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No nosso terceiro aniversário de casamento, encontrei noventa e nove cartas de amor que meu marido escreveu.
Nenhuma delas era para mim.
Eram para a Kennedy, a mulher que roubou meu projeto premiado anos atrás, a mulher que ele jurou ter superado.
As cartas dele falavam de uma conexão de alma, uma paixão com a qual eu só podia sonhar.
Então, minha melhor amiga me ligou do aeroporto. Ela o viu lá, com a Kennedy, num abraço digno de filme de Hollywood.
Ele não estava apenas me traindo. Era um golpe de longa data.
Ele se casou comigo para me silenciar, usando meu DNA para ajudar a Kennedy a reivindicar fraudulentamente a herança da poderosa família Olsen — uma herança que era minha por direito.
Ele cancelou meus cartões de crédito, renunciou à cidadania americana e se casou secretamente com ela na França, tudo enquanto eu fazia o papel de esposa amorosa.
Quando tentei revidar, ele me dopou, me aprisionou e quase me afogou, tudo para proteger sua preciosa Kennedy.
Ele achou que tinha me apagado, uma mera nota de rodapé na grande história deles.
Mas ele cometeu um erro fatal.
Ele não sabia que eu era a verdadeira herdeira dos Olsen.
E eu estava voltando para reivindicar tudo o que ele roubou.
Capítulo 1
Ponto de Vista de Aubrey Burris:
As noventa e nove cartas de amor não estavam escondidas em alguma gaveta esquecida.
Elas estavam bem ali.
Empilhadas, organizadas, na mesa de cabeceira do lado do Cadu.
Ao lado da nossa foto de casamento.
Era nosso terceiro aniversário.
O ar do nosso quarto, que sempre foi um santuário, de repente parecia que a porta de um freezer tinha ficado aberta. Um frio que me gelava até os ossos.
Cada envelope era grosso, antigo, selado com cera. Um toque cuidadoso, quase reverente, que fez meu estômago revirar.
Peguei a primeira carta.
Meus dedos tremiam. A caligrafia elegante, tão familiar das primeiras e mais românticas notas que o Cadu me escrevia, agora parecia estranha. Uma língua que, de repente, eu não conseguia mais entender. A primeira linha ficou embaçada.
"Minha queridíssima Kennedy…"
Kennedy.
O nome me atingiu como um soco. Era um nome que me assombrava há anos. Um fantasma na periferia da minha vida. Sempre fora de alcance, mas sempre presente.
A mulher que roubou meu projeto vencedor. Minha chance naquela bolsa de estudos internacional. Anos atrás.
A mulher que o Cadu supostamente já tinha superado há muito tempo.
Eu me atrapalhei com a carta. Rasguei o selo de cera na pressa. O cheiro de papel velho e algo levemente floral subiu. Algo que não era o meu cheiro.
As palavras do Cadu, meticulosamente escritas, jorraram pela página.
Ele escrevia sobre o "brilho inigualável" dela, sua "visão que remodelou o mundo dele" e uma "conexão que desafiava explicações".
Era um contraste gritante com as mensagens funcionais que ele me mandava. Os e-mails curtos.
*Pega a roupa na lavanderia.*
*Jantar às 19h.*
Minha respiração falhou. Ele tinha escrito aquelas palavras com uma paixão que eu só podia sonhar. Uma devoção que parecia uma ferida aberta no meu próprio coração.
Ele descrevia detalhes dos sonhos que compartilhavam. Seus planos para o futuro. Planos que soavam assustadoramente parecidos com os que nós tínhamos discutido. A vida que estávamos construindo.
Minha mente disparou. Tentando conciliar o homem que escrevia essas declarações fervorosas com o marido que me dava um beijo de boa noite. Muitas vezes com um olhar distante.
Meu coração se partiu.
Pedaço por pedaço agonizante. Dissolvendo-se em uma dor fria e oca no meu peito. Cada palavra era um pequeno caco. Penetrando mais fundo. Se contorcendo dentro de mim.
A caligrafia elegante agora parecia sinistra. Um testamento de um amor que nunca foi meu.
Senti uma onda de náusea. Uma sensação vertiginosa de deslocamento. Meu elegante vestido de noiva, pendurado impecável no armário, de repente parecia uma piada cruel. Nosso jantar de aniversário, planejado para um restaurante chique no Itaim, tinha gosto de cinzas na minha boca antes mesmo de eu sair de casa.
Isso não era apenas um caso clandestino. Era um amor tão profundo. Tão gravado em seu ser. Parecia um insulto à minha própria existência.
Ele estava descrevendo meu marido. O homem que eu amava. Para outra mulher.
Ele falava dela como sua musa, seu destino.
"Você é a arquitetura da minha alma, Kennedy", dizia uma linha. "Cada estrutura que construo, cada sonho que persigo, começa e termina com você."
A ironia amarga foi um soco no estômago.
Eu era especialista em tradução arquitetônica. Traduzindo as visões dos outros em plantas tangíveis. E aqui estava eu. Traduzindo a realidade do meu próprio casamento em ruínas. Palavra por palavra agonizante.
Era tudo uma mentira cruel e elaborada.
A raiva fervia sob a superfície do meu desespero. Como ele pôde? Como nós pudemos?
Meu celular vibrou na mesa de cabeceira. Uma intrusão chocante no meu inferno particular.
Era a Joana. Minha melhor amiga.
Respirei fundo, trêmula. Tentando me recompor. A Joana não tinha filtro. Mas era ferozmente leal. Ela não mediria palavras se eu contasse. Mas eu não conseguia falar.
"Aubrey? Feliz aniversário, amiga!" A voz da Joana, geralmente uma explosão de energia, soava tensa. "Escuta, eu acabei de ver uma coisa. Eu… acho que você precisa ver isso."
Houve uma pausa. Uma incerteza hesitante em seu tom que era rara para a Joana.
"O que foi, Joana? Eu… não posso falar agora", consegui dizer. Minha voz fina e fraca.
"Não, você tem que ver. É o Cadu. No aeroporto." Sua voz baixou para um sussurro conspiratório. "Ele está abraçando a Kennedy. Tipo, um abraço de cinema, daqueles de tirar o fôlego. Ela acabou de desembarcar."
O sangue sumiu do meu rosto. Minha mão apertou a carta. Parecia que o universo estava conspirando para aprofundar a facada.
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