Caren aos dezoito anos fugiu de casa para se casar com Roger, o homem que acreditava ser o amor de sua vida. Um ano após seu casamento chegou em casa após o trabalho a encontrando vazia somente com um bilhete escrito com um simples adeus. Seu mundo ruiu, pois trazia no ventre o fruto do amor que acreditava eterno. Roger a havia abandonado para viver seu sonho de ser um rockstar, sem olhar para trás a deixou como um trapo velho. Por dez anos ela trancou o seu coração dentro do peito, vivendo para o filho e sua carreira de professora. Um dia chuvoso, Roger sofre um acidente de carro com sua banda e acaba tendo uma experiência de quase morte que muda seu destino. Após a perda de sua banda, ele decide voltar e reconquistar Caren. Mal sabe ele que o recém-chegado a pequena cidade Tomas, um ex- fuzileiro naval, está disposto a tudo para ter Caren ao seu lado. No meio desta disputa entre o passado e o presente, será que Caren voltará amar?
Roger entrou pela porta da mansão com o coração apertado. Seus passos ecoaram pelo ambiente vazio de vida.
A sala luxuosa que no passado era seu orgulho agora trazia para ele grande desgosto. Sentia o vazio de anos de uma vida desperdiçada em festas, bebidas, drogas e mulheres.
Cada canto daquela casa o lembrava das loucuras cometidas pelo excesso de bebidas e drogas que usava para amortecer a sua consciência culpada. Por mais que tentasse esquecer o passado, ele o consumia a cada segundo, não lhe dando paz.
Sentou no sofá de camurça caro e fitou a grande área da piscina pela porta de vidro. A sua mente voltou para o passado recente e reviu as cenas antes do acidente, como ele e os seus amigos haviam agido de forma imprudente. Lágrimas caíram de seus olhos ao lembrar dos amigos mortos de sua banda.
Virou a cabeça e fitou toda a construção moderna e sentiu um vazio enorme na sua alma.
Com voz embargada pela emoção falou:
_ Tenho tudo que sempre sonhei. Mas estou oco por dentro.
O cansaço rompeu a sua alma que havia vivido anos mergulhados no próprio egoísmo e desejos perversos de um coração distante de Deus. Pela primeira vez em anos o seu coração sentiu o peso do remorso e da sua existência vazia, permeada de escolhas egoístas que lhe roubaram o amor de sua vida.
Olhou para o reflexo refletido na mesa moderna de centro e pensou.
O que adiantou todo o sucesso e todo o dinheiro se a sua vida era vazia?
Pensava ele colocando a cabeça entre as mãos. Cansado, chorou alguns minutos ali sozinho. Num rompante foi até o seu grande bar e jogou todas as garrafas de vidro no chão as fitando com ódio.
O maldito do álcool havia selado o destino daqueles que por muitos anos haviam sido seus amigos de loucura e sua família.
Foi o vício do seu amigo Marcel que causou o grande acidente de carro que vitimou todos os membros da banda, somente ele havia sobrevivido ao choque contra o pesado trem de carga.
Fitava o líquido a escorrer pelo chão. Uma força crescia no seu coração como a luz que espanta as trevas. E decidido mudaria a sua vida. Enfrentando os fantasmas do passado.
Já era hora de agir como um homem, não como o menino que fugia das responsabilidades.
Pensou a sair pela porta de vidro. Seguiu para o luxuoso carro, abrindo a porta, suspirou. Afinal não foi mandado de volta sem motivos. Todos da banda partiram, menos ele, qual seria o motivo de ter o seu tempo prorrogado sobre a Terra? Pensava ele entrando no veículo olhando para o céu e falou:
_ Mandou-me de volta para quê?
Esperava uma resposta para a dúvida que lhe corroía a alma. Sentia-se culpado por sobreviver ao acidente.
Afundou a cabeça contra o volante pensando em como voltaria para sua cidade natal. Um frio percorreu a sua espinha em pensar em encontrar Caren. Como olhar nos olhos daquela que jurou amar e amparar por toda a sua vida?
Lembrava-se dos olhos dela confiante no momento da troca dos votos feitos no altar providenciado com flores silvestres. Lembrou de seu riso de felicidade ao prometer amor por uma vida inteira.
A dor do amor perdido corroeu sua alma novamente, por anos amorteceu aquele sentimento com álcool e drogas. Havia guardado aquele amor no coração a sete chaves.
Eram jovens apaixonados cheios de sonhos e planos para uma vida longa e feliz quando se casaram, mas a realidade dura da vida chegou cedo demais, trazendo ao jovem casal os desafios da falta de dinheiro para pagar as contas no final do mês.
Lembrou do sorriso dela, que mesmo sobre o peso das dívidas não desaparecia de seus lábios
Lembrou de como a jovem destemida trabalhava em dois empregos para fechar o orçamento do mês e como ria das pequenas alegrias do dia, como pagar as contas na data correta e dos pequenos centavos que sobravam no final do mês. De como ela se orgulhava do pequeno apartamento que viviam, sendo para ela o orgulho serem donos daquele pequeno espaço.
Ela era feliz mesmo com a vida dura que levava, privada da convivência familiar por fugir para se casar com ele. Já o seu coração estava insatisfeito com o trabalho pesado na construção civil e as longas horas de dores nos ombros e costas.
Cansado, lembrou do dia que deixou a cidade para seguir o seu sonho motivado pela ameaça do seu sogro Paul, o maior banqueiro do condado, que o ameaçou de executar a hipoteca da fazenda dos seus pais.
Com muita dor no coração deixou a esposa após um acordo com o velho que livrou a sua família da dívida e forneceu-lhe recursos para promoção da carreira em troca da felicidade da filha. Alegava o velho que nunca havia concordado com a ideia de ver a sua única filha ligada com um marginal aos seus olhos. Roger apertou o volante e com dor no coração pensou o quanto estava enganado no passado em pensar que a carreira na música era maior que tudo, esse foi o seu grande pecado, trocar o amor por dinheiro. Jurou que retornaria assim que tivesse dinheiro suficiente para enfrentar o sogro. Que via nele um grande ameaça no futuro brilhante que havia traçado para filha desde a infância.
Numa noite, tomado pelo remorso e desespero, retornou tendo a notícia que ela havia partido com a sua tia-avó para Califórnia. Ali decidiu não atrapalhar a vida dela. Se afundando nas drogas e bebidas de modo apagar a dor que feria a sua alma e o remorso que queimava no seu peito.
Ao lembrar de tudo que havia se passado desde a noite do acordo macabro, levantou a cabeça, fitou o céu azul e a sua mente chegou a conclusão.
_É isso que quer? Fazer-me arrepender da escolha do passado?
Perguntava ele olhando para céu.
_ Não há nada para mim lá.
Dizia ele batendo a cabeça contra o volante. Mais uma força maior o impelia a voltar para sua cidade.
Cansado de lutar, ligou o veículo e saiu em direção ao seu destino.
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