Ela cruza os braços e arqueia as sobrancelhas para mim

- Gostamos? Ou você apenas satisfaz as vontades dos outros e esquece de si mesma ?.- Olhei para ela sem saber o que mais falaria . Não tinha argumentos e ficou por isso mesmo .

Passamos mais tempo conversando sobre coisas aleatórias e em dado momento chegou a hora de voltar para casa .

As palavras que Heidi me disse não parava de girar por minha cabeça , como um mega fone . Mas resolvi deixar para lá , ela era toda pra frente e eu toda a vida fui mais acomodada e gostava de ser assim.

A noite estava muito fria, dei graças aos céus por ter trazido meu encharpe -acomodei ao meu redor e segui pela rua frenética. Preocupada por ter passado tanto tempo na casa de Heidi , Olavo vai chegar cansado do trabalho e com fome , e mais uma vez minha sogra vai acabar comigo . Por mais que eu tenha deixado tudo pronto ; talvez ter vindo fazer uma visita a minha amiga hoje , não tenha sido uma boa ideia.

Apresso meus passos agoniada para logo alcançar o ponto de ônibus.

As pessoas se batem em mim ao passarem enquanto vacilo nos meus saltos, me segurando para não cair de cima deles e acontecer um acidente.

Meus olhos são atraídos para o sinal fechado, corro até ele antes que se abra e eu perca o meu momento, porém as buzinas insistentes não param de fazer barulho apressando os pedestres pelo mesmo já ter sido aberto .

Corro junto ao pessoal para alcançar a calçada , no entanto paro bem diante de um farol alto que cobre a minha visão quando solto um grito levando minhas mãos a me proteger na frente do meu rosto .

- Você por acaso é maluca?! . – Escuto a voz alterada de um homem . Todo meu corpo treme como vara verde. – Como invade a frente de um carro com o sinal do trânsito aberto!?

- Me...me desculpe senhor eu...- Quando tiro as mãos do meu rosto olhando a figura imponente , fico perplexa ao reconhecer a bela imagem diante dos meus olhos .

Era o mesmo homem que vi na capa da revista na casa de Heidi .

Damon Espinosa .

Continuar lendo

Você deve gostar

Outros livros de Ana Victória

Ver Mais
Capítulo
Ler agora
Baixar livro