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Capítulo

Ele não era o garoto que ela tanto idealizou antes de dormir, tampouco era o genro perfeito que seus pais sonhavam para sua garotinha. Ela? Bom, ela não possuía as curvas e formas que ele tanto fantasiou. Eles não combinavam em absolutamente nada, ele era dono de uma personalidade completamente detestável, já ela sempre o irritou com suas manias. Ambos de longe não eram a alma gêmea do outro, vê-los como casal poderia ser considerado um devaneio insano... Um único sentimento, ou melhor, sensação unia essas personalidades completamente opostas. Qual? O êxtase! Quem poderia imaginar que dessa grande desventura nasceria algo tão intenso?

Capítulo 1 01

–Prólogo:

[...]

-Acho que Helena sempre vai ser o meu ponto de equilíbrio. Minha fuga.

-Sua fuga, Gustavo? –Pedro questionou visivelmente irritado. –Do que especificamente?

-Das dores do mundo. –Encarei a paisagem a nossa volta. –Ela é o meu antídoto. –Balancei a cabeça negativamente.

-E você o veneno dela. –Pedro falou inconformado enquanto parava ao meu lado e repete meu gesto. –E quanto as dores dela? –Não o encaro, mas sei que ele me fita. –Quem cuida? –Ele insiste. –Não vê o tamanho da desgraça que está causando á ela? –Respirei fundo e o encarei da maneira mais sincera que conseguia fazer.

-Sou um grande egoísta, o que posso fazer? Ela é a única coisa boa que eu tive durante toda a minha vida. –Balancei a cabeça na tentativa de afastar a imagem da Helena chorando. –Sinto por você, Pedro... Você é meu melhor amigo, meu irmão, depois de tudo receio que isso não seja mais recíproco de sua parte, mas Helena é minha, e nem você, nem ninguém irá mudar isso. –Dito isso, nós encaramos por mais algum tempo. Qualquer sentimento de cumplicidade havia acabado naquele exato momento, era notável.

Um prédio antigo. Esse será meu lar por no mínimo doze meses, ou até que eu ganhe minha “saída por bom comportamento”. Volto a encarar o portão agora fechado pelas grossas correntes, um desespero toma conta do meu coração. Eu ainda não acreditava que meus pais tiveram a coragem de me colocar nesse lugar com a desculpa de que seria para o meu bem... Tirar minha liberdade dessa maneira é para o bem? Eu simplesmente não enxergava a situação dessa maneira. Para mim, eles se cansaram de ter uma filha problemática em casa e resolveram me isolar do mundo para que estranhos resolvessem a situação. Apesar já ter a minha maioridade, uma liminar me “convidava” há ficar por doze meses em um internato/reformatório pago, cercado de outros jovens problemáticos de dezessete á vinte e um anos. Enquanto meus amigos curtiam o primeiro ano depois de se formarem em viagens ou intercâmbios, meus pais haviam me colocado nesse purgatório. Eu jamais os perdoaria. Jamais!

Puxei minha mala pelo amplo “corredor” de pedrinhas que levavam até a entrada do internato. Enquanto andava, aproveitei para olhar minha nova moradia, dois prédios que um dia foram pintados de amarelo eram ligados por um ampla passarela com enormes janelas de vidro, o lugar parecia ser absurdamente grande. Todas as janelas do que possivelmente seriam dormitórios eram cercadas por grades grossas, na espessura do meu braço. Em algumas partes da construção, assim como os muros que cercavam o local, eram tomados por plantas trepadeiras. O local cheirava a terra molhada, era também absurdamente gelado, parecia que o sol havia punido o tal lugar e não aparecia há décadas. Subi o pequeno lance de degraus e com certa dificuldade levar minhas coisas comigo, tinha uma porta de maneira grande e antiga que dava acesso ao “purgatório”, tentei empurrá-la algumas vezes, mas parecia ser inútil, alem de pesada, parecia estar trancada, inclinei meu corpo para o lado, tentando ver o que se passava por uma daquelas vidraças coloridas que se assemelham aos de igrejas, mas por conta do vidro colorido e de diversas formas, não consegui ver nada com clareza. Suspirei pesadamente e logo criei coragem para bater na porta. Duas batidas foram suficientes, segundos depois uma senhora que aparentava ter seus cinqüenta anos abriu a porta sem fazer esforço algum, sua cara de poucos amigos praticamente denunciavam o quanto era antiga naquele lugar.

-Sou Helena Sart... –Antes que eu pudesse entrar, a velha balançou a cabeça negativamente e foi logo puxando meu braço de maneira nada simpática.

-Você está atrasada, já começamos a explicar as regras! –Ela resmungou visivelmente irritada por meu atraso. Espera! Eu não estava atrasada... Enfiei a mão no bolso de minha jaqueta e segurei meu celular, retirei o mesmo e olhei para o visor que marcava 16:22h. O horário previsto para que eu estivesse aqui era 16:45h. Ergui meu celular na expectativa de mostrá-la que estava errada.

-Não, eu não estou atrasada! –Ergui meu celular na expectativa de mostrá-la que estava errada. Mas fui surpreendida, a velha tomou o celular das minhas mãos e sorriu com naturalidade.

-Regra numero três... –Nesse momento surgiu outra mulher, essa era ruiva e segurava um pequeno cesto. –Nada de celular! –Assisti completamente atônita enquanto ela colocava meu celular nesse cesto.

-O quê? –Murmurei.

-Aqui é um internato. Não uma colônia de férias, acostume-se. –Ela sorriu de maneira cínica. –Seja bem vinda, senhorita Sarthi. –Dito isso ela virou e voltou ao grupo de jovens com quem falava.

Já havia perdido a conta dos minutos em que estávamos parados e exaustos escutando o discurso maçante daquela velha. Toda pergunta de algum dos novos “alunos”, tinha como resposta algo desaforado, aquela mulher parecia nos odiar com todas as suas forças, seu olhar a denunciava, nos descriminava a cada suspiro alto que dava.

-Vocês são obrigados a assistirem três horas diárias de aula. –Ela disse sem demonstrar reação alguma, um “colega” de grupo ergueu a mão, parecendo entender a feição de frustração de todos ali. –Pode falar. –Ela disse sem tirar os olhos de sua prancheta.

-Aula? –Ele repetiu como se estivesse ainda não acreditando. –Não sei se você... –Ela o interrompeu.

-Você não. Quero respeito, quero ser chamada de senhora. –Ela falou. Todos olhamos para o menino, que revirou os olhos e fez uma careta totalmente contrariado.

-A senhora... –Ele disse com certa dificuldade, tive que conter o sorriso. Era tão difícil assim usar os bons modos?

-Prossiga. –Ela o encarou sem demonstrar reação alguma.

-Aula? Acredito que a maioria aqui já tenha se formado, outros talvez já começaram a quem sabe fazer alguma faculdade e... –Novamente o garoto foi interrompido.

-Está correto senhor Bortoloti, mas parece que apesar de ter muitos possuírem um currículo tão grande com tão pouco idade, não evoluíram lá fora, tanto é que estão aqui. O senhor estava cursando o que? Medicina? Estou correta? –Ela falou, mas era notável seu sarcasmo. –E olha onde seus pais o colocaram. –Ela caminhou até ele e o encarou friamente. –Seus pais estão pagando mensalmente para fazermos de você um homem de verdade, e de um jeito ou de outro, honraremos a nossa promessa. Sendo assim, aulas irão fazer parte dessa caminhada, desse longo processo. –Ela suspirou pesadamente ainda o encarando. –Espero que tenha compreendido, apesar da pouca idade, sei que é um garoto bem esperto... –Ela sorriu e tornou a voltar ao seu lugar. O garoto ao meu lado fulminava, seus punhos estavam cerrados e ele parecia fazer um esforço imenso para não acertar pelo menos um tapa no rosto daquela mulher arrogante.

-Sem exceções? –Questionei.

-Quero que erga a mão quando for perguntar ou falar algo senhorita Sarthi. –Ela falou. Assenti um pouco receosa por tamanha grosseria, respirei fundo tentando manter a maior calma possível, eu tinha de ter paciência e ser no mínimo educada, caso contrario, meus pais jamais iriam me tirar dali.

-Agora a senhorita pode falar. –Ela falou. Revirei os olhos e prossegui.

-Sem exceções? –Questionei novamente.

-Sem exceções. –Ela confirmou. Apenas assenti não acreditando na tamanha falta de sorte que eu havia encontrado. –Prosseguindo... –Ela observou rapidamente a prancheta em suas mãos. –Prédio A é uma área restrita para os meninos. Prédio B é a área das meninas. Não é permitido que se ambos visitem uma área que nos os pertence, caso essa regra for descumprida, informaremos seus responsáveis e mais dois dias serão adicionados em suas fichas. –Assim que ela terminou essa frase, ouvi o suspiro pesado de meus colegas. –Vocês só vão ter contato nas aulas, nas refeições e na hora do lazer, fora isso, o encontro de vocês é extremamente proibido. –Ela nos encarou. –Espero que todos vocês tenham entendido. Ok? –Murmuramos um “ok” e ela prosseguiu. –Assim como as aulas, o horário da refeição também é obrigatório, por mais que não estejam com fome, é viável que comam pelo menos algo... Não quero ninguém doente por não se alimentar, caso essa regra seja burlada... Mais um dia será adicionado a ficha de vocês. E a respeito das vestimentas de vocês... Podem esquecer as roupas vulgares, enquanto estiverem na presença dos colegas de vocês, quero que se vistam de maneira adequada, calças longas, sem decotes, regatas não são permitidas... É uma vasta lista que terão de ler, no final dessa breve apresentação irão ganhar uma copia de nossas regras, espero verdadeiramente que compreendam todas as regras, não quero ter de tomar medidas drásticas com vocês, mas se for preciso... Tomarei sem pensar duas vezes. Então sejam prudentes e pensem duas vezes antes de fazerem algo errado. –Foram quase uma hora e meia de discurso, ela mostrou rapidamente o lugar, mas o dormitório não fez parte dessa apresentação, ela garantiu que logo iríamos fazer amigos e pegaríamos o “jeito” e a rotina daquele lugar. Duvido! Ficaria muito pouco ali, mostraria para eles que eu era um amor de menina, e que um grande equivoco ocorreu para me colocarem ali.

-Agora as meninas me acompanhem, vou levá-las até os dormitórios... Dentro de vinte minutos, nos encontraremos novamente no refeitório. É o tempo de trocarem de roupa e deixarem as malas nos respectivos quartos. –Ela olhou para seu relógio. –O período de aula já acabou, então estão livres pelo resto da tarde, mas amanhã já serão encaixados em nossa grade de matérias. –Ela deu um sorriso pra lá de falso. –Sejam todos bem vindos... Garanto que seremos bons amigos. –Sua voz era tão fria como aquele lugar. –Acompanhe-me meninas... –Ela começou a caminhar até o outro lado do salão e parou diante de uma enorme porta, haviam outras quatro no mesmo espaço, e todas eram enormes. A mulher tirou um molho de chaves de seu bolso e abriu a porta, empurrando a mesma com certa dificuldade. –Essa porta sempre fica fechada. –Ela explicou. –Vocês só terão acesso a essa saída na hora do lazer, pois a passarela lá de cima dá acesso as salas e aos refeitórios. –Ela nos olhou brevemente. –Sigam-me, meninas! –Dito isso, todas entramos e logo a porta foi novamente trancada.

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