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Cada momento é tão precioso e único, ainda assim nunca paramos para bater uma fotografia mental das situações tão divertidas que passam depressa. A felicidade age pelos caminhos do acaso, uma vez percebida, é melhor senti-la do que conferi-la, por isso as crianças têm esse dom e, em parte, tive uma infância feliz.
Por sete anos fui filha única, foi um período bom e confesso que aproveitei bastante essa carreira solo, mas com o nascimento do meu irmão mais novo, o roteiro tomou outro rumo. Inicialmente foi estranho ter que dividir atenção e essas coisas, mas depois de ver de perto aquela miniatura de ser humano com roupinhas de algodão, tão indefeso, enroscando os dedinhos no meu dedo indicador, senti que seria meu aliado para a vida toda. Petter é aquele motivo a mais que toda pessoa precisa para tomar decisões importantes.
Nada mudou, não como eu imaginei que fosse. Se antes minha mãe me levava para o Parque perto de casa chamado Lakewood, Petter se tornou mais um tripulante sem faltas dos passeios de todo fim de tarde, todo enrolado e dorminhoco no carrinho de bebê, enquanto eu corria sobre o gramado verde em direção ao balanço, propositalmente desengonçada, só para ouvir minha mãe gritar: “Lia, cuidado, não corre assim!”, mas era em vão, já que eu adorava sentir que alguém se importava muito comigo.
Como uma boa administradora, sempre preocupada em dar atenção dupla, ela posicionava o carrinho do Petter virado para sua visão e perto do balanço, afastado o suficiente para que não corresse o risco de ser machucado pelo meu impulso, logo mais era minha vez de brilhar, até tinha uma frase ensaiada, bem profissional que aprendi assistindo a filmes espaciais:
— Comandante Lana, preparar para decolar. – fingia segurar um walkie talkie numa mão, enquanto a outra segurava com firmeza na corrente fixada à base do brinquedo. Minha mãe, como uma boa apoiadora do faz de conta, respondia na mesma intensidade, sem perder a brincadeira:
— Entendido, patrulheira Lia.
A cada empurrão no balanço para frente, me sentia mais solta, mais livre e, como gostava de tornar aquele momento mágico, fechava os olhos para deixar o vento tomar conta do vai e vem que me transformava num passarinho ainda sob os cuidados das mãos maternais que balançavam numa velocidade segura, porém, sem perder a diversão. E assim as tardes passavam até que o sol se despedisse e tornasse a noite dona da vez, a gente chegava bem cansado em casa, passávamos sempre da porta direto para o banheiro.
Depois de horas despendidas em risadas, a noite era focada em descansar. A cereja do bolo era ver minha mãe aconchegada na poltrona de amamentação acinzentada com Petter no colo, e a janela atrás com a cortina puxada para o lado mostrava a escuridão iluminada do anoitecer estrelado. Eu, agasalhada num pijama com o rosto inteiro do Ursinho Pooh estampado na blusa de moletom, me encolhia no tapete felpudo azul, cobria meu corpo com uma manta tão fofa que parecia uma ovelha, enquanto apreciava o cantarolar da minha mãe ao mesmo tempo em que tinha a incrível habilidade de sorrir ao cantar.
A música era sempre lenta e calma, como sussurros delicados do fundo da garganta para que Petter adormecesse enquanto se alimentava, e essa tática sempre dava certo, tanto para ele quanto para mim, que pouco a pouco me embalava no sono que chegava pesado, então, a última imagem que eu tinha dela era de um sorriso lindo e tão gracioso quanto a presilha em formato de lírio – sua flor favorita – que prendia sua franja para trás. Os seus olhos, carregados e expressivos em doçura e ternura, eram a base da família.
Adormecida, ela me carregava do chão e levava para cama e, depois de um dia inteiro, escutava bem lá no fundo a voz do meu pai entrando no meu quarto. Ele se abaixava na altura da cama, me dava um beijo na testa, acendia o abajur e deixava a porta entreaberta, porque sabia que às vezes eu tinha pesadelos durante a madrugada.
Meu pai costumava chegar muito tarde em casa por causa do trabalho, e isso era motivo suficiente para uma chateação tremenda entre ele e a mamãe, que tentavam discutir em voz baixa para não acordar a mim e nem a Petter, e por anos essa guerra silenciosa funcionou, mas a gente cresceu, e as brigas entre mamãe e papai também.
Como uma boa irmã mais velha de dezessete anos, coube a mim buscar Petter – já com dez anos – na escola, uma vez que os nossos horários de saída e ruas são os mesmos. Ao longo do caminho, desviamos um pouco e, é claro, sempre cedo aos pedidos manhosos de Petter quando o assunto é tomar sorvete no Lakewood Park, o mesmo que eu adorava ser embalada quando criança e que agora é o favorito do caçula da família.
Na maioria das vezes eu adorava essas escapadas, porque fugimos um pouco de casa e também, mas não menos importante, é a parte do dia que Petter me mostra os desenhos que ele mesmo faz de tanto dinossauro com tanto nome esquisito que é tedioso tentar lembrar, mas eu sempre finjo prestar muita atenção. Em resumo, é um tempo só nosso, de irmão para irmão, só a gente sabe. Ainda que a nossa diferença de idade seja grande, tento ser a mais atenciosa possível. Devorados os sorvetes, sempre prestávamos atenção a qualquer gotinha na roupa que nos denunciasse.
Chegando em casa, Petter subia as escadas em disparada em direção ao quarto para fazer as tarefas e eu ajudava minha mãe nos afazeres de casa.
O dia todo passava sem estresse, que durava até a hora em que meu pai chegava muito tarde em casa. A cada noite ele se atrasava cada vez mais, e isso enfurecia minha mãe num extremo tão forte que, ao finalmente tê-lo em casa, a briga era de lei e não tinha prazo para terminar, enquanto à postura silenciosa que tinham quando eu e Petter éramos pequenos, se perdeu com o tempo. Eram gritos, xingamentos e dedos na cara por motivos que nunca entendi.
Certa madrugada, quando já estava dormindo, acordei com o barulho da gritaria e escutei o nome da tia Ana – irmã da mamãe – envolvido, seguido de um jarro com flores de lírios jogado contra a parede. Na hora não pensei em mais nada que não fosse correr até o quarto de Petter e abraçá-lo para que a confusão não o assustasse mais ainda, e assim fiz por muito tempo.
Com tanta violência exposta e um monte de merda sendo dita o tempo todo, chegou a um ponto em que até o casal vizinho teve que se envolver, eles se intrometeram e chamaram a mim e Petter para a casa deles até que tudo estivesse normalizado.
Nossos pais fizeram de tudo para que a polícia não fosse acionada e prometeram rendição, pareciam duas crianças e aquilo estava começando a me dar nos nervos.
Naquela mesma noite, quando estavam mais calmos e nós voltamos para casa na condição de que a briga parasse, olharam fixamente para os dois filhos assustados, os pais Lana e Thomaz Freeman sentados lado a lado no sofá, pela primeira vez em tempos eles estavam tão próximos e sem gritos e ofensas, ao invés de ternura, minha mãe tinha cansaço e lágrimas secas nos olhos, e meu pai tinha olheiras e pálpebras semicerradas, como dois loucos esgotados até a última gota, bem diferentes do casal sorridente e apaixonado que estampavam as fotos postas nos porta-retratos espalhados pela nossa sala. Até hoje consigo lembrar dele pegando na mão dela, cruzando ambos os dedos e dizendo:
— As coisas vão mudar. Vamos ser uma família feliz de novo. Eu prometo.
E eu acreditei. De verdade, juro que acreditei, até porque na manhã seguinte, meu pai já tinha providenciado reservas num hotel perto de Headland Beach State Park, uma praia pública localizada em Mentor e Painesville aqui em Ohio. Era para ser um relaxamento simples, nada ultrarromântico como ir para Paris, mas o suficiente para que os dois tivessem um momento a sós e reatassem a harmonia de um casamento saudável que impactaria no bom funcionamento da nossa família, era só o que eu queria: paz!
Eles amanheceram de malas arrumadas: mamãe, com seu vestido florido verde um pouco abaixo da coxa e sandálias brancas estava radiante, ou fingia estar, enquanto papai passava determinação em cada palavra dita, vestido com uma bermuda bege e camisa praiana, pareciam dois banhistas ansiosos pelo mar.
Eu e Petter nos despedimos deles na porta de casa com abraços fortes e palavras de esperança sobre aquele ser o primeiro passo para a mudança, seguido de um monte de “eu te amo”.
Papai tomou a direção, manobrou o carro, acenou pela janela aberta e sumiu rua a fora com algumas buzinas seguidas. Nós acenamos de volta, sorrimos um para o outro e entramos.
Foi depositada em mim a confiança de cuidar do Petter pelo que seria só um final de semana fora de casa, mas ao fim do dia, antes mesmo da lua se mostrar gigante no céu, a campainha de casa foi acionada.