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“ALVAIADE”
Dos meus primeiros dez anos nada mais resta
Nem mesmo meus pobres brinquedos de um longínquo natal.
E agora tudo soa como uma doce canção de antigamente
Quando todos cantavam a liberdade que eu não entendia
Mas meus pais sabiam escutar.
Os tênis brancos tingidos de alvaiade*
A se misturarem ao pó das ruas mágicas
De uma infância a desfilar lembranças
Num distante e feliz grupo escolar.
...
Ao longe um canto de pássaros
E o entorno de um córrego de águas claras
Sugeriam delícias de um sonho que ora reluta em ficar
Enquanto o tempo que passa não apaga do coração
Os meus primeiros dez anos no meu torrão natal.
A LAGOA ENCANTADA
Na escola era um comentário só: a lagoa! Todo mundo sonhava em conhecer aquela imensidão de água, atapetada por verdejante gramínea e ornada pelos arbustos que a rodeavam. Era um recanto paradisíaco e proibido e, por isso nos atraía tanto. Somente os familiares e amigos do proprietário podiam ter acesso àquela maravilha. Mas, para nós, moleques, que éramos conquistadores do impossível, aquela lagoa sempre constituía um desafio a ser vencido, e era o que fazíamos nos dias comuns, quando lá não se encontrava ninguém.
Distava-se uns poucos quilômetros da cidade e existia um caminho delicioso que nos levava até lá, uma trilha no meio da mata, sempre úmida e refrescante onde íamos, alegres e contentes, a catar frutos que a mãe-natureza carinhosamente nos oferecia: pitangas rasteiras - grandes, saborosas -, muricis, gabirobas, bacuparis, marmelos e outras delícias. Volta e meia, parávamos para descansar debaixo de um pequizeiro, que generosamente, além da sombra, nos oferecia seu fruto amarelo, cuja polpa, devia ser mordida com cuidado, por causa dos traiçoeiros espinhos de que era constituída a sua semente.
E assim, após um delicioso descanso, seguíamos caminho, ora balançando num cipó, revivendo peripécias do Tarzan das matinês, ora imitando “Durango Kid”, ou outro dos muitos heróis que povoavam o nosso mundo dourado.
E lá estava ela! Uma imensidão azulada, cercada por belas árvores e verdejantes e floridos arbustos. Que paraíso! Era coisa de cinema e em cores, coisa que o cinema não tinha, porque os filmes eram em preto e branco, e a gente tinha que imaginar a cor. Mas o colorido daquela maravilha era real e estava à nossa frente, ao nosso dispor, a nosso bel-prazer!
Em silêncio, para não despertar atenção e para não dar sinal de nossa presença, mas com a felicidade a pulsar no coração e na alma, livrávamos de nossas roupas e entrávamos naquela água límpida, cristalina e deliciosa.
Era uma delícia deitar, ainda no raso, e sentir a suavidade do tapete aveludado que cobria todo o solo, e a tepidez da sua água, que jorrava de uma mina localizada bem no centro desta maravilha natural.
E era assim sempre. A lagoa era a nossa alegria e o nosso sonho encantado de menino. Até que um dia...
CHEIRO DE AVIÃO
Sempre fui louco por aviões. Desde a mais tenra idade. Na minha pequena cidade, raramente se via passar um avião. Quando acontecia de ver um a voar no mais alto dos céus ficava imaginando maravilhas.
Ainda hoje, que minhas lembranças me visitam, sinto o cheiro daquele tempo quando encontrava latas com restos de óleo de veículos, que acreditava terem caído do avião. “Que pensava o menino naquele tempo? Por que o seu amor e encantamento por aviões, se nunca tivera visto de perto ao menos um? Será que as nuvens a vagar no céu seriam para o avião um piso de algodão? Como seria lá em cima, bem mais perto de Deus?”. Respostas que o tempo aos poucos foi me trazendo, e desde então, quando meus olhos se fixam em algo abstrato, longínquo, permanece a certeza do meu amor incondicional a esse pássaro de aço a transportar sonhos e alegrias.
MEMÓRIAS DE UMA VIDA DE ONTEM
Aos cinco anos ensaiava uma febre e caía na cama. Esperava assim, que com a doença, sua querida mãe fizesse para ele uma sopa de batatas. Como era bom!
Nas manhãzinhas, levantava as cobertas como se fossem lonas de circo. Assim, sonhava estar no picadeiro, ora sendo um intrépido trapezista, um equilibrista ou um misterioso mágico, com sua caixa giratória. Tudo era motivo para sonhar.
No quintal, era o fundador de cidades. Ao redor de um enorme formigueiro construía uma para que as formigas pudessem desfrutar as belezas de uma vida social organizada. Ao mesmo tempo, as observava na sua lida de todos os dias. No jardim da mãe, no lado direito da casa, bem à oeste, fazia experimentos nos troncos macios das dálias, aplicando-lhes injeções de poções de barro, com alguma mistura de outras substâncias que inventava. Com uma latinha de massa de tomates vazia, fabricava um microfone e assim podia ser um cantor ou um astronauta corajoso a conversar com marcianos e seres lunares. Tudo, no fim, era motivo para alimentar os sonhos.
Adorava o mês de setembro, quando depois de uma chuva, com os irmãos fazia covas no terreno do quintal, para depois colocar em cada uma, cinco grãos de milho. Era um tempo mágico, cuja apoteose ora se resumia no canto das cigarras, às tardezinhas, ora no aroma das bonecas do milho empendoado, nas manhãs de dezembro.
Nas viagens que fazia com a família, para o Estado do Paraná, sonhava com um amor distante, que às vezes poderia estar no outro carro que cruzava ou naquele que ia à frente. Outras vezes, poderiam se encontrar nas várias balsas de travessia de rios que havia no caminho. E assim sonhava, sonhos dourados que se transformavam em outras cores, enquanto durassem aqueles momentos de doce ternura.
Não se sabe quanto mais viveria. Seria apenas pelas lembranças que há nos sonhos. Enquanto as tivesse, ele permaneceria vivo.
NO TEMPO DAS JARDINEIRAS
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