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Capítulo

Malu era só uma garota. Uma garota que há alguns meses teve seu coração partido e isola-se no seu próprio mundo apenas por comodidade, e também por causa de uma coisa que ela não admite: Passou a ter medo das pessoas. Medo do que elas são capazes de fazer, do quanto podem magoar. Mas tudo muda quando sua irmã surge com o novo namorado em casa, um namorado que pelo que ela dizia, seria diferente, daria certo. Ao se deparar com seu novo cunhadinho, Malu vê suas dores serem desenterradas, e acaba resgatando mais do que dores, mas também momentos e sentimentos há muito tempo adormecidos. E Igor, seu cunhado, vê agora uma oportunidade de fazer dar certo, só que de forma errada. Será que os dois serão capazes de criar um laço de, apenas, amizade?

Capítulo 1 01

Malu narrando

Tentei me concentrar na leitura a minha frente, um livro obrigatório da escola, mas que eu não podia deixar de gostar. O livro era Capitães da Areia do Jorge Amado e ao todo eu já o tinha lido umas 5 vezes, alternando entre os livros novos que eu comprava e meus favoritos. Eu amava ler e desde que me conhecia por gente me vi rodeada por livros. Isso se devia ao fato de minha mãe, Dona Betty, já ter sido Bibliotecária quando jovem, então ela sempre trazia um livro ou outro para casa. Quando se casou, e Ceci nasceu, ela largou o emprego e dedicou-se a ser dona de casa. Mas a essa altura, a casa já estava recheada de livros; distribuídos por estantes, prateleiras na parede e em caixas de papelão, seu único bem verdadeiramente valioso. E eu amava os livros e como a minha mãe, os respeitava e os respirava. Não era boa escrevendo, mas admirava aquele mundo cheio de palavras que se tornava simples, mesmo para uma garota tão difícil e complicada como eu. E eu definitivamente amava o livro que eu estava lendo, não somente pela fala natural e ritmada do autor, mas pelos personagens e admirada com uma retratação tão fiel do ódio.

Estava na parte em que Dora chegava para se juntar aos meninos do trapiche, parte que eu tanto adorava, mas Karol não colaborava. Ela fazia barulhos balançando sua boneca, cantando cantigas que começavam a me tirar do sério. Não eram nem cantigas infantis, eram musiquinhas atuais, irritantes, que grudava feito cola na nossa cabeça. Karol era minha irmã mais nova, de cinco anos. Era bem pequena para a idade e sua voz era extremamente fina e irritante. Os cabelos curtos, escorridos, de um castanho bem claro beirando um loiro meio caramelo lhe davam um ar a­ngelical, mas ela adorava perturbar os outros. Basicamente ela era tudo em excesso, agitada demais, esperta demais, irritante demais!

– Karol! – gritei, perdendo a paciência.

– Sim?

– Porque não vai assistir um DVD?

– Porque eu não quero. – fiz uma careta pela sua resposta, mas me calei, voltando à leitura. Infelizmente ela mudou o foco de sua atenção para mim. Agora estava praticamente em cima de mim por trás do sofá, tentando ler, embora ela não saiba ler, o livro.

– Por favor, me deixe quieta. – gemi, odiava ler com alguém em cima de mim.

– São férias, posso fazer o que eu quiser. – ela disse, despreocupadamente. Sim, eram férias. E infelizmente eu não iria viajar, iria ter que aguentá-la.

– Não, você não pode!

– Posso sim.

Claro que quando decidi morar com a minha mãe em definitivo, eu sabia que teria que aguentar a filha de seu novo marido, minha meia irmã, mas a garota tinha que ser tão irritante? Eu morava com meu pai até um ano atrás, então depois dele se casar novamente eu decidi vir morar com a minha mãe. Sim, o motivo era aquele velho clichê: A minha madrasta é horrenda. Eu simplesmente não a suportava com suas manias irritantes. Eu até que gostava de ficar aqui, embora eu não tivesse tanta paz quanto antes.

– Por favor, Karol.

– Karol deixe sua irmã em paz! – Minha mãe gritou da cozinha.

Karol me mostrou a língua enquanto se afastava. Eu, bem madura, imitei. Ela foi andando para trás de costas e esbarrou em Maria Cecília, mais conhecida como Ceci. Minha mãe tinha alguma coisa com Marias, não sei se ela gostava do nome, ou de coisas repetitivas e sem graça. Todas as filhas eram Marias. Uma Maria Cecília, a mais velha. A outra Maria de Lourdes, eu, embora ninguém saiba meu nome, todos me conhecem por Malu. E a pior das Marias, a Maria Karolina. Fala sério! Todas as filhas possuindo um Maria no meio, isso sim que é originalidade e criatividade. Para o azar da minha mãe, que amava os nomes, nenhuma das filhas deixava que a chamassem de Maria. Éramos conhecidas pelos apelidos: Ceci, Malu e Karol. Eu odiava meu nome principalmente porque eu já havia conhecido uma Maria de Lourdes, uma velha que morava na rua atrás da nossa e vivia rodeada de crianças, que a chamavam de Senhora e Vovó. Me irritava o nome, o barulho. Gostava do meu apelido, era leve e rolava feito chiclete pela boca das outras pessoas. Doce e suave. Sentia que lhes fazia um favor diminuindo o meu ridículo e cansativo nome.

– Cuidado, Karol.

– Ops. – Karol se afastou, colocando as mãos nas bochechas rosadas. Ceci revirou os olhos, olhando para nós e nos analisando. Procurei me esconder pelas páginas do livro, já prevendo alguma reclamação da parte dela. Sobre qualquer coisinha. Desde roupas ao jeito de me deitar no sofá.

– Ninguém se arrumou? – Finalmente a pergunta. Procurei ignorá-la, tentando ler a mesma frase pela quarta vez.

– Como assim ninguém se arrumou? Vocês só podem estar brincando!

– Arrumou para que? – perguntei tediosamente, ainda tentando me concentrar no livro.

– Eu vou trazer meu namorado aqui hoje.

– Que namorado? – Mais um? Era isso que eu queria e devia ter perguntado.

– Aquele que ela fica falando há umas duas semanas. – Minha mãe disse, brincando. Aparecendo da cozinha. Minha mãe era bonita, alta e esbelta, infelizmente eu não tinha puxado sua altura. Ninguém lhe dava os 45 anos que possuía só de olhá-la. Já estava no seu segundo casamento e nem mesmo o tempo diminuíra sua aparência e seus atrativos, tornando-a mais madura e atraente. Mas ao conhecê-la as coisas mudavam. Ao conhecê-la viam o quão mãe ela era. Era bonita, sim... Não havia dúvidas, mas seu modo arrastado de falar, os gritos que dirigia a nós como broncas e a amargura que as brigas no divórcio e no novo casamento lhe acarretaram, a tornaram meio apagada.

– Huum, aquele tal de Adalberto?– Entrei no jogo e ouvi minha mãe começar a rir, naquele seu riso alto e fácil. Na verdade, eu havia esquecido completamente o nome do namorado da vez.

– Mãe! – Ceci gritou, nervosinha. Minha irmã se estressava fácil de mais. Não parecia ter 18 anos, mas sim 81.

– O nome dele é Igor! Igor!

– Igor? Porque Igor? Porque diabos o namorado dela tinha que se chamar Igor? -Afastei algumas lembranças inúteis da minha mente e me afundei mais no sofá.

– Porque os pais dele quiseram que o nome dele fosse Igor! Que pergunta mais imbecil, Malu. – ela disse.

– Blá, blá, que pergunta mais imbecil, Malu. – resmunguei, imitando-a.

– Não comecem a brigar. – Minha mãe avisou e Ceci bufou cruzando os braços.– Espero que esse garoto vala a pena, sério. E que você sossegue de uma vez.

– Pode deixar, mamãe. – ela disse, sorridente. Bufei, odiava quando ela trazia os novos namorados aqui casa. Era uma encheção de saco. Ter que sorrir, ser bem educadinha, aguentar as piadas sem graça, fingir ser simpática e claro, sentir compaixão ao ver o olhar apaixonado do guri para ela, sabendo que em breve ele seria chutado por alguém mais alto, ou mais loiro, ou com um carro esportivo melhor.

– Malu?

– Eu.

– Não vai se arrumar?

– Ainda são 5 horas.

– E você demora duas só no banho. – encarei Ceci, totalmente irritada. Ela juntou as mãos, num gesto de ‘por favor’. Fechei o livro e o coloquei na mesinha de centro. Derrotada. – Vai ou não vai?

– Ok. Estou indo, estou indo. – levantei irritada e minha mãe voltou para cozinha. Caminhei para a escada. – Não se tem paz nessa casa!

– Malu?

– O que é dessa vez?

– Seja boazinha. Eu gosto mesmo dele. – ri irônica.

– E quando é que eu não sou boazinha?

Eu adoraria dizer que estava arrumada com a minha melhor roupa, ansiosa e em expectativa em conhecer o novo amorzinho da minha irmã, pronta para dar todo o apoio num momento difícil como esse que é apresentar o namorado para a família. Mas seria uma tremenda mentira. Nenhum garoto valia tanto esforço. Principalmente quando eu sabia que o meu relacionamento de ‘queridos cunhados’ com o namorado da Ceci duraria no máximo uns dois meses, e olha que estou pensando positivo. Ou seja, namorados sendo apresentados a minha mãe; por parte de Ceci, era a coisa mais comum do mundo. Então... Eu mal me arrumei e não estava nem um pouco ansiosa, na verdade eu estava desanimada. Para irritar ainda mais Ceci estava simplesmente com um short jeans e uma bata comprida e confortável. Nos pés, um chinelo de dedo. Bem largada mesmo. E ai de Ceci se reclamasse.

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