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A chuva parecia ter escolhido exatamente aquele dia para cair com uma fúria melancólica, como se o céu lamentasse o retorno do Conde de Ravenshire tanto quanto os criados que aguardavam, enfileirados sob a marquise da propriedade. As gárgulas de pedra vertiam lágrimas do telhado, e os vitrais vibravam com o trovão distante.
O coche preto deslizou pelos portões de ferro fundido, rangendo como se também protestassem contra a chegada. Dentro dele, o homem que há anos abandonara seu título olhava pela vidraça em silêncio, os olhos cinzentos fixos na silhueta do que um dia fora seu lar - e que agora mais parecia uma sepultura de lembranças.
Edward Alexander Blackwell, o nono Conde de Ravenshire, retornava após uma ausência de sete anos. O escândalo que o fizera partir fora abafado pelos boatos e pela distância, mas as cicatrizes permaneciam abertas em sua alma - e, ao que tudo indicava, também na mansão que parecia ter parado no tempo desde sua partida.
Assim que o coche parou, o lacaio abriu a porta. Edward desceu com um passo firme, mas seus olhos percorreram o saguão com a hesitação de quem retorna não por desejo, mas por obrigação. O cheiro de madeira envelhecida e rosas secas o atingiu com força. Nada havia mudado, exceto ele.
- Milorde - disse o mordomo, inclinando-se com a precisão de décadas de serviço. - Seja bem-vindo de volta a Ravenshire.
Edward apenas assentiu. Estava cansado, molhado e, acima de tudo, incomodado com a ideia de estar de volta àquele lugar. O testamento de seu pai havia sido claro: ele deveria retornar, assumir suas responsabilidades, ou a linhagem dos Blackwell se extinguiria por negligência.
E havia Eleanor.
Mas dela ele não se permitia lembrar. Ainda não.
Subiu as escadas pesadas, ignorando os criados que o seguiam com o olhar. A biblioteca o esperava como um velho amigo calado. Empurrou as portas com ambas as mãos, e o cheiro de pergaminhos e couro invadiu seus sentidos. A lareira estava acesa, como se alguém soubesse que ele iria direto para lá.
E, de fato, alguém sabia.
- Milorde. - A voz suave cortou o silêncio com uma elegância que apenas mulheres extremamente bem treinadas - ou perigosamente inteligentes - sabiam usar.
Ele se virou, o coração traidor acelerando por um instante.
Eleanor Ashford estava encostada em uma estante, trajando um vestido azul escuro, de mangas longas, com detalhes em renda preta. Seu cabelo castanho, preso em um coque frouxo, deixava fios rebeldes caírem sobre o rosto. Ela não sorriu. Não o cumprimentou. Apenas o olhou como se sete anos não tivessem passado.
- Lady Eleanor - disse ele, formal, erguendo levemente o queixo.
- Ainda é "Lady" mesmo depois de tudo? - ela replicou, sem alterar o tom.
Edward a observou em silêncio por longos segundos. Em sua ausência, Eleanor crescera, deixara de ser a jovem impulsiva que escrevia cartas ácidas e agora era uma mulher... perigosa. Não no sentido literal, mas no emocional. Sua presença o desarmava.
- Soube que publicaste um livro - ele comentou, andando até a lareira. - Um romance, não é?
- Com um conde canalha e uma jovem ingênua, sim. Inspirado em fatos reais, imagino que dirás. - Ela cruzou os braços. - Mas creio que vieste por outro motivo, milorde.
Ele serviu-se de um brandy e virou metade do líquido de uma vez.
- Meu pai está morto, Eleanor. Deixou ordens. Terras, dívidas, propriedades, contratos...
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