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Propriedade de Traficante - Livro 1

Propriedade de Traficante - Livro 1

J.C. Rodrigues Alves

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Capítulo

Cansada da monotonia que sua vida estava, Vivian continuava almejando um homem por quem se apaixonar e um casamento duradouro. Essa necessidade aumentava enquanto todas suas amigas se casavam e praticamente ficava para "titia". Foi numa noite, entretanto, após mais um casamento, em um bar, é abordada por um homem que parecia ser tudo que ela mais queria com poucas palavras, sem ter ideia das reais intenções dele.

Capítulo 1 1

Já pensou em ficar responsável pela felicidade de outra pessoa, no dia mais importante de sua vida?

Eu estou nessa posição há algum tempo, quer dizer, por escolha minha.

Desde pequena sempre fui apaixonada por casamentos. Gostava das flores, as vezes branca, lilás ou amarelo, com formatos e aromas que penetrava á alma e em como tudo ao redor entrava numa sintonia impressionante.

Me lembro muito bem da primeira vez que fui a um casamento, era ainda criança, estava muito bem vestida para a ocasião com um vestido rosa-claro rodado e não estava entendendo muito bem o quê todas aquelas pessoas estavam fazendo ali reunidas, sentadas em bancos de madeiras, também vestidas adequadamente como eu, murmurando entre si, enquanto esperavam alguma coisa.

Logo a frente havia um homem, vestido como meu pai, junto como outras pessoas, pelo seu rosto, estava mais ansioso do que muitos ali. A demora se estendeu por mais algum tempo, até que todos se levantaram de repente e olharam para a porta, onde lá, havia uma mulher de vestido branco e véu, acredito que o vestido mais lindo do mundo que havia visto até aquele momento, rico em detalhes.

Ela entrou devagar, sorrindo timidamente para as pessoas ali, reparei bem na maquiagem suave em seu rosto e o modo como cumprimentou meu pai, olhando para mim com o mesmo sorriso antes de se afastar.

- O quê ela vai fazer, pai? - perguntei quando o senhor ao seu lado, entrega a mão dela para o homem a frente.

- Ela vai se casar.

Aquela foi a primeira vez que escutei a palavra casamento, até então, não sabia o quê significava se casar ou na importância que tinha para algumas pessoas. A cerimônia seguiu lindamente, com direito a um coro num canto e pétalas de rosas no final junto com arroz.

E mesmo sem saber o real significado do casamento na minha vida, quis estar num vestido daquele, como o dela e ver todos ao meu redor felizes por eu estar feliz.

- Pai - disse no final da cerimônia, quando os convidados começavam a ir embora da igreja - Quero casar.

A primeira reação que meu pai tem, é rir e depois passado alguns instantes, ele coloca a mão no meu ombro e me puxa para perto, o que me deixa incomodada.

- Casamento só é uma fantasia criada pelos tolos, Vivian. E não imagino você se casando - Ele segura no meu queixo - Você é a minha menininha.

Franzo o cenho, determinada em usar um vestido branco como aquele.

- Mas eu quero me casar! - disse insistente. Não sei o quê tirou a reação dele. Se foi meu comportamento, que nunca tive com ele ou meu tom de voz, mas uma das duas coisas fez com que me analisasse por alguns segundos, antes de me conduzir pelo carro, ainda com a mão em meu ombro.

- Um dia - murmurou por fim - Se achar alguém que ame você assim como eu.

Aquelas palavras foram mais do que decisivas dali em diante. Era preciso encontrar alguém que me amasse como meu pai me amava, mas isso meio que deu um bug na minha cabeça pois não consegui seguia entender como era que meu pai me amava. E a medida que os anos se passaram, comecei a perceber certos detalhes, até chegar ao ponto de que me casar era a última coisa no mundo que eu queria. Ter um homem me tocando ou... era demais para e duvidei de mim mesma, se não estava com algum defeito, se minha opção sexual era outra e acabei entrando em mais uma confusão mental, até chegar ao ponto que me negava a qualquer tipo de relacionamento que ultrapassasse o convívio social entre as pessoas.

Minha paixão por casamentos, no entanto, continuou e foi o necessário para me fazer tomar uma decisão: me profissionalizar como cerimonialista. Eu queria ser responsável por levar a felicidade para casais e sentir tudo que senti pela primeira vez ao estar em um casamento.

Todo o casamento que eu preparava, era como se fosse para mim, eu pensava em cada detalhe, até nos inusitados, o que surpreendia as noivas que estavam tão ansiosas e eufóricas que deixavam tais detalhes passar.

E no final, quando tudo estava pronto e a magia acontecendo, sentia um vazio em meu peito. E tentava não pensar em quando chegaria minha vez, tentava não dar importância á isso, já que não tinha ideia no que o amor era baseado. Eu tinha apenas suposições, baseadas no que eu via nos casais que me procuravam para se casar, apenas isso e sempre pareciam muito apaixonados e entusiasmados por este grande dia.

Meus pais nunca foram uma referência muito boa, sabe? Começando pelo fato de que as memórias que tinha deles juntos, era apenas de brigas, muito álcool e violência física. E estranho ainda mais, que depois disso, simplesmente eles dormiam juntos, transação, como se nada tivesse a acontecido, o que simplesmente fazia com que um ponto de interrogação surgisse em minha mente e eu não conseguisse entender no que relação deles era baseada. Na verdade, até hoje não sei no que era ou é. Não dei no que a relação dos dois de baseava, me nego a acreditar que foi por causa dos filhos, já que nunca deixaram isso claro.

A única coisa que tinha certeza com o passar dos anos em relação ao casamento dos meus pais, era que cada vez mais entrava em atrito, era como se estivesse sempre em uma constante turbulência, tudo era motivo de briga, desde nossas notas na escola até o sumiço repentino do meu irmão.

Para mim não era considerado algo preocupante, já que ele estava sempre buscando se aventurar por aí. Não conseguia ficar parado dentro da empresa da família, apenas recebendo ordens e seguindo protocolos. Então, uma vez ou outra, simplesmente fingia que não existia e eu confesso que queria também essa dádiva.

Mas acabou se tornando preocupante, depois que os dias se tornaram semanas, depois meses e por fim completou um ano. Tudo indicava que ele não queria ser achado, que preferia ficar bem longe da loucura que era o convívio com os nossos pais.

Minha vida por outro lado, continuou, mas agora com a ausência do meu irmão caçula, as atenções se voltaram para mim. De um lado, minha mãe querendo saber sobre meus relacionamentos e quando finalmente lhe daria netos.

- A vida não é só trabalhar, Vi - disse uma vez, entediada, sentada na cadeira em frente ainda mesa, enquanto eu chegava a lista de mais um casamento - Você precisa casar. Engravidar. Ter filhos! - Com os olhos fixos no papel, franzo o cenho ao ouvir a sequência de fatos quase que "obrigatório" pela minha mãe. Não era novidade alguma para mim, que havia me concentrado na minha profissão, a tornando mais importante do que qualquer outra coisa, já que cada dia que se passava a frase da Lady Gaga fazia mais sentido. "Um homem pode te abandonar, mas sua carreira não". Basicamente era nisso que estava me baseando desde então - Quantos anos você tem? 30?!

- 28, mãe - murmuro - E o Anton 26.

- Anton - Ela repete com certa amargura na voz e um pouco de preocupação. Não conhecia minha mãe bem o suficiente, mas conseguia perceber quando algo a preocupava. Geralmente, ela encarava o vazio e roía as unhas - Para ele simplesmente morremos. Ele não se importa em mandar uma mensagem, ligar, nada! Não sei como alguém, um filho, pode ser tão ingrato - Ela faz uma breve pausa, a irritação aflorada, sempre era daquela mesma forma, quando o nome dele surgia se repente, lembrando que ele é a ovelha negra Sá família que estava desaparecida e que ninguém parecia fazer questão de ir procurar.

- Deviam contratar um detetive - digo por fim, querendo de alguma forma que ela entendesse a gravidade da situação e que a ausência dele já não era e nem podia, ser considerada normal - Temos dinheiro suficiente pra isso - Lembrar a questão financeira dos Costello me pareceu essencial, já que parecia que as vezes ela tinha aménesia e esquecia deste pequeno detalhe.

- Seu pai acha que ele não queria ser encontrado.

- Não tem como ele saber disso.

- Anton já deixou isso claro muitas vezes.

- Então vamos continuar sem saber onde ele está - Dou a conversa por encerrada, voltando toda minha atenção ao meu trabalho.

E do outro lado, havia meu pai, querendo que eu me concentrasse no que era importante. O nome Costello e os milhões que o compunha.

- Devia se interessar pelo o que realmente dá dinheiro - disse em uma de suas ligações, aonde mais uma vez cobrava um posicionamento da minha parte, pela minha total falta de interesse pelo patrimônio da família e que no qual, achava que eu herdaria.

- Gosto do que eu faço - Lembro. Sem conseguir igVivianr a minha real vocação.

Ele faz uma breve pausa.

- Pela minha vontade não estaria perdendo tempo com casamento alheio.

A verdade é que nunca me interessei pelo patrimônio da família, sempre me pareceu...sério demais, com todas aquelas reuniões importantes, com pessoas que soavam importantes e com grande poder aquisitivo. Meu pai lidava com pessoas deste tipo todos os dias, arrogantes, prepotentes e se saía até bem, já que era como eles. Só conseguia ver o que lhe interessava e o quanto lhe renderia.

Devia ser vergonhoso para ele, quando era obrigado a deixar a perfeição que era sua vida profissional e ter que encarar a imperfeição que era a vida familiar e seu casamento. Em cada conversa que tinha tanto com a minha mãe cobrando netos e meu pai uma iniciativa, percebia que ficava cada vez mais sem alternativas, era como se meu tempo de tomar uma decisão estivesse acabando.

Se fosse seguir os conselhos da minha mãe, teria que encontrar um marido antes dos 30 anos ter filhos antes dos 35 e ter a família dos sonhos antes dos 40. Pensamentos como este, só fazia com que me arrependesse de não ter distribuído meu tempo igualmente nas áreas necessárias da minha vida, talvez se tivesse dado o devido valor aos relacionamentos que tive ao longo dos anos, não estaria naquela situação.

John era legal, durou cerca de quatro anos, até ele alegar que nossas rotinas não era compatíveis. Derek, um ano e meio, acredito que era mais algo casual, como um sexo que só faz quando se tem muita vontade. Associo ele á isso por que todas as vezes que nos víamos só transavámos.

Outros homens entraram em minha vida, ficantes, sempre com data de validade.

Se eu tivesse feito dar certo com John, minha realidade poderia ser outra. Nessa altura, já poderia ser mãe e estar esperando o segundo filho.

E dessa vez, quando o arrependimento me atingiu em cheio, me vi tomando uma decisão precipitada: indo correr atrás do passado.

Já fazia quase cinco anos que havíamos terminado e eu tinha a esperança, que assim como eu, ele estivesse solteiro e arrependido.

- Alô - diz uma voz feminina, ao atender o telefone. Minha única reação que tive, foi paralisar, sem saber o quê fazer. Não sabia se perguntava por ele, se simplesmente desligava ou se buscava saber se havia ligado no número certo - Alô? - Insiste um pouco mais alto.

- John? - Gaguejo, sabendo nitidamente que não era ele ali e sim uma mulher.

- Quem é? - Que pelo jeito que tudo indicava, devia ter algum vínculo com ele.

- Quem é? - Ouço a voz dele ao lado, baixa.

- É uma mulher, não disse o nome - O aparelho passa de mão e com um suspiro, ouço a voz dele.

- Alô.

- John?

Pausa.

- Por que está me ligando?

Engulo em seco, surpresa com a aspereza na voz dele.

- Queria saber como você está.

- Cinco anos depois? Nos faça um favor, não ligue novamente. Não temos nada para conversar, muito menos o que lembrar, o que tivemos só me fez ver o tipo de pessoa egoísta e materialista que você é - Fico estáticas, incapaz de me mexer - E passar bem.

E depois disso ele desliga.

Egoísta? Materialista? Ele estava mesmo falando de mim ou do meu pai? Da minha mãe...Eu não era assim, nunca me pareceu ser pecado priorizar o que tinha que ser priorizado. Homens vinham e iam, trabalho não, se eu quisesse ter filhos, meu trabalho poderia proporcionar isso com inseminação artificial e ficaria tudo bem.

Muitas mulheres optavam por isso e não parecia haver obstáculos. Eu poderia ter minha família sem um homem em questão.

Movida a minha revolta, foi algo que decidi no calor do momento, me odiando por ter ido atrás de John, me colocado naquela situação onde pareceu que estava apenas querendo afogar minha carência. E ele, se sentiu no direito total de deixar claro que não tínhamos volta e que ainda por cima fui tóxica na vida dele.

Me negava a admitir que fui tóxica, pensava que tínhamos os mesmos pensamentos e objetivos, que nossos trabalhos eram importantes. Mesmo ele trabalhando para meu pai como engenheiro e parecendo mais com uma cadela atrás dele, sempre o bajulando com melhorias em projetos e ideias revolucionárias que não fazia questão de ouvir, pois sabia que era pura chatice, assim como a função dele em geral no tabuleiro de xadrez do meu pai.

Meu pai nunca aprovou nossa relação, mesmo John sendo um de seus funcionários mais competentes, dentro da lista dos competentes. Toda vez que havia uma chance, ele ressaltava de forma sutil que John não era o homem adequado para mim e que nunca me amaria como eu deveria ser amada. Claro, que no começo achei que ele só falava este tipo de coisa, para pegar no meu pé, tentar decidir minha vida por mim, mas meio que no final do relacionamento percebi que eu e John estávamos em uma via de mão dupla.

Nossos trabalhos no separam.

Sentada no sofá com um pote de sorvete foi á essa conclusão que cheguei e a única coisa que pude fazer, foi lamentar por agora ser taxada de tóxica e por John ter perdido seu emprego dos sonhos pouco tão depois.

Sempre gostei de assistir comédias românticas, por poder conseguir certas inspirações, mas naquela noite, odiei o filme que estava passava e os que estavam no catálogo. Por que tudo na vida tinha haver com o amor?! Seria mais fácil se outros sentimentos fossem tão relevantes, como o amor. O ódio poderia ser um deles.

Me adiantei e procurei um filme de terror, ciente que os casais em filmes de terror nunca ficavam juntos e que sempre a mulher sobrevivia, amaldiçoando o amor enquanto fazia isso, lembrando que naquele momento a noiva que se casaria no dia seguinte e que teria um dia relaxante, deveria estar pensando em sua vida ao lado de seu futuro marido e que só devia estar visualizando coisas boas, esquecendo completamente o que era viver com um homem e como eram insuportáveis as vezes e que o casamento em si, não era um mar de flores e que poderia ser bem traumático.

Pensar dessa forma diminuiu algo dentro de mim, mas que ainda continuou lá, latejando.

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