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A festa de despedida do meu filho, Miguel, enchia a rua com música e cheiro de churrasco, um orgulho que mal cabia em mim.
Miguel, meu primogênito, havia conquistado o impossível: uma bolsa de estudos na Europa. Ele era o sol da minha vida, o motivo de cada sacrifício.
"Mãe, para de me olhar assim, vou ficar com vergonha" , disse ele, rindo, enquanto abraçava os amigos. Eu sorria, feliz por vê-lo radiante, com um futuro tão brilhante.
Mas, de repente, a música parou. Minha vizinha de longa data e amiga, Carmen, apareceu na entrada da rua. Ao lado dela, o marido Zé, com o rosto marcado pelo álcool, e o filho deles, Pedro, encolhido nas sombras.
Uma sensação estranha começou a se formar no meu estômago.
Carmen deu um passo à frente, um sorriso perverso nos lábios, os olhos cheios de inveja fixos em Miguel. Sua voz, alta e cortante, silenciou a todos.
"Aconteceu, sim, Sofia. Aconteceu que eu cansei de mentiras. Eu vim buscar o que é meu" .
Um silêncio pesado caiu sobre a festa. Ninguém entendia.
Carmen apontou um dedo trêmulo para Miguel, que a olhava confuso.
"Ele não é seu filho, Sofia. Miguel é meu filho!"
A acusação foi uma bomba. As pessoas ofegaram. Senti o chão sumir sob meus pés, mas me mantive firme. Miguel ficou pálido, seu sorriso desapareceu.
"O que você está dizendo, Carmen? Você enlouqueceu?" , gritou um vizinho.
"Louca? Eu não estou louca!" , Carmen rebateu, histérica. "Eu dei a ele a melhor vida que ele poderia ter! Com você, Sofia! Uma vida que eu não podia dar. Eu fiz isso por amor! Para que ele não acabasse como…" , ela parou, olhando com desprezo para Pedro.
E então, com nojo evidente, ela apontou para Pedro.
"E aquele ali… aquele é o seu filho de verdade" .
Todos os olhares se voltaram para Pedro. Ele parecia um fantasma, magro, com roupas gastas e uma cicatriz feia no rosto. Tremiam, assustado, agarrando a calça do pai, que nem se moveu. A diferença entre ele e Miguel era brutal.
Miguel olhou de Pedro para mim, o pânico crescendo em seus olhos.
"Mãe? Mãe, o que ela está falando? É mentira, não é?"
Eu olhava para o rosto aterrorizado do filho que criei. Vi o medo, a confusão. Mas dentro de mim, uma calma fria se instalou. Eu estava esperando por esse dia. Meu olhar encontrou o de Carmen, e a falsa amizade de anos se desfez, revelando apenas ódio e rivalidade.
Carmen tentou forçar um sorriso maternal. "Miguel, meu filho. Eu sou sua mãe de verdade. Eu sei que é um choque, mas eu estou aqui agora. Eu nunca deixei de te amar" . Suas palavras eram doces, mas seus olhos brilhavam com ganância.
"Que mulher sem-vergonha!" , uma vizinha murmurou.
Zé, o marido de Carmen, finalmente se moveu, com um sorriso debochado.
"O que foi? Estão surpresos? A Carmen só fez o que qualquer mãe faria. Queria o melhor para o filho dela" .
Ele olhou para Pedro com desprezo.
Carmen continuou: "Ele teve um pequeno acidente quando era criança, só isso. Coisa de menino" , ela minimizou a deficiência de Pedro. "Mas com o Miguel, eu sabia que a Sofia cuidaria bem. E olhem só, eu estava certa! Um jogador de futebol famoso!"
Zé soltou uma gargalhada.
"Acidente? Eu disciplinei ele, isso sim. Esse moleque era teimoso, precisava aprender a obedecer. Uma boa surra de vez em quando não faz mal a ninguém. Endireita a criança" .
A multidão murmurou em choque. A crueldade deles era inacreditável.
Então, Clara, a filha de uns dezesseis anos, com a mesma arrogância da mãe, saiu de trás de Zé e olhou para Pedro com um sorriso maldoso.
"Ele é um aleijado chorão, isso sim. Vive se escondendo pelos cantos. Dá até vergonha de ser irmã dele" , disse Clara, alto o suficiente para todos ouvirem.
A humilhação pública era total. Pedro parecia querer ser engolido pela terra.
Seu Antônio, um vizinho que viu Pedro crescer, não aguentou.
"Acidente? Disciplina? Aquela cicatriz no rosto dele não foi um acidente, Zé! Nós todos sabemos que foi você quem jogou uma garrafa nele naquele dia em que você chegou bêbado em casa!"
A acusação pairou no ar, pesada e horrível. Zé sorriu.
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