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“Psiquê… que raios de nome é esse?”, ela se perguntava, irritada, enquanto descia as escadas do pequeno apartamento onde morava.
Psiquê era seu nome, mas não fazia ideia do porque seus pais a nomearam como tal. Sabia que aquele era o nome de uma princesa grega, ou algo assim, mas em nada ela se parecia com uma princesa, não financeiramente ao menos.
Em beleza, dependendo da perspectiva, Psiquê talvez se passasse como a realeza. Seus cabelos, longos e naturalmente claros, lhe conferiam um aspecto jovial, seus olhos vívidos e brilhantes tinha um tom de verde similar aos de uma esmeralda e seus lábios, naturalmente rosados, eram grossos e bem desenhados, cheios e, aos olhos de muitos, até apetitosos.
No entanto, sua aparência não lhe trouxe muitas oportunidades na vida, não como todos a fizeram acreditar na infância. Sempre ouvira de seus pais que seria algo grande, que não nascera com tanta beleza por nada. As pessoas sempre foram gentis com ela, desde sempre a tratavam como um pequenino diamante até que, em um belo verão, ela entrou na selva que chamavam de universidade.
Haviam outros que pareciam não se importar com sua beleza ou com suas necessidades e Psiquê descobriu, da pior maneira possível, que pouco importava sua aparência se, no fim, ela não ocupasse seu espaço de forma a se destacar com algo que não fosse seu rostinho bonito.
Enquanto passava pela porta do seu prédio, tentando equilibrar a bolsa nos ombros, ela corria em direção a cafeteria mais próxima, descendo a avenida Pioneer St. Morava no Brooklyn desde que terminara sua faculdade de jornalismo e, ao menos de sua perspectiva, as coisas não estavam indo tão bem.
A loira virou a direita e sem sequer olhar para frente, entrou na pequena cafeteria. Assim como todos os prédios do bairro, aquele também apresentava um estilo de construção antiga, industrial, mas muito bem conservada e bem reformada pelos donos, que já conheciam a loira apressada e, assim que a avistaram foram preparar seu café.
— Atrasada de novo? — perguntou Peggy, a atendente que, vez ou outra, batia papo com Psiquê quando ela não estava com pressa, o que raramente ocorria.
A garota usava uma calça jeans e uma blusa de mangas longas verde que mal podia ser vista, com exceção das mangas, pois era ocultada pelo avental cor de rosa que tinha a logo da cafeteria. Seus cabelos escuros estavam escondidos dentro de uma touca e, diferente do tratamento que ela dava aos demais clientes, Peggy não forçava a simpatia exagerada para Psiquê, estava relaxada.
— E quando eu não estou? Parece que a vida me odeia! — reclamou a loira, pegando seu celular e abrindo o aplicativo para pedir um Uber, torcendo para que não custasse muito caro. — Vou ter que pegar um Uber, de metrô não vai dar pra chegar.
— Seu salário vai todo nessas coisas — Peggy falou revirando levemente os olhos. — Nisso e em café puro e Donuts com cobertura de chocolate, você ainda vai morrer por comer só porcaria.
Dito isto, a garçonete entregou a ela uma bandeja para viagem, um pouco a contra gosto. Apesar da pouca intimidade, Peggy era uma das poucas pessoas com as quais Psiquê realmente conversava quando não estava atolada de trabalho ou levando cafezinho para sua chefe.
— Tá chamando os produtos da sua cafeteria de porcaria? — a loira retrucou, pegando a bandeja e erguendo uma das sobrancelhas enquanto abria o instagram com a outra mão.
— Não posso dizer que é a coisa mais saudável do mundo — murmurou a garçonete, revirando os olhos. — Olha lá, chegou seu carro.
Quando a frase chegou aos ouvidos da jornalista, a loira agarrou com certa força sua bandeja e correu para fora entrando no carro de forma desajeitada e sequer pondo o cinto. Enquanto acompanhava o instagram com os olhos, usando a outra mão para abrir a caixa e comer o que seria sua refeição do dia com toda pressa do mundo, mais uma vez, Psiquê se deparou com alguns tabloides de fofoca e notícias mais curtidas de colegas de curso que, diferente dela, já haviam conseguido conquistar seu papel na industria jornalistica.
“É, garota, parece que só você se ferrou”, pensou ela, pegando o primeiro donut e dando uma mordida desgostosa, aproveitando o sabor doce e torcendo para que aquilo melhorasse seu humor. “Que deprimente.”
Apesar de saber que, diferente de suas amigas, ela havia conseguido uma vaga numa das revistas mais famosas do estado, The Clio, e, supostamente, em sua área favorita, o glamour não era como imaginava. Mesmo tendo o cargo de jornalista estagiária, não conseguiu conquistar seu espaço e seu tempo estava acabando.
Quando seu estágio chegasse ao fim, não teria outra oportunidade, sendo assim, teria uma carreira falida.
— Mas como eu vou subir nessa porra se todo mundo passa por cima de mim? — ela perguntou, sem sequer notar que havia pensado alto, percebendo o motorista olhar para ela com uma expressão confusa. — Desculpe!
“Preciso mudar isso, preciso de um furo!”, ela repetia, para si mesma, enquanto olhava os destaques do Twitter.
Precisava de algo para procurar, de uma notícia tão bombástica que faria todos se lembrarem de seu nome por muito tempo e, com isso, conseguiria ser promovida, quem sabe ganhar até seu próprio tabloide, aquele era seu sonho.
Sabia que no começo, havia tirado a sorte grande por conseguir a vaga, mas nunca imaginou que as coisas seriam tão difíceis. Longe de seus pais, morando num apartamento mediano e tentando sobreviver ao maldito estágio, ela começava a se sentir desesperançosa quanto a sua futura profissão e começava a cogitar retornar para a casa de seus pais e ceder aos pedidos deles para que se envolvesse no negocio de vinho da familia.
Mas seu sonho de ter sucesso na selva de pedras que era New York a impedia de desistir e correr de volta para os braços de seus pais. Não queria passar a vida como suas irmãs, pacatas donas de casa que tinham seus maridos e faziam pilates, sabia que seu destino era outro, precisava ser.
Queria construir sua carreira e aquele estágio era a melhor oportunidade que teria, não havia lugar melhor.
The Clio, com certeza, deixou sua marca no ramo do qual fazia parte. Era uma revista que tratava de diversos temas, desde fofocas até questões sobre saúde e bem estar. Mas, obviamente, o carro chefe eram os tabloides que atualizavam as curiosas de plantão sobre os principais nomes de Hollywood ou sobre os astros da música.
Era, sem dúvida alguma, uma das revistas de mais público e com mais seguidores no instagram e no twitter. Havia lugar melhor para alavancar sua carreira?
“Eu só preciso de uma coisa bombástica”, ela pensou, suspirando e enfiando a mão na caixa de donuts.
A loira balançou levemente a cabeça, repreendendo-se internamente enquanto enfiava o último donut na boca sujando os lábios quase que completamente com a calda de chocolate e deixando as bochechas estufadas e cheias da massa doce e com um leve gosto de limão.
Enquanto olhava pela janela, Psiquê viu o grande prédio, com a fachada completamente envidraçada, se apresentar logo à frente. As letras em dourado, que brilhavam com a luz do sol, não deixavam que ele passasse despercebido, The Clio era o maior da região e representava muito bem a posição da revista diante de suas concorrentes, afinal, dentre os tabloides de fofoca ele era o melhor e mais atualizado.
Enquanto tirava apressadamente o dinheiro do bolso, a loira ajeitava a bolsa sobre o ombro com a mão livre. Assim que encontrou os poucos doláres que ainda lhe restavam do salário do último mês, ela praticamente os jogou no banco do carona e, ao mesmo tempo, abriu a porta, pulando para fora do carro e levando consigo sua caixa e seu copo de café, intocado até então.
Seus passos eram apressados, como os de todos os trabalhadores que ainda não estavam dentro do prédio, estava quase atrasada e todos sabiam que Clio odiava atrasos.
Enquanto jogava sua caixa vazia na primeira lixeira que havia visto pela frente, Psiquê pensava em como alguém tinha tamanha pretensão de nomear uma revista de fofoca com seu próprio nome, porém apesar da clara demonstração de ego, Clio havia tirado a sorte grande, afinal, havia construído um império invejável.
— Foi por pouco hoje, em! — ela ouviu a voz de Pollux ecoar pelo grande corredor que levava até os elevadores.
— Você não me deixa em paz, né? — reclamou ela, afinal, o homem quase nunca a deixava sozinha, principalmente nas primeiras horas da manhã.
Pollux era seu superior, um dos jornalistas que tinha a confiança de Clio, isso lhe dava alguns privilégios. Junto a seu irmão, que estranhamente se chamava Castor, ambos formavam uma dupla que, depois da chefe, era a mais temida de todos os 30 andares que compunham a sede da Clio.
Enquanto Castor supervisionava as equipes já experientes, Pollux sempre cuidava dos estagiários e, em especial, das estagiárias. Sendo um dos braços direitos da chefe, a maioria das moças caíam em suas graças para conseguir uma promoção mais rápida para a equipe sênior.
Obviamente Pollux adorava aquilo e, na maioria das vezes, ele conseguia ficadas longas e muito divertidas com todas as estagiárias, menos com uma, e isso o fazia tornar o trabalho dela duas vezes mais difícil. Psiquê sabia como o esquema funcionava, suas colegas já haviam dito a ela, várias e várias vezes, como conseguir a promoção mais rápido. Porém, ainda não estava tão desesperada.
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