Thomas é uma estrela em ascensão com sérios problemas de confiança, que não mede esforços para manter a discrição e a ordem na vida pessoal. Morgan superou um passado complicado e é muito feliz em ser mais uma entre muitos, desde de que possa continuar fazendo o que ama: Compor e ensinar. Ambos são de países diferentes e realidades completamente distintas, ainda assim, ao se encontrarem, algo se encaixa. Mas quando seus mundos colidirem, a paixão será o suficiente para lidar com os destroços? Avisos: Esse livro fala sobre perdas, alcoolismo e questões de confiança. Há uso de linguagem imprópria e consumo de álcool.
"I think of what the world could be, a vision of the one I see.
A million dreams is all it's gonna take.
A million dreams for the world we're gonna make."
O tempo estava tão nublado quanto se poderia esperar para mais um dia em Londres e, quando sentiu as primeiras gotas de chuva, Tom agradeceu por já estar tão perto de casa.
Apertando o passo, ele chegou a tempo de encontrar Peter e Simon jogados no sofá, enquanto Henry mexia nos cabos da televisão.
- Ei, Tommy! - O irmão mais novo foi o primeiro a perceber sua presença, dando um leve aceno de onde estava. - Chegou bem na hora. O Simon queria começar sem você.
- Calado, pirralho! - Depois de lançar uma almofada no menor, Simon ainda estava sorrindo quando encarou Thomas. - Os vídeos para o evento do seu último filme chegaram. Agora, só falta assistir tudo isso pra escolher quem patrocinar. - Ele apontou as várias fichas espalhadas pela mesa de centro, todas com a marca The Brothers Grant na capa.
Há alguns anos, os irmãos Reid fundaram o Brothers Grant para ajudar instituições de caridade a serem devidamente ouvidas. Então, naquela altura, selecionar vídeos antes de alguns eventos que promoviam já era uma rotina para os quatro rapazes.
- Parecem mais do que no último. - O mais velho concluiu, coçando a cabeça ao observar tudo de longe.
- Provavelmente, porque tem mais mesmo. - Henry apontou, mostrando outra pilha de fichas que ainda estavam dentro de uma caixa. - Acho que, pelo menos, o dobro.
- Preciso de um banho antes de encarar isso. - O moreno não esperou nenhuma resposta dos mais novos.
Tirando a camisa de corrida, ele já se encaminhava ao chuveiro, arrependido por encurtar suas horas de sono para se exercitar pela manhã.
Em cerca de vinte minutos, quando Tom voltou com os cabelos molhados e uma bermuda de moletom, seus irmãos já estavam com tudo pronto e, rapidamente, eles começaram a trabalhar.
Foi um longo tempo assistindo vídeos e separando fichas em pilhas de "sim", "talvez" e "não, obrigado".
Dentro de algumas horas e três pizzas, havia um grande monte para as instituições que não se enquadraram na ideia de patrocínio do Brothers Grant. Logo ao lado, mais algumas fichas empilhadas que chamavam a atenção, mesmo que a instituição visivelmente não possuísse estrutura para apresentar resultados reais com os fundos que poderiam ser fornecidos. Mas, finalmente, os irmão conseguiram selecionar algumas que se encaixavam no que procuravam.
Dessas, apenas duas fichas realmente chamaram atenção e os rapazes já se acomodavam para ver o último dos vídeos, que era enviado junto a cada formulário.
- Eu sinto que é esse! - Peter comentou, jogando-se no sofá depois de trocar o arquivo dos vídeos na televisão.
- Sério? - Tom questionou, buscando mais um pedaço de pizza. - A última organização fábrica e envia próteses ortopédicas pediátricas pelo mundo todo.
- Admirável, mas você viu a ficha. Eles já tem grandes nomes investindo. - Simon lembrou. - Nós ajudaríamos, claro, mas o Brothers Grant se propõe a mais que isso. Se queremos dar voz a essas organizações de caridade, devemos escolher bem.
- Isso! - Henry foi rápido em concordar. - Essa trabalha com jovens residentes em alguns dos bairros mais difíceis de Nova Iorque. Ensinam artes, música, dança e esportes. Isso tudo, apenas com investimentos da própria comunidade. Então, vai saber o que fariam com nossa ajuda.
- Pelos números, eles sabem o que estão fazendo. - Simon concluiu, dando outra olhada na ficha sob a mesa. - O prédio não é muito grande, mas tem uma boa estrutura e o trabalho deles dá resultado, muitos alunos conseguiram até bolsas de estudos em algumas universidades.
- Nossa, essa aqui faz parte da Ivy League! - Peter exclamou, lendo sobre o ombro do irmão.
- E eles querem expandir! Enviaram até alguns esboços e projetos em que pretendem investir se receberem o patrocínio. - Simon voltou a falar.
- Não sei, parece tudo muito elaborado para uma organização tão pequena. - Thomas encarou os irmãos mais novos, o cenho franzido em questionamento. - Quer dizer, quem fez essas plantas e toda essa documentação se eles se sustentam apenas com um investimento limitado?
- Bem, todo o corpo discente é de ex-alunos voluntários, talvez os serviços de assessoria também sejam. - Henry arriscou com um sorriso de incentivo, jogando o controle pro irmão. - Além disso, todas essas fichas são de organizações que passaram pelo nosso jurídico. Tem que relaxar um pouco, Tommy, não precisa desconfiar de tudo.
- Certo, você deve ter razão. - O mais velho concordou, recebendo um olhar convencido, antes de apertar o play. - Vamos ver o que prepararam pra gente.
O toque suave do piano foi a primeira coisa que ouviram, seguido da harmonia de várias vozes jovens sobre o som de violinos. Rapidamente, Tom reconheceu a melodia de A Million Dreams e não conseguiu tirar os olhos da tela.
Imagens de algumas aulas passavam entre flashes do grupo cantando, num formato que lembrava vários cortes de vídeos caseiros bem feitos.
Então, em alguns momentos da música, seguia-se apenas um instrumental leve, onde diversos depoimentos de funcionários, professores, alunos e ex-alunos se misturavam às demais cenas.
Assistindo aquelas imagens, Tom começou a refletir sobre o que a arte fez com a sua vida e todas as portas que abriu na sua carreira. Afinal, se ele tinha uma, isso era devido à chance que teve de estudar teatro. Então se pegou pensando: Quantas crianças nem imaginavam essa possibilidade em suas vidas?
Assim, antes mesmo de terminado o vídeo ele já estava decidido, mas foi o último depoimento que o deixou, definitivamente, arrepiado e certo de sua escolha.
- Eu sou o resultado dos esforços da Fundação Corpo e Alma. - No canto inferior da tela, a legenda indicava que Morgan Avery era professora e ex-aluna da casa. - Esse lugar me salvou de tantas formas, que nunca poderia retribuir completamente.
"Quando Hanna Miller me procurou, minha família era... Apenas complicada. Então, ela disse que eu poderia ter um futuro diferente daquele que a minha mãe teve. Eu tinha oito anos e pensei que ela era muito uma louca". - Aparentando estar no início da casa dos vinte, a jovem sorriu pra câmera, afastando do rosto alguns fios do cabelo ruivo e comprido.
"Lembro de dizer algo como: Moça, é melhor sair daqui antes que um dos meus irmãos volte. Porque eles não são tão gentis com estranhos em casa quando estou sozinha." - Seu rosto adquiriu um tom rosado no vídeo e ela soltou uma risada anasalada. - "Acontece que ela me ouviu cantando no coral da igreja e se recusou a sair antes de falar com meus irmãos. Naquele ano, a senhorita M. tinha acabado de abrir um Studio de artes performáticas num bairro próximo e tentou convencê-los a me matricular em seu preparatório de musica".
"Nesse momento, a FCA ainda não existia e todas as aulas do Studio eram pagas, assim como o material e as roupas que eram usadas." - Cenas de alunos voltaram a passar no vídeo, ainda com a voz de Morgan ao fundo. - "Mas, na época, éramos só eu e meus irmãos, nos virando para cuidar um dos outros, e aquele era um luxo que não podíamos arcar".
"Mas Hanna Miller acreditou e apostou em mim. Antes mesmo de criar essa fundação, eu fui a primeira de muitos dos quais ela não desistiu. " - A imagem da vez focava em uma senhora que ensinava uma pequena ruiva a tocar piano. Essa filmagem era visivelmente mais antiga que as outras, mas a menina não devia ter mais que oito anos.
"Ela enxergou talento bruto, onde outros viam apenas pequenos desastres ambulantes, e simplesmente acreditou que seríamos brilhantes se tivéssemos o incentivo correto. Então, Hanna fez a Corpo e Alma, como um espelho do seu caráter e transformou os alunos em seu maior legado".
"Quase quinze anos depois, tenho muito orgulho de poder contribuir com essa causa e sei que The Brothers Grant também terá" - Então, a cena mudou outra vez, focando novamente em Morgan, agora ao piano.
A câmera abriu o plano de filmagem, mostrando os alunos do coral que continuaram cantando até finalizar a música em uma perfeita harmonia.
Quando a tela voltou a escurecer, a sala ficou muito quieta e os quatro irmãos só se encararam. Durante aqueles minutos, Tom apenas absorveu as sensações e ideias que passavam por sua mente.
- É esse! - Ele rompeu o silêncio, recebendo um aceno de concordância dos demais.