o cemitério das palavras que eu nunca disse

Meu rosto ardia enquanto eu abria os meus olhos lentamente. A fumaça que tomava conta do quarto não me deixava enxergar, entrava em meus pulmões que já respiravam com dificuldade. Foi quando vi minha mãe abrir a porta do meu quarto em desespero me puxando da cama e correndo comigo nos seus braços, lembro bem de como as chamavas consumiam a madeira da escada de como engoliam as paredes e os móveis, tudo dentro da nossa casa era fogo vivo ,fogo, apenas fogo.

A sensação era como estar vendo tudo em câmera lenta, quando sairmos para fora da casa, as luzes do carro da polícia junto com as da ambulância se misturavam e refletiam em nossos rostos. _ aonde está o papai, mamãe? Eu o procurava segurando meu irmão de três anos em meio a multidão que se formou em na nossa rua. _ Saiam, saiam da frente _ gritou um bombeiro. virei rápido não por curiosidade mas para dar o espaço que ele pedia e vi a cena que nunca mais irei esquecer, meu pai estava deitado na maca, e antes que minha mãe tapasse os meus olhos com suas mãos eu pude ver ele dar o seu último suspiro em quanto estendia seu braço para nós. _temos que sair daqui, não se preocupem, eu vou cuidar de vocês. Depois de dizer isso minha mãe nos abraçou e nos levou para a casa da mãe dela sem dizer mais nem uma palavra. Já na casa da minha avó, ela colou meu irmão e eu em um dos quartos, eu queria saber o que havia acontecido, o que havia causado aquele incêndio. olhei para o lado enquanto meu irmão dormia inocentemente, arrumei seu cobertor e decidi descer até a cozinha aonde minha mãe e minha avó estavam conversando, antes meus pés chegassem no último degrau eu pude ouvir a conversa seguida de choros. _ Ele se foi, mamãe, o que será de nós agora? _Você vai ter que ser forte, minha filha, os seus filhos precisam de você, agora mais do que nunca! _Foi ele, o Otávio Vila Real que fez isso com a gente, foi ele que matou meu marido. Desde então esse nome nunca saiu da minha mente, eu passei minha vida inteira até hoje já com dezoito anos de idade alimentado esse ódio, pesquisei tudo sobre a vida dele, todas as notícias que saiam em jornais e na internet, sei tudo sobre sua família. Otavio Vila Real é o dono da maior e melhor faculdade da cidade de são pulo possui dois filhos é viúvo. A esposa morreu quando os filhos ainda eram muito novos. Seus dois filhos são gêmeos, Eliza e Robson Vila Real de dezoito anos, vivem esbanjando a vida luxuosa nas redes sociais, tudo o que eu nunca tive porque o pai deles matou o meu pai. Eles eram amigos e planejavam montar uma empresa juntos meu pai investiu tudo o que tinha, a empresa até funcionou por um tempo mas meu pai descobriu que o Otávio estava sonegando impostos e desviando dinheiro da empresa para uma conta no exterior e quando meu pai decidiu denunciá-lo e acabar com a sociedade entre os dois mas o Otávio deu um jeito de silenciar meu ele. O que causou a minha família uma dor devastadora, depois de dois anos do acontecido minha mãe desenvolveu depressão e ansiedade, ela não aguentou ficar sem meu pai e se foi.

Passamos a ser criados por nossa avó que sempre nos ensinou a seguir o caminho do bem mas ela nunca conseguiu tirar da mim o ódio que eu tenho desse homem.

 _Rafa, vai morar nesse computador agora?

 _Desculpa vó, é que eu tô fazendo a inscrição pra faculdade de São Paulo que te falei, esqueceu?

 _Você ainda tá com essa ideia na cabeça? Aqui no Maranhão tem tando faculdade boa,

 _A senhora sabe que não é só por conta da faculdade_

 _Eu não vou conseguir te convencer ao contrário não né?

 _Não!

 _Pensa bem, Rafa essa gente é muito poderosa, eu não me perdoaria se algo acontecesse com você, pensa no seu irmão. _Eu tô fazendo isso por ele, vó eu tô fazendo isso por por nós.