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Ainda que não seja contra planejamentos, vovó Emília não é adepta à eles e é por isso que quase sempre está correndo contra o tempo — ou fazendo o restante da família correr. E como se não bastasse mandar uma mensagem em cima da hora no grupo da família, sequer me deu a oportunidade de fingir que não recebi seu convite de almoço, ligou-me perguntando se eu já estava pronta e eu, seguindo meu papel de neta preferida, respondi que já estava a caminho, quando na verdade eu nem tinha levantado da cama.
Arrumei-me o mais rápido que pude e saí de casa como uma louca desvairada. Nesse exato momento, encontro-me no carro, realmente a caminho da casa de vovó. Com a temperatura marcando 23°, minha pele queima dentro da blusa de algodão e o suor começa a escorrer pela minha testa. Para piorar minha situação, o tráfego de veículos em São Paulo está infernal. Diminuo a velocidade gradativamente quando o semáforo muda de cor e bufo frustrada. Já são onze e meia, e com a minha sorte chegarei lá somente no jantar.
Afasto os fios de cabelo grudados em meu rosto e fecho a janela para ligar o ar condicionado. Quando a temperatura esfria, respiro aliviada e ligo o rádio, colocando na minha estação favorita. Está tocando Expectations, o primeiro single solo da Lauren Jauregui após a pausa de Fifth Harmony. Batuco os dedos levemente no volante de acordo com o ritmo da música e alguns instantes depois, o sinal abre, permitindo que eu siga meu destino. Cantarolo o refrão com energia, enquanto adentro uma rua com um trânsito menor. Espero que daqui em diante seja mais tranquilo.
Avisto a tela de meu celular piscar e “amor” brilhar na tela. Curiosa, olho de relance para o semáforo que continua verde, mas antes que eu cogite pega-lo para ler a mensagem, um carro partindo do cruzamento em alta velocidade me faz pisar no freio, em uma tentativa frustrada de impedir a colisão. Arregalo os olhos ao ouvir o estrondo e sinto meu coração saltar do peito. Meu corpo pende bruscamente para frente e o cinto de segurança impede que eu me machuque gravemente. Minha cabeça bate no teto do carro e quando minha mão a toca, o sangue entra em contraste com meus dedos pálidos.
Que merda. Era só o que me faltava... um motorista bêbado.
Abro a janela do carro e coloco a cabeça entre o vão, gritando a plenos pulmões:
— Qual o seu problema, porra? Nunca ouviu a frase “se beber, não dirija”?
Pessoas curiosas deixam suas casas para ver o que aconteceu e logo ouço batidas na outra janela do carro. Franzo o cenho para a mulher que está fazendo gestos estranhos e abro-a.
— Meu Deus, moça, tá tudo bem? — Assenti. — Tem certeza? Você tá sangrando.
Desvio o olhar e abaixo o espelho interno. Pego um lenço umedecido no porta-luvas e limpo o ferimento com delicadeza. Por sorte foi apenas um corte superficial. Jogo o lenço na lixeira e saio do veículo para avaliar sua situação.
Sua frente está toda amassada, assim como a lateral direita do Chevrolet Prisma do outro motorista. A vidraça fumê me impossibilitaria de ver se ele ainda está lá dentro, contudo, parte dela havia quebrado, dando-me a visão de sua silhueta. Ele abre a porta do carro e afasta a multidão com apenas um sinal. Conforme ele se aproxima e checa meu estado, noto que há um misto de culpa e alívio em seu olhar.
— Você está bem?
Em seu tom de voz há suavidade e urgência. Seu visual, apesar de desleixado, não transpassa a imagem de um bêbado.
— Sim, mas não graças a você — respondo ríspida. — Você é louco? Poderia ter matado alguém.
Acidentes de trânsito acontecem e tiram vidas o tempo todo no Brasil, e é bizarro ver que dentre as principais causas está a imprudência do próprio ser humano.
— Eu sinto muito, a minha mãe...
Reviro os olhos sem querer ouvir sua desculpa esfarrapada. É sempre a mãe, a irmã, a tia, a namorada... nunca assumem a culpa.
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