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Pelo menos uma vez por ano visitávamos os Chevalier no castelo onde eles moravam e um dia reinaram, quando ainda existia monarquia em Noriah Sul.
Eu gostava de brincar com Andrew, Laura e Heitor. Minha irmã, Pauline, embora mais velha, assim como Andrew, também se divertida conosco. Eu achava que devia ser divertido morar num lugar com tantas pessoas para brincar, como eles tinham. Afinal, todos moravam juntos ali. Minha irmã mais nova não nos acompanhava nestes momentos, pois ainda era bebê. Havia começado a caminhar há pouco mais de alguns meses.
Meus pais tiveram três meninas: Pauline, a mais velha; eu, a do meio e Aimê, a caçula. Éramos a prole D’Auvergne Bretonne. Sim, meus pais não tiveram nenhum menino. E por incrível que pareça, meu pai era imensamente feliz com suas quatro mulheres e um reino inteiro para gerenciar.
Estávamos brincando de pega-pega num dos jardins, que tinha um enorme campo gramado verdejante ao lado. Diziam que o príncipe Magnus usava o espaço para correr duas vezes por dia. O espaço para fugir durante a brincadeira era limitado.
Andrew era magrelo e acho que por isso corria mais que todo mundo. No entanto, depois de um tempo ele aparentava cansaço enquanto eu o provocava a vir me pegar.
- É injusto pegar ela, Andrew. É uma fedelha. – gritou Henry.
Andrew olhou-me e correu atrás de mim, não dando atenção ao primo. Na fuga acabei caindo e ele também, só que por cima de mim.
- Machuquei você? – perguntou preocupado, levantando rapidamente.
- Não... Mas não quero mais brincar de correr. – falei aceitando a mão dele para levantar, limpando o suor da minha testa enquanto todos pararam com a brincadeira.
- Vamos brincar de casamento? – sugeriu Laura.
- Como se brinca de casamento? – perguntou Pauline curiosa.
- Casando. – ela respondeu simplesmente.
- De verdade? Para sempre? – perguntei confusa.
Todos começaram a rir.
- Ei, eu só fiz uma pergunta. – defendi-me.
- Você está fora da brincadeira. – disse Laura altivamente.
- Por quê? – perguntei furiosa.
- Porque você ainda é muito nova para casar. – ela disse saindo enquanto todos a seguiam em direção ao castelo.
Laura era sempre a líder nas brincadeiras. Lembro que ela sempre brigava comigo e tentava me excluir. Minha mãe dizia para relevar, pois éramos todos parentes no fim. Mas ela não era minha parente de verdade. Era prima emprestada, já que era filha de Dom e Eva, que não tinham nenhum laço de sangue com minha família... Os laços vinham com os Chevalier. Então eu só tinha laços sanguíneos com Andrew. Porque Henry era o filho adotado de tio Dereck e tio Kim. Ou será que Henry não era adotado? Mas se Dereck era casado com Kim... E os dois eram homens, eles teoricamente não podiam ter um bebê. Eu perguntaria para minha sobre isso.
Fiquei parada enquanto Andrew passou por mim, mancando:
- Vamos lá, fedelha, pode brincar sim.
- Sério? – perguntei feliz seguindo ao lado dele. – Por que você está mancando?
- Acho que machuquei meu pé quando caí.
- Está doendo?
- Não...
Eu vi uma flor amarela no caminho e arranquei, dando na mão dele:
- Para melhorar sua dor. – expliquei. - E agora você já tem uma flor para casar.
- Eu não vou brincar de casamento. – ele disse. – Não tenho mais idade para isso.
- Então por que disse que eu posso brincar se nem você vai? – questionei.
- Porque você tem idade para brincar disso.
- Laura disse que eu sou muito nova.
- E você acha que é?
- Para brincar ou casar?
Ele riu:
- Esquece, fedelha.
- Você é velho para brincar de casar?
- Sim... Eu já tenho idade para casar de verdade.
- Então por que brincar de casar, não é mesmo? – perguntei enquanto entrávamos finalmente no castelo.
- Exato.
- Você já beijou uma garota? – perguntei curiosa enquanto subíamos as escadas, mais atrás dos outros.
- Você é muito ousada, fedelha.
- Responde, Andrew. – bati no braço dele, sorrindo ansiosamente pela resposta.
- Claro que sim. E você, já beijou?
- Claro que não. Eu só tenho dez anos.
Ele olhou a flor e guardou no bolso.
- Você vai perder a flor que lhe dei. – falei brava.
- Não vou. Guardei no bolso justo para não perder.
- Espero que não dê para uma das suas garotas.
- Por que acha que eu faria isso?
- Não sei...
- Eu daria um buquê de flores a uma garota, não uma flor que ganhei de você.
Subimos as escadarias e fomos conduzidos por Laura até uma sala no terceiro andar. Era onde ficavam as joias reais e as coroas. Fiquei maravilhada olhando tudo. Passei minhas mãos nos metais brilhantes e frios, completamente encantada.
- Acha bonitas? – perguntou Andrew me seguindo.
- Sim...
- Não há sala de coroas em Alpemburg?
- Claro que há... Mas são diferentes destas... Além do mais, já conhecemos tudo que tem lá.
- Você usará uma coroa, sendo que não será a rainha? – ele perguntou.
- Acho que não. – dei de ombros. – Não me importo também.
- Pauline será a rainha? – ele perguntou, olhando para minha irmã.
- Sim... Ela já faz tudo pensando nisso.
- Ei, você não vem, Andrew? – perguntou Laura mais adiante, com os demais num espaço vazio.
- Olha a minha cara de quem vai brincar de casamento. – ele disse sentando numa cadeira, enquanto observava tudo.
- Vamos, deixa de ser bobo... A gente sempre brincou disto. – disse Henry.
Laura pegou um véu e o prendeu numa linda tiara, colocando sobre sua cabeça:
- Vem, Andrew, seja meu marido. Vamos andar pelo altar...
Fiquei olhando Henry colocar um tule vermelho numa coroa de rubis e colocar na cabeça de Pauline. Ela pareceu gostar, pois os dois riam o tempo todo.
- Você pode ser o padre, fedelha. – disse Laura.
Sentei no chão, perto de Andrew e fiquei fazendo beiço. Laura definitivamente fazia questão de me tirar das brincadeiras. Tudo bem que eu era mais nova que eles, mas minha mãe sempre dizia que eu não precisava ficar de fora das brincadeiras.
Observei atentamente Pauline andar pelo corredor no meio das coroas, com seu véu vermelho e sua coroa de rubis. Ela estava bonita.
- Não tem padre. Vamos fingir que isto é um padre. – disse Laura colocando uma coroa enorme sobre uma pequena mesa de vidro.
- Ei, tome cuidado... Esta coroa foi de meu pai. – disse Andrew.
- Magnus não vai se importar. – ela falou, ignorando por completo o apelo de Andrew.
Qual não foi minha surpresa quando Pauline e Henry “casaram” e depois do sim se beijaram na boca. Passei as mãos sobre meus olhos várias vezes para ter certeza de que eu não estava vendo coisas. Minha mãe e meu pai iriam matá-la se soubessem que ela beijou Henry. Acho que mais meu pai do que minha mãe. Ele era mais conservador. Minha mãe era absolutamente liberal... Até demais algumas vezes.
Laura riu:
- Gostei ainda mais. Venha Andrew, agora somos nós dois.
- Eu não vou brincar disto. – ele disse firmemente.
- É só uma brincadeira, não seja bobo. – disse Henry. – Não é um casamento de verdade.
- Mas este beijo não foi de brincadeira. – Andrew alegou.