Não Quero Nada Além de Você
Autor:Mon
GêneroRomance
Não Quero Nada Além de Você
Alice ficara no antigo quarto de Rachel por muito tempo. Apesar de já ter pedido às empregadas que jogassem todos os pertences de Alice no lixo, o cômodo ainda precisava de uma boa faxina antes de poder ser ocupado. Sendo assim, Rachel decidiu tirar uma soneca no quarto de hóspedes.
Quando acordou, já eram três da tarde.
Ela abriu os olhos bem devagar, e os murmúrios em sua mente foram pouco a pouco se dissipando.
Rachel sentou-se e colocou a mão na testa. Gotas de suor molharam seus dedos.
Pelo jeito, havia sonhado.
Na verdade, não fora só um sonho. Durante o sono, uma voz continuamente chamava por ela.
Era um brado rouco e melancólico, que enunciava seu nome. Ondas de emoções conflitantes lhe açoitavam o coração partido, inundando seu peito quase a ponto de afogá-la.
Rachel sabia bem que tais sentimentos pertenciam à proprietária original deste corpo. Porém, ficou com a pulga atrás da orelha. Por que será que esse sentimentos eram tão fortes?
As sensações eram desconfortavelmente avassaladoras.
Será que a alma da antiga dona desta compleição física ainda a habitava?
Assim que o pensamento lhe ocorreu, Rachel instintivamente observou as palmas de suas mãos e depois a si mesma. Não havia nada de estranho ocorrendo com sua constituição física, era óbvio. Nada além da tristeza que permanecia à espreita em seu coração.
"Senhorita Bennet." A voz de Andy irrompeu do outro lado da porta, despertando Rachel de suas reflexões.
Ela levantou-se e foi de pronto atender, optando por deixar suas inibições de lado por hora.
Quando viu a pilha de documentos que Andy portava, Rachel ergueu as sobrancelhas. "Vamos conversar no meu escritório."
Ele assentiu com a cabeça e a seguiu até lá. Assim que Rachel se sentou, Andy dispôs a papelada sobre a escrivanhinha diante dela. Dentre o amontoado de papel, encontrava-se a certidão de propriedade.
"Aqui está o contrato de cessão de quotas. E aqui o formulário de transferência de propriedade e a certidão da casa", Andy declarou.
Raquel sorriu. "É só isso?"
"Na verdade, não. Ainda tem alguns registros de faturamento e outros relatórios anuais referentes ao Grupo Bennet", Andy acrescentou. "A partir de agora, você é dona do Grupo Bennet."
Rachel folheou os documentos casualmente, e então voltou sua atenção para Andy. Ao notar o constrangimento em seu rosto, ela fechou o arquivo e indagou: "Há algo mais que você queira me dizer?"
"É que..."
"Blam!"
De supetão, dois bombadões arrombaram a porta com um chute. Uma criada veio atrás deles, com pânico nos olhos. "Senhorita Bennet, eu tentei impedi-los, mas eles invadiram sem minha permissão. Não consegui detê-los."
"Quem são vocês?" Andy encarou os intrusos.
"Senhorita Bennet, por favor nos acompanhe", um deles proferiu. Tão logo ele terminou de falar, eles avançaram em direção a Rachel a fim de capturá-la.
Por sorte, ela conseguiu evadi-los. A julgar pela aparência deles, os invasores era ágeis e fortes. Rachel não seria páreo para eles, pois não sabia lutar bem e óbviamente não seria capaz de dissuadi-los.
Andy pôs-se de imediato diante dela, como um escudo. "O que é que vocês estão tramando?", ele inquiriu.
"Não se intrometa", o intruso o advertiu.
"Isso é invasão domiciliar. É um crime! Se vocês não...", Antes que Andy pudesse concluir, sentiu um cano frio e metálico sendo pressionado contra sua testa.
Era uma arma de fogo.
Seu coração disparou. Ele ficou branco como um fantasma e gotas de suor começaram a brotar de sua testa.
A luz do sol emergia sobre as cortinas, refletindo um brilho metálico sobre a pistola.
Os olhos de Rachel se arregalaram. "Não o machuque! Eu me entrego!"
Andy fitou os perpetradores trajados de preto e pronunciou: "Senhorita Bennet..."
Ela compreendia sua preocupação, então desferiu-lhe um aceno reconfortante de cabeça. "Não se preocupe comigo. Vai ficar tudo bem. Eles não vão me machucar."
Após dizer isso, os olhos de Rachel caíram sobre broches no peito dos invasores.
Eram gemas em forma de lágrima feitas de obsidiana. O símbolo da agência de segurança do Grupo Sullivan.
Victor era o único homem capaz de estar por trás daquilo.
O cano continuava contra o crânio de Andy. Todavia, diante da compostura de Rachel, ele decidiu deixar seus temores de lado e depositar confiança incondicional nela. Poucos segundos depois, os invasores partiram com Rachel.
Havia um Rolls-Royce negro estacionado do lado de fora do portão. Rachel sentou-se no banco de trás sem hesitar.
Os homens de preto tomaram o banco do motorista e o do passageiro, respectivamente.
Lentamente, o veículo se foi. Rachel silenciosamente pôs-se a observar a paisagem em movimento pela janela.
De repente, um telefone começou a tocar.
O homem no banco do passageiro atendeu, com a voz estoica mas respeitosa.
"Senhor Ivan. Já capturamos a senhorita Rachel."
"Ótimo. Bom trabalho."
'Senhor. Ivan?'
Ela mal podia acreditar.
De fato, suas suspeitas se confirmaram. Era Victor que estava por trás daquela presepada.
'Mas o que é que ele quer comigo? Ele não me odeia? Será que já não bastou a humilhação daquele dia?
Por isso que ele me raptou? Para me espancar novamente?'
Rachel batucava com a ponta dos dedos na coxa, matutando um plano de como se defender das agressões de Victor mais tarde.
Então, vasculhou em sua mente todo o passado de Victor e da Rachel de verdade nos dois anos de matrimônio deles em busca de uma solução para aquele dilema.
Porém, antes que Rachel chegasse a alguma conclusão, eles chegaram ao destino.
Um dos homens de preto desceu do carro, abriu a porta traseira e lhe disse: "Chegamos."
Ela saiu do veículo e olhou para cima.
Em seus olhos, uma breve pontada de horror se manifestou, entretanto ela logo deu conta de retomar a compostura antes que alguém pudesse notar.
Não estavam na mansão de Victor.
Era um edifício independente de três andares com um estilo clássico de arquitetura nórdica.
Logo, Rachel se recordou do local.
Era Gardenia, o salão de beleza mais badalado da alta sociedade.
Pelo que se lembrava, não era a primeira vez que ela o visitava.
Um dos motivos pelo qual as socialites amavam este lugar, era porque os melhores estilistas trabalhavam lá. Além do mais, recebiam só um cliente por dia.
A primeira visita de Rachel fora há dois anos, no dia de seu casamento.
Se bem que talvez nem contasse como um casamento de verdade. Foi só uma refeiçãozinha básica de fachada para a avó de Victor, com as famílias presentes.
Momentos depois, alguém deixou o prédio.
"Olá, senhorita Bennet. Eu serei sua estilista para hoje. Meu nome é Eva Myers." A mulher trajava um vestido branco. Seu cabelo estava preso e ela estava sorrindo para Rachel.
Rachel estava se perguntando que tipo de problema Victor estava tentando lhe causar.
Ela fitou Eva, mas permaneceu calada.
Felizmente, Eva não se importou com sua frieza. "Acompanhe-me, por favor."
Ela gesticulou para que Rachel entrasse. Seria difícil saber o que estava se passando na cabeça de Rachel só por sua expressão.
Nem um minuto depois, ela caminhou em direção ao prédio. Eva então a ultrapassou e pôs-se a guiá-la.