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O senhor do castelo

O senhor do castelo

Rekely

5.0
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1.9K
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28
Capítulo

A sensação de que estava envolta em água gelada, de certa forma, acalentou-a. Não sentia como se tivesse um corpo, mas sentia tudo como se assim o fosse. "Então, assim é a morte?", pensou," Esse vazio infinito. Melhor desse jeito!". Inicialmente, viu um pequeno ponto de luz. Aos poucos esse ponto foi se expandindo e, mesmo sem compreender, formou-se à sua frente a imagem nítida e real das folhas e números de um livro de contabilidade. Sons de passos. Uma pesada porta de madeira foi aberta bruscamente. - Senhora! Lamento informar, mas o seu marido, lorde Cliff, morreu em batalha. Lembrava-se desse episódio, a morte de seu primeiro marido. Estaria ela destinada a viver na eternidade o mesmo inferno que passara em vida nos últimos cinco anos? Irina desmaiou.

Capítulo 1 Prólogo

Irina da Casa Lindem é uma bela e inteligente mulher, com um passado misterioso. Apesar de sua beleza e sagacidade, sendo ela capaz de conduzir qualquer conversa com qualquer um, em diferentes níveis de conhecimento, deixando todos que a conheciam confortáveis e inebriados com sua retórica, ela nunca foi introduzida formalmente à sociedade elmaniana.

Ainda assim, na primavera de seus dezoito anos de idade, ela foi ofertada em casamento ao soturno duque de Cliff, amigo de longa data de seu pai, e enviada a um lugar distante.

Seu esposo, trinta anos mais velho, era um homem belicoso, que pouco ficava no castelo que residiam. O antigo companheiro de batalha de seu pai passava mais tempo em campos de guerra na fronteira norte de Elman, do que em sua propriedade.

Irina não se ressentia disso.

Cumprir seus deveres maritais era sempre uma tortura, não que o homem mais velho a maltratasse, mas seu corpo o rejeitava fortemente. Porém, a jovem fora educada para desempenhar o papel de uma dama na sociedade, satisfazendo o homem sem nunca deixar transparecer sua repulsa. Na verdade, pouca sinceridade transparecia nas feições de Irina, ela sempre usava a mesma expressão serena e complacente. Uma perfeita dama.

Sendo assim, quando nas paredes frias do castelo ecoaram os passos rápidos de soldados e estes irromperam no estúdio onde ela realizava o levantamento das contas da propriedade, ela permaneceu imutável. O rosto pálido como sempre, os olhos tão negros que parecia lagos sob a noite sem lua, os lábios grossos e vermelhos, retocados diariamente com os caros cosméticos aos quais se dava o luxo de comprar para si. Os cabelos pretos, firmemente presos por um broche dourado. Nada absolutamente saiu do lugar.

- Senhora! Lamento informar, mas o seu marido, lorde Cliff, morreu em batalha.

Nem por um momento, se quer, ela saiu de seu personagem de dama enquanto os soldados traziam a notícia da morte de seu marido.

Dessa forma, aos 25 anos, ela retornou à residência de sua família apenas três dias depois de se saber viúva. Por um breve momento, enquanto transpassava os portões do castelo que fora seu lar nos últimos sete anos, ela vislumbrou a figura máscula e imponente do novo lorde do castelo.

Ele vestia parte de sua armadura, mas sobre ela estava uma capa vermelha. Os cabelos prateados refletiam a luz fraca do sol daquele inverno. Brevemente seus olhos se encontraram, os dele cinzas como os restos de um incêndio, Irina quase riu de sua comparação. Ela pensou em ficar, queria implorar para ficar, mas seu orgulho de nobre a conteve.

A chegada ao seu antigo lar foi silenciosa, após uma jornada de cinco dias. Seu pai há muito havia falecido e seu irmão Idris era o novo senhor de Lindem. Ele a recepcionou calorosamente, seus braços a envolveram num abraço tão forte que a machucou.

O homem, apesar de cinco anos mais velho, parecia ser irmão gêmeo da jovem. Mesmo olhos escuros e cabelos lisos. A pele era fina, como a de um nobre que nunca presenciara um momento de necessidade ou uma batalha em sua vida.

Sempre fui contra sua partida, Irina... Estou feliz com seu retorno!

Enquanto as enormes portas de madeira se fechavam às suas costas, Irina lançou um último olhar para o exterior da mansão ricamente decorada. Sabia que ficara para trás qualquer chance de felicidade.

(5 anos depois)

Uma forte dor atravessou seu corpo, Irina queria respirar, mas não conseguiu. Um suor gelado escorria de seu corpo e ensopava suas roupas e os lençóis do leito. Um cheiro adocicado de sangue permeava o ambiente.

A criada segurou sua perna, soltando rapidamente. Irina queria dizer que não sentia dor na perna, mesmo que há 03 anos aquela perna tivesse sido quebrada em um acidente e nunca se recuperara totalmente, causando dor constante. Naquele momento, uma dor maior mascarou todo e qualquer outro sofrimento.

Sentiu suas entranhas se partindo enquanto expulsava seu filho de dentro do útero. Sentiu o corpinho escorregar por entre suas coxas. Um silêncio perturbador tomou conta do ambiente, uma criada gritou e correu para fora do quarto pouco iluminado. Seu marido, um homem pálido de corpo avantajado suspirou frustrado e se retirou também. Apenas Marianne, sua antiga babá, que segurava envolto em uma manta ensanguentada o corpinho de seu filho natimorto e Idris, que a olhava penetrante, permaneceram.

Marianne colou o pequeno ao seu lado na cama, Irina o puxou para seu peito. Seu bebê era um pouco maior que sua mão. As mãozinhas e pezinhos vermelhos e pequenininhos, mas completamente formados. Passou o dedo delicadamente pelas faces mal-formadas, mas pôde ver que ele tinha seus traços, ficou feliz por ele não ter puxado os traços grosseiros e antipáticos do marido.

Idris se aproximou e, sem demostrar nem um pouco de remorso, disse:

- Espero que tenha aprendido a lição!

Mas Irina não deu atenção àquelas palavras. Apenas olhava para seu filho prematuro, morto em seus braços. Ele, então, virou-se pronto para deixar o ambiente, quando a voz trêmula de Marianne o interrompeu.

- Senhor... Ow, deuses!

- O que...?!

- A placenta não quer descer, a senhora está perdendo muito sangue. Precisamos de um médico.

Um sincero pavor tomou conta das faces de Idris, bradando com voz desesperada, solicitou que chamassem um médico. Enquanto se debruçava sobre a irmã, cada vez mais pálida.

- Irina, você não pode morrer! Eu não vou deixar!

Mas ela apenas olhava para pequena criatura sem vida em seus braços.

"Deusa, mãe de todos nós, se essa pequena alma me foi destinada, me permita a chance de ser sua mãe novamente. Eu prometo protegê-lo dessa vez."

Lentamente, as vozes ao seu redor foram sumindo, a escuridão tomando todo o ambiente. Ela ainda sentiu o toque desesperado de Idris, sorriu, ele parecia estar sofrendo. Se soubesse que poderia atingi-lo daquela forma, o teria feito muito antes.

A sensação de que estava envolta em água gelada, de certa forma, acalentou-a. Não sentia como se tivesse um corpo, mas sentia tudo como se assim o fosse. "Então, assim é a morte?", pensou," Esse vazio infinito. Melhor desse jeito!".

Inicialmente, viu um pequeno ponto de luz. Aos poucos esse ponto foi se expandindo e, mesmo sem compreender, formou-se à sua frente a imagem nítida e real das folhas e números de um livro de contabilidade.

Sons de passos.

Uma pesada porta de madeira foi aberta bruscamente.

- Senhora! Lamento informar, mas o seu marido, lorde Cliff, morreu em batalha.

Lembrava-se desse episódio, a morte de seu primeiro marido. Estaria ela destinada a viver na eternidade o mesmo inferno que passara em vida nos últimos cinco anos?

Irina desmaiou.

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