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Aqui se inicia a história de um cara chamado Castellari que não encontrou seu lugar entre os vivos, então ele foi viver com os mortos.
Para ele, a morte não era grande coisa, os mortos o assustavam menos do que os vivos.
Então, quando ele teve a oportunidade de trabalhar em um antigo cemitério, onde ele só precisaria limpar algumas sepulturas e puxar ervas daninhas, ele não hesitou.
Ele se inscreveu e foi contratado, porque ninguém queria o emprego. O recrutador nem se incomodou para entrevistá-lo.
Ele o conheceu diretamente em frente ao estacionamento da cidade, onde o levaria ao cemitério.
Castellari, como qualquer pessoa ansiosa, chegou cedo. Muito cedo para a consulta.
Depois de visitar o recanto da paz, um mercadinho para aprimorar velórios no centro da cidade, ele se sentou perto do estacionamento.
Castellari tinha dezenove anos, cabelos pretos, olhos claros, alto e, por incrível que possa contar, era esbelto. Ele tinha uma beleza discreta.
Seus olhos não tinham o brilho que qualquer pessoa da sua idade deveria ter.
Ele tinha a aparência de um homem que carrega um luto que não tem nome nem rosto.
Nada é mais doloroso do que sofrer sem saber o porquê.
Quando o recrutador finalmente apareceu, tarde, ele estava em um carro velho que provavelmente costumava ser vermelho, mas agora parecia mais uma laranja enferrujada.
— Coloque suas coisas no porta-malas e entre – disse o recrutador, um senhor de idade. Na verdade, com uma idade bastante avançada, semelhante a idade do carro que o trouxe até o centro da cidade.
Depois de entrar no carro, houve 15 minutos intermináveis de silêncio.
E, finalmente, o velho limpou a garganta como se anunciasse a chegada dolorosa de uma frase.
— É um trabalho fácil, você terá que cuidar do cemitério, limpar, receber os raros visitantes e certifique-se de manter tudo em ordem. Você será pago e terá um lugar para ficar. A única desvantagem é que está um pouco longe de tudo, mas você se acostumará.
— Ok, está ótimo – disse Castellari, timidamente.
Depois de mais alguns minutos, o carro finalmente parou no topo de uma colina, em um platô bastante amplo, em frente a um pequeno casarão.
O casarão era um antigo remanescente de uma guerra esquecida.
Agora era um cemitério que acolheu os restos mortais de pessoas mortas há muito tempo para qualquer um lamentá-los.
Os muros de 3 metros de altura, que originalmente ofereciam proteção, tornaram-se uma barreira que separa os vivos dos mortos.
— Vamos lá, eu vou te mostrar o lugar. Então, aqui estão os portões, a chave para abri-los é a grande, um pouco enferrujada, mas ainda funciona – falava o ancião.
A abertura dos portões divulgou o som de uma orquestra de parafusos corroídos.
Tudo fora do cemitério parecia velho, mas de alguma forma, o interior conseguiu parecer ainda mais caótico e deteriorado.
Muitas sepulturas não tinham lápides, em muitos pontos a única indicação de que alguém era enterrado havia uma pilha de terra movida.
Muita erva havia crescido por toda parte, as paredes precisavam de limpeza e os túmulos precisavam de cuidado e um pouco de amor, mas mesmo com tudo isso, o cenário conseguiu ter algum charme.
— Venha aqui, este é o lugar onde você ficará.
O velho abriu a porta de uma pequena casa logo dentro do cemitério que poderia facilmente ser confundida com um mausoléu.
— O último inquilino se aposentou há alguns meses. Ele deixou algumas coisas, fique à vontade para escolher o que você gostar, quanto ao que sobrar pode jogar fora.
— Ok. Apesar de ser um quarto pequeno, será é legal morar em um lugar tão perto dos túmulos, é como… 5 metros de distância de cadáveres – falou Castellari.
O velho olhou para ele com os olhos cansados.
— Sou recrutador há muito tempo e jamais vi essa empolgação no rosto de um trabalhador, ainda mais de cemitério. Bom, se você realmente gosta, pode ficar o tempo que acha necessário.
— Obrigado. Ter aceitado essa oportunidade será bom o suficiente para mim.
A visita foi retomada, o velho mostrou quase tudo o que havia para ver.
Os túmulos mais antigos de famílias ricas que não recebem nenhuma visita de seus ricos descendentes.
O lugar onde nenhuma planta pode crescer e onde todas as flores morrem rapidamente.
O lugar, nos arredores do cemitério, onde as pessoas da cidade decidiram jogar lixo.
Ele não visitou o cemitério inteiro, mas no final do passeio, Castellari tinha uma boa ideia de o que esperar.
Antes de deixá-lo em paz, o recrutador deu uma última indicação, que parecia ser a mais importante de tudo: — Aqui estão as chaves, expliquei tudo, mas se você tiver alguma dúvida, tente encontrar a solução por si mesmo. Sou um homem ocupado e não é o único lugar de onde estou encarregado. Ok?
O velho, após dizer adeus, voltou para o carro e foi embora.
A visita não foi demorada e houve poucas explicações, contudo, Castellari estava ciente de duas coisas: não há se quer uma única alma viva por quilômetros; e o recrutador e a cidade que o paga não querem ouvir falar deste cemitério.
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