Login to Lera
icon 0
icon Loja
rightIcon
icon Histórico
rightIcon
icon Sair
rightIcon
icon Baixar App
rightIcon
5.0
Comentário(s)
5.7K
Leituras
10
Capítulo

Ana é uma jovem estudante, apaixonada por música, porém com uma história cheia de traumas que assombram seus relacionamentos amorosos. Decidida em focar na sua carreira na música, Ana não tem tempo para viver um romance, até que Eduardo aparece no seu caminho, precisando de ajuda para se livrar de uma reprovação e garantir sua vaga na faculdade. Depois de muito relutar, Ana não vê outra escapatória a não ser ajudar o rapaz, só que o que ela não esperava é que isso fosse o início de uma grande amizade, ou de algo a mais. Será que Ana vai finalmente se libertar de seus fantasmas amorosos?

Capítulo 1 1

(Ana)

Ele nem sabe que eu existo.

Pela milésima vez em quinze minutos, dou uma olhadinha na direção de Eduardo Marques, e ele é tão bonito que minha garganta quase se fecha. Talvez eu devesse pensar em outro adjetivo — meus amigos dizem que homem não gosta de ser chamado de “bonito”.

Mas, minha nossa, não tem outro jeito de descrever as feições fortes e os olhos castanhos daquele homem. Hoje ele está de usando um boné marrom, mas sei exatamente o que se esconde por baixo: seus cabelos escuros e grossos, o tipo que parece sedoso ao toque e que dá vontade de passar os dedos entre os fios.

Nos últimos três anos desde o estupro, meu coração só disparou por dois caras.

O primeiro me largou.

E este simplesmente ignora a minha presença.

Na sala de aula, a professora Tatiana está no meio do que passei a chamar de Aula da decepção. É o terceiro em seis semanas.

Adivinhe como foram as notas? Setenta por cento da turma tirou seis ou menos na primeira prova.

Eu? Nota máxima. E estaria mentindo se dissesse que o dez circulado à caneta no alto da prova não foi uma surpresa completa. Apenas despejei uma sequência infinita de baboseiras para tentar encher as folhas.

Ética filosófica deveria ser moleza. O antigo professor da matéria aplicava uns testes ridículos de múltipla escolha e uma “prova” final que consistia em uma redação propondo um dilema moral e questionando como você reagiria a ele.

Mas, duas semanas antes do início desse semestre, o professor Lucas morreu de um derrame cerebral. Ouvi dizer que a moça que fazia a faxina na casa dele o encontrou no chão do banheiro — pelado. Pobre professor.

Por sorte (isso mesmo, estou sendo sarcástica),Tatiana assumiu a turma de Lucas. Ela é nova na escola e é do tipo que espera que você faça conexões e “se envolva” com a matéria. Se isso fosse um filme, sem dúvidas ela seria a jovem professora ambiciosa que vai parar numa escola do centro da cidade e inspira os alunos rebeldes até que, de repente sobem os créditos e você descobre que todos entraram para um boa faculdade ou coisa parecida. Resumindo, todos deram um rumo na sua vida. Oscar garantido.

Só que isso não é um filme, portanto, a única coisa que Tatiana inspirou nos alunos foi ódio. E de fato ela parece não entender por que ninguém se sai bem na sua aula.

Quer uma dica? É porque ela faz o tipo de pergunta que poderia gerar uma tese de pós-graduação.

“Estou disposta a oferecer uma segunda chamada para todo mundo que não passou ou que tirou cinco ou menos.” Tatiana torce o nariz como se fosse incapaz de compreender a necessidade disso.

A palavra que acabou de usar… disposta? Pois é. Ouvi dizer que muitos alunos reclamaram com os orientadores a respeito dela, e desconfio que o departamento a tenha obrigado a preparar outra prova. Não pega bem para a escola ter mais de metade dos alunos de uma turma reprovados na matéria, principalmente porque não são só os preguiçosos. Gente que só tira dez, como Nathália, que já estava chorosa aqui do meu lado, também se deu mal na prova.

“Para quem quiser fazer a segunda chamada, a nota final vai ser uma média das duas. Quem se sair pior na segunda, fica só com a primeira nota”, conclui Tatiana. “Não acredito que você tirou dez”, sussurra Nathália para mim.

Parece tão chateada que sinto uma pontada de pena. Nathália e eu não somos melhores amigas nem nada parecido, mas nos sentamos uma do lado da outra desde maio, então era de esperar que acabássemos nos conhecendo. Ela está fazendo o preparatório para medicina, e sei que vem de uma família de sucesso que a humilharia em praça pública se descobrisse a nota que tirou.

“Nem eu”, sussurro de volta. “Fala sério. Olha só as minhas respostas. Um monte de baboseira sem sentido.”

“Pensando bem, posso mesmo dar uma olhada?” Parece interessada agora. “Estou curiosa para saber o que a essa mulher considera digno de um dez.” “Vou escanear e passar por e-mail hoje à noite”, prometo.

No instante em que Tatiana nos dispensa, a sala inteira ressoa com ruídos de “Me tira daqui”. Notebooks se fecham, cadernos voltam para dentro de mochilas, os alunos se levantam das cadeiras.

Eduardo Marques se demora perto da porta para falar com alguém, e meu olhar se fecha sobre ele como uma águia. Lindo.

Já falei como ele é bonito?

As palmas das minhas mãos ficam suadas só de admirar seu perfil. Ele acabou de chegar à escola, mas não sei de onde ele foi transferido, e, embora não tenha demorado a se tornar a estrela do time de futebol, não é como os outros atletas da escola. Não desfila pelos jardins da escola com um sorrisinho de quem se acha um milagre da natureza, carregando nos braços uma menina diferente a cada dia. Já o vi rindo e fazendo piada com os amigos do time, mas ele transmite uma aura intensa e inteligente que me faz achar que, no fundo, esconde algo mais. O que me deixa ainda mais desesperada para conhecê-lo.

Atletas não são muito o meu tipo, mas alguma coisa nele me faz agir como idiota.

“Você está dando bandeira de novo.”

A provocação de Nathália me faz corar. Ela já me flagrou babando por Eduardo algumas vezes e é uma das poucas pessoas para quem admiti minha queda por ele. Aline, que mora comigo, também sabe, mas meus outros amigos? Nem pensar. A maior parte deles está fazendo aulas de música ou teatro, então acho que isso faz de nós o grupinho de artistas. Ou talvez de emos. Tirando Aline, que tem um relacionamento desses que vai e volta com garoto mais velho e do time dos metidos, desde o primeiro ano, meus amigos gostam de se divertir às custas da elite de Bragança. Em geral, não participo (prefiro pensar que estou acima do hábito de fazer fofoca dos outros), mas… convenhamos, a maioria dos alunos populares são uns babacas completos.

Continuar lendo

Você deve gostar

Capítulo
Ler agora
Baixar livro