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Kesie Ferraz
Quando entro na editora a primeira imagem que vejo é a de minha irmã, Elizabeth, ela está com sua pasta em mãos conversando com Michele, nossa secretária. Usa um terno amarelo com uma blusa de seda por baixo, azul marinho, que se destaca em sua pele negra e seu cabelo curto liso.
— Michele, está tudo pronto para a reunião? — ouço ela perguntar enquanto sigo para minha sala.
Cumprimento às duas e sigo direto, tenho a impressão de que Michele tentou me dizer algo, mas já estou entrando e não lhe ouço, quando penso em voltar para lhe dar atenção fico em estado de choque ao ver o botão de rosa amarela em cima da minha mesa. Meu coração se acelera nos batimentos, sinto que começo a suar frio. Caminho em passos lentos até chegar onde a flor está, ainda trêmula a pego, levo até minhas narinas desejo cheirar mas minhas memórias me invadem trazendo dor, eu sei que foi de Maicon, mas depois de tanto tempo...?
Um acesso de fúria me invade e começo a despedaçar a flor em mil pedaços, descarregando toda minha ira no delicado e inocente botão.
Noto que minha irmã está parada bem a porta me observando, ao olhar o que restou da rosa em minhas mãos e a minha expressão de desespero, coloca suas coisas na mesa e logo vem e me abraça.
Então desabo.
— Aquele, desgraçado! — Ela resmunga afagando meus cabelos.
Há seis meses eu não tinha notícias dele, Maicon estava em uma viagem para o Japão. Nosso último encontro não havia terminado muito bem, pelo menos pra mim. E depois de tudo que ele me fez, pensei que havíamos colocado um fim em nosso relacionamento naquele dia infernal. Um encontro marcado por dor, abuso e violência da qual não pretendo me lembrar.
Me recomponho precisando ser forte, afinal, ainda tenho uma reunião importante. Limpo o rosto com as costas das mãos e respiro fundo.
— Se você não estiver se sentindo bem, eu posso fazer a reunião sozinha. — Beth tenta me ajudar.
Minha irmã é uma pessoa maravilhosa, sempre prestando seu apoio. Mas sei que posso fazer o meu trabalho. Não vou deixar aquele canalha destruir meu dia.
— Não precisa, obrigada. Estou bem melhor.
Minha irmã suspira preocupada, posso ver isso em seus olhos.
— Kesie, você precisa denunciar esse canalha!
Bufo. Já tivemos esse diálogo mil vezes. Beth acredita que eu ainda amo aquele patife e por isso não o denuncio. Mas na verdade eu conheço bem Maicon, sei como ele é perigoso. Tenho medo que tente algo conosco, mas não falo sobre suas ameaças, então ela não consegue me compreender e vive me confrontando com essas questões.
Tento fugir do assunto conferindo meu relógio, vejo que estamos dentro do horário para reunião. Felizmente Michele surge na porta, noto que ela também fica surpresa ao ver a flor despedaçada, porém tenta disfarçar.
— Meninas, estão todos na sala de reuniões, só faltam vocês — fala pausadamente sem tirar os olhos das pétalas no chão curiosa.
— Estamos indo. — Olho pra Beth e me viro para porta de saída — Vamos! — não olho pra trás, lhe ignoro, deixando bem claro que não quero mais tocar nesse assunto.
Ainda sinto um nó na garganta imaginando que Maicon possa estar por perto, porém me esforço ao máximo, temos muito serviço por hoje.
Me sento em minha cadeira predileta na sala de reuniões, como socia da editora tenho meus privilégios, cumprimento Denis e Meg são nossos editores de aquisição. São eles quem recebem a maioria dos originais que chegam além de saírem por aí em busca de alguns talentos.
Estou me servindo de um café enquanto eles ainda organizam o material. Sinto meu telefone vibrar no bolso do meu jeans, dou uma olhada rápida enquanto saboreio essa bebida dos deuses que amo, café é vida!
Mensagem on
“Quando sentires a falta constante de alguém... Em um raio de sol sentir um toque de alguém...Na brisa leve sentir o suspiro de alguém... Você é portador de um vírus! O amor.”
No primeiro momento fico muito curiosa pra descobrir quem estava por trás desta mensagem. Certamente alguém que sabe da minha paixão pelos textos de William Shakespeare. Na sequência recebo outra mensagem. Estou tentando disfarçar minha distração.
"Sinto tanto a sua falta."
Começo a supor de quem se trata.
Todo prazer proporcionado por minha bebida favorita se vai. Estremeço completamente ainda em meu acento. É incrível como ele consegue causar essas sensações em mim, em outros tempo eu estaria ansiosa a sua espera feito uma boba apaixonada, Maicon já me fez de idiota por muito tempo, mas felizmente eu acordei a tempo de perceber o que vivia num relacionamento abusivo e que não merecia viver assim.
Respiro fundo ao receber a terceira mensagem:
"Gostou da flor que te mandei, afinal rosas amarelas são suas prediletas? Kesie, preciso ver você. Quando vamos nos encontrar?"
Tento disfarçar meu desconforto, mas Beth está me olhando, ela deve ter notado, minha irmã é muito esperta.
Desligo meu aparelho de celular e jogo na mesa de forma brusca. Nesse momento toda atenção se volta pra mim.
— Vamos começar? — falo com a respiração alterada.
Ainda disfarço sobre todos os olhares curiosos, o pessoal da editora sabe que eu não sou assim, distraída, ao contrário sou sempre muito focada.
Denis é o primeiro a falar, ainda receoso com a meu comportamento:
— Posso apresentar primeiro?
Aceno com um gesto de cabeça e tento não olhar pra Beth ela está me encarando como se lesse meus pensamentos.
— Então, Kesie, eu trouxe os gráficos de vendas das nossas obras de sucesso. Como já esperávamos… — ele clica no botão do controle e a imagem de um dos livros surge na tela.
Então, iniciamos uma longa discussão sobre, venda, metas e todas essas questões. Confesso que não consigo me concentrar, as mensagens me atormentam de todas as formas. É neste momento que me sinto satisfeita com minha equipe, eles são bem eficientes.
Estou ainda me esforçando para não parecer distante. Faço alguns comentários e confesso sobre o tanto que gostei do material trouxeram. Resolvemos fazer uma pausa após uma hora de reunião. Enquanto a equipe se levanta eu ainda respiro e inspiro várias vezes me decidindo se ligo meu aparelho de celular ou não.
Beth se aproxima.
Ela me deixa mais tensa do que estou.
— Está tudo bem? — pergunta desconfiada.
Não consigo lhe responder, estou tão tensa que meu estômago embrulha.
— Me desculpe, mas preciso ir ao banheiro — falo me levantando.
É nítido que minha irmã deseja me seguir, no entanto Elizabeth é impedida pela moça do financeiro que acaba de entrar na sala.
Rapidamente chego ao banheiro quase sem fôlego, no trajeto me encorajo e ligo o celular. Ao entrar, apoio as mãos na bancada da pia e respiro fundo. O enjoo passa.
Olho no espelho minha imagem. Mesmo depois que abandonei minha carreira como modelo não larguei o hábito de me maquiar, nesta manhã escolhi uma sombra mais leve que se destacou em minha pele negra. Meus cabelos, sempre estão diferentes, gosto de mudanças, hoje escolhi usá-los mais liso, para esse efeito usei uma chapinha.
Meu telefone toca, o número não está salvo. Tenho a impressão de que se trata do mesmo número das mensagens. A raiva me invade, preciso acabar com isso e vai ser agora!
Atendo.
Mas há um silêncio do outro lado. Quase consigo ouvir o som do meu coração batendo de uma forma agonizante. E do outro lado não me respondem.
Me manifesto endurecida:
Ligação On
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