Noiva por contrato - Bella mia(série: Destinos entrelaçados)
A proposta ousada do CEO
O caminho para seu coração
Acabando com o sofrimento de amor
O retorno chocante da Madisyn
Minha assistente, minha esposa misteriosa
Uma noite inesquecível: o dilema de Camila
A ex-mulher muda do bilionário
Um casamento arranjado
A Segunda Chance com Meu Amor Bilionário
PDV: Guilherme
A noite está quente, uma daquelas que é possível sentir o motor quente dos ônibus e outros veículos que passam perto de você pelo trânsito. Parar no semáforo é passar alguns segundos no próprio inferno. Não sou muito fã desse calor, mas essa sexta-feira é tão especial que eu não teria outra escolha senão sair do meu quarto com ar condicionado, séries e todas as bebidas que eu poderia querer. Mas o motivo é realmente ótimo.
Toda a galera vai se reunir numa boate recém-inaugurada no centro da cidade para comemorar o aniversário do meu melhor amigo, Nico. A turma marcou de começar a festa às nove da noite, daqui a cinco minutos, mas prefiro chegar quando todos já estejam animados. O começo da festa, com todos aqueles cumprimentos forçados, não me cai muito bem.
Além dos colegas da sala, minha namorada Laura também estará lá. Ela estuda em turno diferente de nós, mas a maioria já a conhece e gosta dela. Mandou-me uma foto antes de sair de casa mostrando seu look, um vestido preto rodado de comprimento que para acima do joelho, amarrado na parte de trás do pescoço. Seu cabelo castanho está enrolado em uma trança repousada em seu ombro esquerdo, o que valoriza seus lindos olhos verdes e sua maquiagem bem feita. Por último, reparo em seu salto preto altíssimo. Ela é baixinha e odeia isso.
Laura está vestida bem oposta de como eu estou. Apenas vesti um tênis branco, meu jeans mais claro e uma camisa xadrez branca e vermelha, os primeiros dois botões deixei abertos. Os caras devem estar desse jeito também, sei que me sentirei à vontade. A minha turma é muito boa, eu não sei o que faria sem eles.
Dirijo pelas ruas largas, reparando como a noite aqui está iluminada, uma lua cheia lá no alto, movimento de carros maior que o normal. Eu poderia fechar as janelas e ligar o ar condicionado, mas eu tenho uma sensação boa e também estranha de ver a cidade… Como se eu estivesse reparando pela primeira vez como esse lugar é familiar e quão bem eu me encaixo aqui. Quando esses pensamentos se interrompem, eu rio. Eu nunca penso clichê assim. Deve ser só um presságio de como a noite vai ser louca. Até esqueço da minha preferência por chegar um pouco depois, piso no acelerador e sigo na direção da boate. Só quero estar junto da minha turma logo.
Menos de dez minutos passam até eu encontrar na rua da boate. Estou a poucos metros, mas reparo em muitos carros estacionados e luzes verdes e brancas brilhando na entrada. Estaciono meu carro um pouco antes, guardo a chave no bolso junto com o celular e caminho na direção daquela gente toda. Eu já observo e reconheço algumas pessoas da faculdade fumando no lado de fora, outras saindo dos carros e entrando rapidamente; falo com alguns deles mas não perco muito tempo. Mostro minha identidade para os dois seguranças de preto, eles conferem meu nome na lista de convidados e me dão passagem. Passo por um corredor escuro e aveludado, que me permite ver o jogo de luzes e ouvir a música eletrônica antes mesmo de chegar no interior. As luzes me cegam um pouco, mas estou certo de que cheguei quando ouço os caras gritando meu nome e rindo alto.
— Feliz aniversário, cara! — digo dando um meio abraço em Nico assim que ele se aproxima.
— Valeu, mano, que bom que você está aqui.
Ele coloca uma lata de cerveja em minha mão e eu a viro na boca sem nem mesmo parar pra ver se estava aberta. Estava. O líquido desce bem gelado pela minha garganta, tão rápido que quando vou ver já acabou. Peço mais uma e Nico me pede que o acompanhe até o bar.
Nós caminhamos juntos até um balcão de vidro com vários homens uniformizados atrás dele, garrafas e copos de vidro, de diversos tamanhos e formas. Um cara prepara uma bebida de cor forte para uma plateia de curiosos animados, a maioria da nossa turma. Estou olhando na direção deles quando sinto algo gelado sobre o pano da minha camisa. Nico tinha se debruçado sobre o balcão e puxado a lata de cerveja de algum lugar. Eu a seguro e a abro rapidamente.
Nico Mendes é meu melhor amigo desde a infância. Seu pai trabalha com o meu no hospital da minha família há mais de vinte anos, isso também é coisa dos nossos avós. Na maior parte do tempo estou em dúvida se realmente quero ser mais um médico na família, porque isso não era bem o que queria antes. Ainda não é… Quando estou treinando ou estudando sozinho, penso em desistir da faculdade. Mas além dos meus pais, não desisto também pelos meus amigos. Eles estão comigo há muito tempo e é justo que terminemos isso juntos também, mesmo que não seja a minha felicidade total.
Ainda falando sobre Nico, ele é um dos caras mais bonitos da faculdade. Várias garotas já chegaram em mim me pedindo para ficar com ele, mesmo sabendo que ele namora sério há meses. Deve ser seu cabelo loiro encaracolado e olhos azuis que lhe dão uma aparência de uma perdição de verão, bem diferente da minha pele pálida, meu cabelo castanho e sem graça. Eu uso óculos pra ler, já ele malha e parece um surfista. Parecemos um o oposto do outro, mas nos damos muito bem. Ainda temos o terceiro membro dos três mosqueteiros, Theo, que chegou depois mas também é muito amado. Ele é o mais tranquilo de nós, também o único que não está namorando. Namorando sério, porque parece que a cada fim de semana ele pega uma caloura diferente. Ele é mais baixo, porém também atraente com o cabelo raspado, sua pele morena e os braços fortes. Nós três somos bem diferentes mas ainda assim somos quase irmãos. Já brigamos várias vezes, mas nada nunca nos separou. E sempre será assim.
Nico me deixa sozinho para ir falar com as pessoas que chegam a todo tempo. Ele é o aniversariante e também o centro das atenções. Vou num canto onde estão as mesas mas fico de pé, olhando pelos cantos da boate pra ver se encontro Laura, mas não a vejo.
Permaneço de pé observando o movimento, as pessoas dançando, outras chegando e também procurando por Nico. A música está tão alta que faz parecer as mesas tremerem, mas nada me anima a ir lá dançar sozinho, tenho muita vergonha disso. Fico absorto vendo esses futuros médicos curtindo a vida antes de terem tantas responsabilidades… nem sei porquê estou tão reflexivo hoje. Estou feliz, mas a aura é um pouco estranha. Chego a esquecer da cerveja em minha mão.
De repente, um par de mãos conhecidas bloqueia minha visão. Sinto um corpo pequeno roçando no meu, mas o que me faz ter certeza é esse cheiro de perfume forte que ela sempre usa.
— Eu estava procurando por você — digo sorrindo.
Laura então tira as mãos da minha visão e surge em minha frente com aquele olhar esperto e um sorriso único. Une suas mãos atrás do meu pescoço e beija meus lábios com calma. Eu a seguro pela cintura.
— Chegou há muito tempo? — ela pergunta inclinando a cabeça.
— Mais ou menos. E você?
— Eu estava… no banheiro.
Laura hesita em sua resposta. Ela parece estar mais fingindo estar bem do que estar realmente.
— Está tudo bem? — pergunto.
— Está, sim. Não se preocupe.
Ela então sorri fraco e me abraça.
Pelas próximas horas, eu faço o que Laura pede e esqueço um pouco as preocupações e os sentimentos esquisitos que me rondavam. A galera vai chegando e tudo ficando mais agitado. Os caras vão conversando e me animando cada vez mais. Zoamos muito com Nico, jogamos bebida em sua cabeça várias vezes. Tiramos fotos, jogamos sinuca, fazemos diversos desafios e eu realmente vou rindo e me divertindo muito.
Quando eu já não tenho mais noção de que horas são e de quantos copinhos e latinhas eu já virei, preciso me encostar em uma das paredes. Não estou mal pela bebida, na verdade sou bem forte com isso e raramente fico de ressaca, mas acho que são essas luzes e o calor que não me fazem bem. Tento manter minha cabeça pra cima e controlar a respiração. Porém, no outro canto, na direção do banheiro feminino, algo incomum me chama atenção: reconheço meu amigo Theo entrando naquele espaço restrito, olhando para trás e para o lado, certo de que está fazendo algo errado. Mantenho meu olhar ali. Nem meio segundo se passa para aparecer outra pessoa e entrar no banheiro da mesma forma escondida e desconfiada que Theo entrou. Essa pessoa é Tina, a namorada de Nico.
Tento imaginar o que esses dois, e principalmente Theo, estão fazendo ali, no banheiro feminino, enquanto estão todos aqui fora festejando. Eu não consigo parar de pensar na opção mais pervertida que me vem à mente.
Dois minutos se passam. Três, quatro, cinco. Nenhum movimento. Ninguém repara em mim aqui parado, nem ninguém sai daquele banheiro. A ideia de que esses dois estejam fodendo ali dentro, na festa de aniversário de uma pessoa importante para ambos, faz meu sangue ferver. Traz de volta a energia que o calor me roubou.
Mais algum tempo passa, e nada. Eu então decido ir verificar, antes que algo horrível aconteça. Nem passo pela pista de dança, não quero que ninguém me veja. Contorno o caminho por trás das mesas e cadeiras, na lateral mais escondida da boate. Chego na porta do banheiro. Olho para trás, todos continuam ocupados demais para repararem aqui. Então, ponho minha mão na maçaneta.
— Não faça isso!
Laura surge na minha frente, sei lá de qual lugar, e se cola na porta do banheiro, protegendo a entrada como se fosse sua própria vida. É aí que desconfio que ela saiba de tudo que está possivelmente acontecendo lá dentro.
— Laura, não me diga que você é cúmplice disso!
— Cúmplice de quê, Gui? Eu só não quero que entre aqui, é um lugar das mulheres.
O sorriso em seu rosto é o mais falso e desesperador que já vi.
— Eu não acredito que está mentindo pra mim.
— Mentindo sobre o quê? Não vamos chamar a atenção das pessoas, por favor — ela sussurra.
— Ah, eu não acredito! — grito, mas ainda não é mais alto que a música. — Você está deixando a namorada do meu melhor amigo trai-lo no dia do aniversário com o outro melhor amigo dele? Vocês não têm vergonha?
— Não é nada disso, por favor vamos sair daqui — ela rebate sem nunca desgrudar da porta cor de rosa.
— Eu vi eles entrando, Laura! Eu não vou deixar que isso aconteça debaixo do nariz do Nico, na festa dele!
— Guilherme, pelo amor de Deus, fale baixo! Eu juro que vou te explicar o que você quiser mas não faça nada, eu te peço.
Eu nem havia reparado que estava falando mais alto.
— Isso não tem explicação! Que tipo de amiga você é?
— Vamos embora, por favor, não vamos nos meter nisso. — Ela segura meu braço mas eu nem me movo.
— Ei, o que vocês estão fazendo aí? — Nico surge ao nosso lado, um sorriso grande e descontraído o dominando.
Olho para Laura. Seus olhos literalmente imploram por silêncio antes dela mesma responder ao Nico.
— Não é nada. Tá tudo bem.
Nós nos entreolhamos.
— Não estão tendo uma DR agora, estão?! — Nico pergunta mas não espera nenhuma resposta. — Falando nisso, cadê a Tina? — Passa seus olhos azuis sobre a festa com atenção.
— E-eu não sei, vamos lá procurá-la! — Laura aponta na direção da pista de dança.
Em um movimento rápido, empurro Nico com minhas mãos em seu peitoral até a parede branca na lateral do banheiro. Ele se encosta, me olhando confuso enquanto eu falo. Laura surge atrás de mim, protesta com gritos, mas é inútil. Eu não posso enganar meu amigo, nem que pra isso tenha que prejudicar um outro amigo. Mas nessa altura eu já não sei quem é o quê do outro.
— Eu vi sua garota entrando nesse banheiro, Nico.
— Ué, e daí? — Ele levanta os ombros.
— Guilherme! — chama Laura, mas ignoro.
— O problema é que eu vi Theo entrando ali um pouco antes dela. No mesmo banheiro.
No mesmo instante, os olhos azuis e simpáticos de Nico ficam escurecidos e raivosos. Ele olha na direção da porta e, sem pensar duas vezes, vai até lá, passando e esbarrando com certa força em mim. Ele abre a porta em um só golpe com a mão; ela bate contra a parede e pela primeira vez faz um ruído que supera a música do local. Todos olham nessa direção. Eu fico parado, vendo Nico adentrar no banheiro e gritar lá de dentro:
— O que está havendo aqui?
Eu não ia me meter, mas no mesmo instante que Nico grita, Laura entra no banheiro. É instintivo, devo protegê-la nem sei de quê, mas há uma sensação estranha dentro de mim. Ela não pode ficar sozinha lá com tanta raiva.
Quando entro, a cena não é o que eu esperava, mas sinto que também não é nada boa. Ambos estão de frente para a porta, lado a lado, vestidos, mas com uma cara de surpresa e talvez também medo. Tina usa um vestido branco colado e tem o cabelo loiro solto, alguns fios presos na testa por causa do suor. Theo usa roupas pretas e parece estar suando também.
No meu lado direito, há um grande espelho, quase do tamanho da parede inteira, na parte de baixo há uma pia de mármore preenchida por várias torneiras eletrônicas. Já no lado esquerdo, há umas seis cabines de portas fechadas, mas no meio delas há uma de porta aberta. Só uma.
— Ninguém vai me contar o que está acontecendo? — Nico insiste após o silêncio.
— É… Eu não estava me sentindo muito bem, Nico — começa Tina. — Estava enjoada e pensei que fosse desmaiar. Theo me trouxe até aqui pra vomitar. Foi isso.
— Ah, foi isso? Guilherme viu ele entrando antes de você.
Nesse momento Theo me olha um pouco desolado.
— Isso não faz sentido — responde Tina.
Nico dá um passo na direção de Tina e segura o queixo dela, eu presumo que com força, pois ela exala um grito.
— Quando você vai parar de mentir pra mim, sua vaca?
Eu também dou um passo à frente tentando puxá-lo de volta pela camisa, antes que ele machuque a menina.
— Ela já disse que não aconteceu nada, você que não quer acreditar — Theo rebate.
— Seja homem, seu merda! — Nico grita e agora dá um empurrão em Theo. — Seja homem e assuma que você estava comendo a minha namorada no meu aniversário e ainda diz que é meu amigo! Você é um merda!
— Laura, chame os seguranças, vai! — peço e a vejo correr para fora do banheiro.
— Nico, isso é só um mal entendido, por favor, deixa ele. Vamos lá pra fora que eu te explico tudo. — Tina pede.
— Mal entendido? Vamos ver…
Antes que qualquer um de nós proteste, Nico entra na única cabine que está com a porta aberta. Ele logo sai de lá com uma embalagem rasgada de camisinha. Passo minha mão pela testa e pelos meus cabelos, porque isso só vai ficar pior.
— Cara, calma.
— E agora, Tina? É só um mal entendido? — pergunta aos gritos. — É?
— Você é louco! Isso pode ser de qualquer garota. Você tá paranoico!
Pra mim e talvez até pra Nico já está claro o que aconteceu aqui e em vez dela admitir pra tornar tudo menos pior, não, ela segue negando e mentindo. Essa mulher não presta. Meu amigo também não.
— Eu sei que essa é a camisinha que você compra. Eu sei! Para de mentir, Tina! Acabou!
— Para! — Tina grita.
Nico a segura pelos ombros e começa a sacudi-la. Ela grita. Theo e eu ficamos cada um de um lado tentando separá-los, mas agora Nico parece o cara mais forte do mundo.
— Você vai perder a cabeça — sussurro para meu amigo. — Vai agredir uma mulher, cara, que isso?
Ele para.
— Tem razão… Isso vai acabar mal pra mim. Mas não se eu acabar com esse cara.