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Amélia Duarte
Um dia depois de eu ter ido embora, eu chorei, chorei muito, como no dia em que tudo acabou.
Foram cinco anos, mas não penso que tenham sido cinco anos jogados no lixo, não. Pelo contrário - foram cinco anos de aprendizado, de amadurecimento, de uma história bonita vivida, mas que precisava acabar antes que saíssemos ainda mais magoados.
É difícil encerrar um relacionamento de tantos anos quando ainda há amor, mas é gratificante saber a hora de ir embora. A hora de se curar, de ser podada para, no fim, quem sabe, florescer.
O amor tudo suporta, tudo crê, mas o amor não é só dor. Aprendemos que devemos amar o próximo, mas como vamos amar alguém se nem sabemos o que é nos amar?
Às vezes pensamos demais nos outros, ajudamos demais os outros e esquecemos o principal: nós mesmos.
E eu estava precisando desse tempo. Pra mim. Pra me cuidar. Pra... largar essa dependência emocional dele.
Sim, é difícil de assumir, mas essa relação se tornou uma dependência emocional fortíssima.
Por tudo.
Por ter sido abandonada pelos meus pais biológicos.
Por ter perdido meus pais adotivos.
Por ter perdido o meu...
(enfim...)
Por causa de tantas perdas, minha vida se tornou um caos, regada a dependências, ao medo de ficar sozinha, ao medo de não ter ninguém.
Mas eu esqueci que tinha a mim.
Que tenho amigos verdadeiros.
E que, no meio do caos, há quem me ame exatamente como eu sou: imperfeita, tentando juntar meus caquinhos.
E nesse vasto mundo, há uma Amélia que precisa se encontrar e se amar novamente.
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A chuva caía lá fora, fina e constante, enquanto eu encarava a xícara de café frio sobre a mesa da cozinha da Clara. A casa estava em silêncio, exceto pelo som ritmado das gotas no telhado. Eu me sentia pequena ali - não pela casa, mas pela sensação de vazio que me abraçava desde que fechei a porta e fui embora.
Meu celular vibrou pela quarta vez naquela manhã. O nome dele piscava na tela.
"Caio".
Eu respirei fundo.
Não atendi.
A dor ainda estava muito viva pra que eu conseguisse ouvir aquela voz de novo.
- Ele ainda tá ligando? - a voz de Rebeca soou suave, atrás de mim. Ela entrou devagar, com aquele olhar calmo que sempre parecia entender mais do que eu dizia.
Assenti, sem coragem de olhar pra ela.
- Tá. - foi tudo o que consegui dizer.
Ela se aproximou, colocou as mãos no encosto da cadeira e se inclinou um pouco, me observando com carinho. - E você? Como tá, de verdade?
Minha garganta fechou.
De repente, todo o controle que eu vinha tentando manter desabou.
As lágrimas que eu vinha segurando desde a noite anterior escaparam silenciosas.
Rebeca puxou a cadeira e sentou ao meu lado, sem dizer nada. Apenas estendeu o braço e me abraçou. Um abraço longo, que parecia segurar tudo que eu não conseguia mais carregar.
- Eu... - minha voz falhou - eu achei que fosse mais forte, sabe? Que eu conseguiria só... seguir.
- Você é forte, Amélia. - ela respondeu baixo, sem soltar o abraço. - Só que até as pessoas fortes choram.
Balancei a cabeça, enxugando as lágrimas com o dorso da mão.
- Eu não queria que tivesse acabado. Mas também não queria continuar daquele jeito. Ele me fazia sentir... pequena.
- Eu sei. - Rebeca respirou fundo. - Às vezes, a gente se acostuma tanto com o pouco que esquece o quanto merece o muito.
As palavras dela me atravessaram.
Fiquei em silêncio por um tempo, olhando pro nada, tentando processar o vazio e o alívio que brigavam dentro de mim.
- Foram cinco anos, Bec. - falei, com a voz trêmula. - Eu planejei tudo com ele. A casa, a família... até o nome dos filhos, acredita? - sorri sem humor. - E agora... não sobrou nada.
- Sobrou você. - ela disse com firmeza. - E isso é mais do que o suficiente.
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